A semana é de comemoração para o Juventude. Além do aniversário do clube de 106 anos no dia 29 de junho, ela marca também os 20 anos da conquista — a maior da sua história — da Copa do Brasil. No dia 27 de junho de 1999, o time alviverde encerrou a caminhada com o troféu em pleno Maracanã diante do Botafogo e seus mais de 100 mil torcedores.
Ao todo, foram seis vitórias, quatro empates e apenas uma derrota na campanha. Do primeiro jogo contra o modesto Guará, do Distrito Federal, na fase inicial até passar por gigantes do futebol brasileiro como Fluminense, Corinthians, Bahia, Inter e Botafogo.
Leia mais
QUIZ: você sabe tudo sobre a conquista da Copa do Brasil pelo Juventude há 20 anos?
Meio caminho andado: se repetir pontuação do turno, Ju estará nos mata-matas
Depois de eliminar o Colorado na semifinal, o Ju experimentou o fato de unir quase todas as torcidas gaúchas na decisão. Ao menos na festa do título, na volta ao Estado, o time se sentiu abraçado desde a descida no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.
— Descemos em Porto Alegre e fomos homenageados. Foi muito bom e bonito, porque tinha torcedores do Grêmio e do Inter nos aplaudindo. Quando chegamos em Caxias foi maravilhoso, nunca tinha passado por um momento daqueles — relembra o zagueiro Índio, que no ano seguinte foi contratado pelo Palmeiras.
Depois de vencer o Botafogo no jogo de ida da final, no Alfredo Jaconi, por 2 a 1, bastava um empate ao Ju para ficar com o título. Em noite de lotação máxima no Maracanã, o 0 a 0 se manteve até o fim, numa festa que iniciou no Rio, passou por Porto Alegre e terminou em Caxias.
Na decisão contra o Botafogo, o time de Walmir Louruz teve Émerson, Marcos Teixeira, Picoli, Índio e Dênis; Roberto, Lauro (Kiko), Flávio e Mabília (Gil Baiano); Maurílio e Márcio Mexerica (Alcir).
Entrevistas
Émerson - goleiro
1999 - 28 anos / 2019 - 48 anos
Foi bicampeão da Copa do Brasil. Antes de vencer com o Juventude em 1999, conquistou com o Grêmio em 1994.
Qual a principal lembrança da conquista no Maracanã?
A quantidade de público no estádio, com mais de 100 mil pessoas. Isso impactou bastante já na nossa chegada, com duas horas de antecedência. Jogar para um público daquele tamanho não é toda hora. Já tinha participado de alguns jogos assim, mas sempre na reserva, com a seleção sub-20 e o Flamengo, mas jogando foi a primeira vez.
Alguma defesa que te marcou?
Naquela campanha, tive uma participação interessante. Fiz jogos muito bons. Destaco contra o Corinthians, no Pacaembu, contra o Bahia, na Fonte Nova, e a final no Maracanã. Tem várias defesas importantes, mas na decisão contra o Botafogo, aos 40 minutos do segundo tempo, dentro da pequena área, eu tirei com o braço. Ali seria o gol do título deles. Era um momento de pressão total.
Algo que lembre de bastidores?
Quando chegamos no Maracanã e vi aquele público todo, o emocional abalou bastante. Eu comecei a tremer. Em duas horas eu estaria ali dentro com esse público todo, numa final de competição, passando para todo Brasil. Ainda bem que fomos com antecedência para se ambientar. Foi aí que eu desci para o vestiário e fiz um trabalho de meditação para me acalmar e diminuir a ansiedade. Foi impactante a visão do Maracanã cheio.
Marcos Teixeira - lateral-direito
1999 - 28 anos / 2019 - 48 anos
O lateral também conquistou o bicampeonato da competição no Ju. Em 1996, ele venceu com o Cruzeiro.
Qual a principal lembrança da conquista no Maracanã?
