Uma nova história na Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (Smel). Experiente e com muitos serviços prestados ao esporte em Caxias do Sul, Paulo de Carvalho assume hoje a titularidade da pasta. Aos 64 anos, o professor deixou a aposentadoria depois de mais de três décadas dedicadas à educação física e ao esporte.
A chegada de Paulo à Smel representa a tentativa de melhorar a comunicação entre a prefeitura e a comunidade. Com perfil questionador, o novo secretário participou do início e lutou pela sequência do projeto UCS Olimpíadas, mas acabou vendo de perto o fim do programa que elevou o nome da universidade por meio do esporte.
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Agora, a missão é no poder público. O Pioneiro conversou com Paulo de Carvalho sobre o que esperar deste período que começa hoje à frente da Smel.
Convite e história
Carvalho: Quando o prefeito Guerra ganhou a eleição, me procurou. Tinha sido um dos indicados e disse que não podia aceitar. Eu tinha três meses de aposentado. Sinceramente, como todo brasileiro, sempre esperei me aposentar para poder viajar, sair um pouco. Agora, ele me procurou de novo para ver se eu não voltava atrás na minha decisão. E usou uma frase, “aqui você pode ajudar o esporte com sua experiência”. Falei com minha família e eles concordaram que eu voltasse dessas férias tão maravilhosas que vinha tendo. Em nome do esporte, pelo ruído que vem tendo na comunicação entre o poder público e as entidades, ao qual precisamos minimizar.
A aceitação
– Me senti, sem ser prepotente, um popstar, porque tive, sem exagero, mais de mil comunicações, a maioria escrita. Mas eu sabia que esse reconhecimento está calcado na minha história. A grande maioria das pessoas que trabalham com esporte foram meus alunos. Tive entre 12 mil e 16 mil alunos nesse período de 39 anos. A grande maioria vai me apoiar. E eu sei que esse apoio é pela história. Baseado na questão de como eu trabalhava. E acho que sempre foi de uma forma bem correta e franca com as pessoas. É o que pretendo fazer aqui também. Eu sei que daqui para a frente é um novo começo. De certa maneira, tenho que reconfirmar a credibilidade com as pessoas. Como elas esperam muito, tenho que dar conta desse muito. Tenho limites para isso, mas não de trabalho e nem de interesse de fazer.
Fiesporte
– Houve um desconhecimento por parte das entidades e um mal encaminhamento por parte da Smel, e criou-se essa confusão toda que nós vamos tentar resolver. É uma confusão ruim para todos. Nós temos que pensar em um jeito de equalizar. Falei com o prefeito e ele pediu para eu falar com as entidades. O (Luiz) Caetano, que estava interino, já entrou em contato com o procurador para saber se pode fazer um novo edital. Tem uma lei que regula toda essa questão. Mas aí entra o bom senso de como vamos resolver. Vou falar com o pessoal da secretaria para ver o que aconteceu. Acredito nas entidades, mas também no trabalho. Houve um ruído na comunicação. Vamos ver onde que pecou. É simples. É só saber onde houve o equívoco e assumir. Se a secretaria se equivocou, vamos assumir. O Fiesporte deve continuar, mas com as adequações na lei para evitar esses equívocos. Para atender o social de maneira mais profunda, tem que ser melhor avaliado. Mas acho ele (Fiesporte) imprescindível.
Projeto UCS Olimpíadas
– A reitoria, por uma questão de contenção de despesas, parou de apoiar o projeto olímpico. Era o diretor do centro e tinha o professor Carlos Bonone na coordenação dos esportes. Nós tínhamos 32 patrocínios. A UCS entrava com R$ 300 mil só, dos R$ 2 milhões que entravam por mês. Mesmo assim, acharam que isso era muito. Eu achava que não. A universidade não foi inteligente porque o esporte traz renda, patrocínio, imagem, uma série de benefícios para a comunidade e para si própria. Quem não gostaria de estudar em uma universidade que tem um projeto olímpico? A reitoria não quis mais apoiar o esporte. A minha história passa por isso aí. Eu nunca, até hoje, como gestor, briguei com uma pessoa inferior a mim hierarquicamente. Mas discuti com quase todos os superiores. Se não concordo com alguma coisa, vou falar com a pessoa. Não concordei com tirar o esporte da Universidade de Caxias do Sul. Movimentava mais de 1.500 pessoas na Vila Olímpica. Quando saí, não movimentava nem 300.
Experiência política
– Se o prefeito não tivesse interesse no esporte, simplesmente não deixaria como uma secretaria. Não sei que tipo de informações ele recebeu anteriormente sobre a pasta. É o que vou perguntar para ele. É a minha primeira vez na política. Vou tentar me adequar. Espero fazer um bom trabalho e responder essa questão política. Trabalhei na iniciativa privada. E lá se tem uma autonomia completa de trabalho. Aqui, preciso vivenciar para saber como vou me posicionar.
O esporte em Caxias
– Sei que o esporte escolar em Caxias é uma referência para outras cidades há bastante tempo. Em alguns setores, poderia melhorar, mas o esporte é forte. Caxias sempre teve dificuldade para manter o alto rendimento. A não ser quando tem uma pessoa que coloca dinheiro, como a Enxuta, que tinha um cara que pagava tudo. Mas, mesmo sendo difícil, ele representa muito. Tem uma pesquisa da escola de Colônia, na Alemanha. A atividade física na infância alemã faz com que se deixe de gastar 22 bilhões de euros quando esse sujeito está na idade adulta. Há menos problemas de saúde, menos doenças. E o esporte deixa de gastar 22 bilhões de euros quando ele chega aos 21 anos. Olha a importância desse negócio chamado esporte. E depois, quais são os fenômenos que juntam gente? Música e esporte.