Esportes de aventura se diferem um pouco dos radicais. A segurança é um dos pontos principais, já que os de aventura não oferecem grandes riscos à integridade física dos praticantes. No máximo, alguns arranhões. Mas eles se assemelham quanto à adrenalina que proporcionam. O rapel envolve tudo disso. Um desafio de altura, para quem tem medo, muita água, cordas que te garantem a proteção e o contato direto com a natureza.
A nossa primeira aventura foi em Nova Roma do Sul (local a 54km de Caxias do Sul), no Ecoparque, especificamente na cachoeira Vô Ernesto. Um passeio envolto de belas paisagens e que custa R$ 55 (apenas para esta atividade). Tudo começa pelos vários equipamentos de segurança e as técnicas básicas para descer a cachoeira.
A primeira parte de descida é a mais tensa, justamente por não ter domínio total da técnica. Na últimas instruções, Grilo (apelido de um dos instrutores) me explicou que a mão esquerda poderia ficar livre, pois não teria função. Apenas a mão direita, que é onde se libera a corda para descer. Mas, instintivamente a minha mão esquerda não largava da corda. Não sei o motivo, mas deu uma sensação de segurança maior.
Os primeiros metros foram os mais complicados. O receio de errar o pé, escorregar no limo e dar de encontro com a parede era visível. Além disso, a cadeira de segurança força a cintura, ocasionando um incômodo. A segunda dificuldade é o limo na cachoeira. Isso explica o porquê de ficar com as pernas esticadas a 90° da parede, como mencionei no início. Qualquer outra posição leva a escorregões e o corpo contra a parede.
Passados os obstáculos iniciais e dominada a técnica, foi só aproveitar a interação com a natureza. A cascata tem 35 metros de altura, sendo uns 12 de parede, seguidos de oito metros na parte chamada “negativo”– quando não há onde apoiar os pés. Por fim, vieram os últimos metros. Poucos, mas em rochas lisas. Então, veio a sessão de desequilíbrios. Por um motivo simples: tanto eu, como o repórter fotográfico Felipe Nyland abandonamos a técnica de apoio dos pés. Finalizada a descida, o ângulo deixou o local ainda mais bonito.
Antes de nos despedirmos, o instrutor Julio Cesar de Borba sugeriu a tirolesa. A menor, de 250 metros de distância e sobre o vale do Rio das Antas. Se o rapel já é difícil para quem tem problemas com altura, imaginem cruzar o vale com uns 90 metros de profundidade. Foram segundos, um visual sensacional e uma adrenalina forte. No fim, sobraram histórias para contar.
Das remadas até um parque cheio de atividades
Julio Cesar de Borba foi o guia principal na aventura. Natural de Nova Roma do Sul, a história dele com esportes começou cedo. Muito antes de abrir a própria empresa, em 2001, pela interação direta com o Rio das Antas, onde pescava.
– Desde moleque eu ia com o meu pai pescar, num caiaque de madeira. E, antes de 2001, já tinha uma galera fazendo rafting e eu achava aquilo bacana. Às vezes, estava no rio pescando e eles passavam nos botes – conta Julio.
Por assistir as pessoas descerem as corredeiras, veio a ideia de abrir uma empresa de esportes de aventura. Julio trabalhava com futsal, mas o dinheiro que obteve com a venda de propriedades da família o fez largar a bola e apostar nos botes. Começou com uma Rural ano 1975, um bote usado, coletes novos e um motorista. O diferencial de Julio era oferecer uma refeição após a descida. Aos poucos, a empresa cresceu e, em 2008, surgiu a possibilidade de algo maior.
Ele visitou a cidade de Brotas (SP), considerada a capital dos esportes de aventura no país, e voltou com a ideia de montar um parque. A propriedade da família da namorada foi o local escolhido. A primeira atividade instalada foi a tirolesa. Sem o corte de árvores.
– Nos veio a ideia de usar os foguetes treme-terra. Eu enrolei uns 300 metros de linha de pesca em um litro, miramos do outro lado (do vale) e soltamos. A corda caiu na copa das árvores e soltamos outro foguete na direção contrária. Aí tínhamos que subir nas copas para amarrar as linhas. Depois, passar uma corda e, por fim, os cabos de aço – conta Julio.
A propriedade que antes vivia apenas da plantação de uva, hoje mudou o foco para o turismo. Nos fins de semana, cerca de 30 pessoas de Nova Roma do Sul trabalham diretamente para receber os visitantes que passam pelo parque. As primeiras remadas de Julio, apenas para a pesca, hoje se tornaram seu ganha pão.