A primeira coisa que vem à cabeça é a trajetória em si. Começamos muito bem e crescemos durante a competição em termos de confiança e estratégia. Isso foi acontecendo gradativamente contra adversários difíceis. Quando chegamos no Maracanã, após a vitória em casa por 2 a 1, tínhamos uma consistência grande, confiança e estratégia. Foi muito grande essa conquista pela trajetória e imposição diante de mais de 100 mil pessoas nas arquibancadas.
Alguma história de bastidores?
Eu lembro que tínhamos muitos jogadores engraçados. Gil Baiano e Mario Tilico eram demais. Antes do primeiro jogo da final, no treino, o lateral-esquerdo Dênis recuou cinco bolas com o peito para o goleiro e dissemos para ele não fazer isso no jogo. Não deu outra, no jogo ele fez isso, a bola sobrou pro Beto e gol. No outro dia, nos quase matamos eles.
No Maracanã, antes do jogo, fui no banheiro. Sentei no vaso e tinha uma janelinha. Eu abri ela e dava pra ver a torcida do Botafogo, estava lindo o estádio. Dentro da trajetória, o que marcou foi a intimidade e a união daquele grupo. Essa união deixou a gente muito forte na fase final.
Índio - zagueiro
1999 - 23 anos / 2019 - 43 anos
Em 2000, ano seguinte ao título, foi para o Palmeiras, mas retornou ao Ju em 2005.
Qual a principal lembrança da conquista no Maracanã?
Foram várias, mas uma que me chamou atenção foi que ao final da partida, boa parte da torcida do Botafogo ficou no estádio e nos aplaudia. Isso marcou muito. Então, eu acredito que isso tenha sido demais até hoje eu lembro.
Como foi a volta e a chegada em Caxias do Sul?
Foi fantástico. Nós descemos em Porto Alegre e fomos homenageados. Foi muito bom e bonito, porque tinha torcedores do Grêmio e do Inter nos aplaudindo. Quando chegamos em Caxias foi maravilhoso, nunca tinha passado por um momento daqueles. Nós fomos campeões gaúchos em 98, mas em 99 a chegada em Caxias foi de arrepiar. Realmente, eu vi que o Juventude tinha muitos torcedores e que o Rio Grande do Sul estava torcendo por nós.
Dênis - lateral-esquerdo
1999 - 23 anos / 2019 - 43 anos
O lateral-esquerdo permaneceu no Juventude até o ano de 2002
Qual o momento mais marcante da conquista?
Tem vários. Acho que a semifinal contra o Inter, quando empatamos em casa e todo mundo disse que nós estaríamos fora e que não iríamos vencer no Beira-Rio. Porém, nós fomos lá e ganhamos de 4 a 0. Não só isso, mas jogando muito bem. Isso marcou muito. Também marcou o fato de perdermos para o Fluminense e fazermos seis gols dentro de casa.
Qual foi o momento mais difícil daquele jogo no Maracanã?
Foi um jogo truncado, bem de decisão. Acho que o primeiro tempo foi o momento mais difícil. Não estávamos conseguindo achar nosso jogo para a frente e não estava encaixando. No segundo, conseguimos. Nosso time era experiente, tocava a bola e usava a posse. No segundo tempo, tivemos um sufoco, mas fez parte do contexto.
Algo de bastidores?
Depois do primeiro jogo, nós nos reunimos. Conversamos, falando só do primeiro jogo e nada do segundo. Foi muito bacana, e isso aí nos deixou bem à vontade para a partida do Maracanã. Isso demonstrou a confiança em cada um. Outra coisa de bastidor é que eu concentrava com o Mabilia. Os caras fizeram foguetório na frente do hotel, mas eu não conseguia dormir com aquela ansiedade e adrenalina. Olhei para o lado e o Mabilia acordado. Ficamos até as 6h sem dormir e falando do jogo.
O que você lembra da conquista? Teste seus conhecimentos