Foram anos de glória para o esporte caxiense. Depois de a Enxuta ter feito história no futsal e levar o nome de Caxias do Sul para todo o Brasil, Juventude e Caxias conquistaram seus principais títulos no final da década de 1990 e início dos anos 2000. E o Pioneiro esteve ao lado das equipes contando de perto os bastidores e detalhes de cada uma das conquistas, assim como faz nestes 70 anos de história.
Logicamente, na trajetória dos times e de todas modalidades esportivas, não são contadas apenas as vitórias. É missão dos jornalistas escrever também sobre os momentos difíceis, as derrotas, as quedas e as voltas por cima. Apesar disso, não tenham dúvida: é muito melhor comemorar junto com o torcedor.
As palavras e textos que trazem emoção também significam muito para quem tem o prazer de contar esses momentos. É o caso de Márcio Serafini, que relatou o título do Juventude da Copa do Brasil, em 1999, e de Daniel Angeli, que apresentou o jogo e a festa grená no ano seguinte, no inédito título gaúcho. Confira o depoimento deles a respeito das conquistas da dupla Ca-Ju.
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Transcendendo sonhos
Quem nasceu no interior do Rio Grande do Sul e ousou desafiar a quase impositiva divisão Gre-Nal acalentou, por décadas, um sonho que parecia impossível: ser campeão gaúcho. Tudo começou a mudar quando a Parmalat elevou o Juventude a um novo patamar.
A conquista estadual se materializou em 1998. Nesse embalo, o Juventude ingressou em 1999 sonhando com o bi. Copa do Brasil não era objetivo. Mas quando a bola rolou, uma nova façanha, inimaginável, começou a ser escrita.
Ao levar 3 a 1 do Fluminense no Maracanã, no jogo de ida da segunda fase, o Juventude esteve prestes a ser eliminado. Na volta, com quatro gols de Flávio, impôs ao técnico Carlos Alberto Parreira um vexame inédito em sua carreira: 6 a 0.
O passo seguinte era o Corinthians, então campeão brasileiro. De uma janela no pavilhão social do Jaconi, prestes a descer para o vestiário, o suspenso Evaristo de Macedo proferiu um sonoro palavrão ao ver seu time levar o segundo gol, de Índio, no finalzinho do jogo. A vantagem tornou-se definitiva no Pacaembu com o gol de Márcio, de cabeça. O Juventude despachou o Timão com autoridade.
Teve drama: dois empates em 2 a 2 com o Bahia, dois jogos em que o talismã Mário Tilico entrou e salvou o Juventude com gols nos minutos finais, e classificação nos pênaltis. E teve clássico: o reencontro com o Inter. Depois do 0 a 0 no Jaconi, inacreditáveis 4 a 0 no Beira-Rio levaram o Ju à final da Copa do Brasil.
A festa no Jaconi parecia completa: em 21 minutos, 2 a 0, Fernando e Márcio, sobre o Botafogo. Mas o craque Bebeto descontou. Os cariocas saíam em desvantagem mínima.
O glorioso botou sozinho mais de 100 mil no Maracanã – sem contar os quase 2 mil papos que fizeram o domingo amanhecer verde na praia do Leme, como se estivessem em Curumim, antes de partir em comboio ao estádio.
Não era um título qualquer. No lendário Maracanã, o Ju resistiu, segurou o 0 a 0 e transformou o 27 de junho de 1999 na data mais importante da história do futebol do interior gaúcho. Um segundo Maracanazo. Quem viu pode testemunhar: nunca houve nada igual.
Desde daquele dia, sonho algum há de ter limite. Nem mesmo o de reviver dias mágicos como aqueles.
*Márcio Serafini
A coroação grená
Até hoje ainda não conseguimos ver algo próximo do que presenciamos naquele final da década de 1990 e início dos anos 2000. Foi quando o futebol caxiense talvez tenha atingido o seu maior patamar. Se o Juventude em 1998 e 1999 apareceu de vez para o Brasil, o Caxias esboçou algo semelhante em 2000 e 2001.
Levantar a taça do Gauchão em pleno Estádio Olímpico em 2000, diante de um Grêmio vitaminado pelos dólares da ISL e um certo Ronaldinho Gaúcho, só não era algo mais impensável em razão de o time grená ter feito um primeiro jogo perfeito no Centenário. O que mais pesou à época foi o comando do ilustre desconhecido Adenor Bachi. Tite conseguiu fazer um time com meses de salários atrasados se unir em torno de um objetivo que emocionou a todos por essas bandas.
Inclusive a imprensa. Foi uma sensação indescritível para um então novato repórter, que sempre quis trabalhar com o futebol, ser escalado para fazer a crônica principal daquela final no Olímpico.
A ansiedade tomou conta, óbvio. E só aumentou depois que o jogo, então marcado para um domingo, foi transferido de última hora para a quarta-feira. Nada disso, porém, tirou o prazer de participar daquele momento único, que alçou não apenas o Caxias, mas a imprensa caxiense como um todo, a um novo e espetacular momento.
Relembro que, mesmo com um 3 a 0 contra, a imprensa da Capital confiava demais na reversão do placar. Em campo, no entanto, o que se viu foi um Caxias aguerrido, que não permitiu que o adversário sequer chegasse perto do título.
Na verdade, nós, que acompanhamos o Caxias já sabíamos que dificilmente aquele título poderia fugir. Tanto que nos minutos finais estava com o texto da festa praticamente pronto para enviar à redação. Para finalizar aquela noite, o Caxias retornou logo após a partida, de avião. Um colega acompanhou a delegação, enquanto voltei de carro para cobrir a comemoração da torcida na madrugada, regada a muito chope no Centenário, sob um frio que beirava zero grau.
A sensação foi de dever cumprido. E de satisfação por ter participado daquele que foi, sem dúvida, um dos momentos mais marcantes do futebol caxiense.
*Daniel Angeli