A data de 7 de junho de 1998 é emblemática. Foi numa tarde ensolarada de Porto Alegre que o Juventude deixava o Beira-Rio e boa parte do Rio Grande do Sul atônitos. Calados. O empate em 0 a 0 com o Inter fazia do alviverde Campeão Gaúcho daquele ano e acabava com uma hegemonia de 44 anos da dupla Gre-Nal – desde a conquista do Renner, também da capital, em 1954, colorados e tricolores se alternavam na primeira colocação. A campanha do time comandado por Lori Sandri foi impecável. O Ju conquistou o título de forma invicta e com aproveitamento de 72%.
Há 20 anos, o Ju fazia uma história ainda maior. Derrubou outro tabu, este que durava 59 anos sem que um clube do interior de Estado erguesse a taça do Gauchão, o último havia sido o Riograndense, de Rio Grande, em 1939.
— Foi algo tremendo. Fabuloso. O momento mais feliz da minha vida foi a nossa chegada em Caxias do Sul. Ver toda aquela multidão esperando desde a entrada da cidade até o portão do Alfredo Jaconi. Eu não consigo esquecer desse momento — revela o ex-zagueiro Índio, titular alviverde naquele ano.
Como disputava a Série A do Brasileirão, o time alviverde só entrou na segunda fase da competição. Em um grupo ao lado de Brasil-Pel, Brasil-Fa e São José-PoA, o time de Lori Sandre foi líder, com 12 pontos. Nas quartas de final, eliminou o Glória. O adversário da semifinal é que foi uma surpresa. O Brasil-Pel eliminara o Grêmio, dentro do Olímpico.
A partir daquele momento, os jogadores começaram a ver que a taça não iria escapar. O primeiro jogo foi em Pelotas e com uma recepção bem típica dos anos 90. Índio observou naquela oportunidade que o grupo estava pronto para a conquista:
— Na chegada do ônibus, fomos recebidos com muitas pedras, rojões e teve uma cena engraçada. Se não me engano, o Maciel passou mal dentro do ônibus pela situação, o quebra-quebra. Eu senti o nosso grupo muito concentrado, uns davam risada pela situação do Maciel e outros pela atmosfera que estava criada. Tínhamos a consciência e a certeza que faríamos um grande jogo.
Encerrado com o empate em 0 a 0 no Bento Freitas, uma vitória simples no Jaconi seria o suficiente para estar na final. E isso começou muito rápido, com a marca do Alemão Matador.
— Lembro bem que acabei fazendo um gol contra o Brasil de Pelotas, no começo do jogo (aos dois minutos). O Borges Neto cruzou da direita e eu peguei de primeira, foi um lindo gol — conta o ex-atacante Sandro Sotilli.
Fim de jogo, 2 a 1 para o alviverde. Viria o Inter pela frente.
Juvenal, um clássico
A final era contra o colorado, de Celso Roth. Uma época marcada pelo touca alviverde sobre o rival de Porto Alegre.
— Com todo respeito ao Inter, mas tínhamos um favoritismo contra eles. Parecia que todos do Juventude faziam o máximo, se dobravam e davam a vida. Inter e Juventude é sangue nas veias — afirma Índio.
No jogo de ida, 3 a 1 para o Ju: dois gols de Flávio Campos e um de Lauro. Christian descontou. Faltava um empate para concretizar uma previsão de Sandro Sotilli, que havia trocado o Beira-Rio pelo Alfredo Jaconi no início daquele ano:
— Lembro que conversei com o Mabília, que ia junto comigo, e ele me disse: vamos para o Juventude para ter mais espaço. Eu respondi: vamos para lá para sermos campeões. Desde a nossa saída do Inter parecia que alguma coisa boa iria acontecer — recorda.
O 0 a 0 na capital coroava um Gauchão impecável do Ju. Aquela conquista abriria a porta para algo ainda maior:
— A confiança conquistada com aquele título foi o pontapé para ganhar a Copa do Brasil (em 1999) — acredita Índio.
Tabus quebrados, e hegemonia que se findava há exatos 20 anos.