Humor, muito barulho, empolgação e alguns excessos marcam o comportamento de um público festivo na Olimpíada até aqui. Os brasileiros têm emprestado às arenas a atmosfera contagiante dos mais emocionantes jogos de futebol. Há atletas que se motivam com os gritos vindos das arquibancadas. Outros, principalmente de esportes em que o silêncio é importante para a concentração, reclamam.
Enquanto ZH falava com a nadadora Jade Howard, de Zâmbia, em meio aos corredores do Estádio Aquático Olímpico, o público veio abaixo em gritos de "Brasil! Brasil!", que incentivavam os atletas anfitriões prestes a disputar uma bateria classificatória.
– Este ambiente é fantástico. Fico ainda mais empolgada para competir – disse Jade com um sorriso no rosto.
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Os torcedores não têm reservado aplausos e incentivo apenas aos brasileiros. Costumam adotar o competidor considerado mais fraco, a não ser que o atleta favorito esteja prestes a bater um recorde. Foi o caso de Adam Peaty, britânico dos 100m peito que bateu duas vezes a marca mundial nessa Olimpíada. Nas classificatórias, quando fez a virada após os primeiros 50m, o público percebeu que havia a possibilidade do tempo histórico e o empurrou até a batida final. O próprio Peaty revelou surpresa com o incentivo que recebeu.
A excitação e os cânticos invadiram modalidades em que esse tipo de comportamento não é o mais comum. Como na esgrima, em que o brasileiro Guilherme Toldo era empurrado por gritos de "vamos virar, Toldo" cada vez que ficava atrás no placar. Na ginástica, o apresentador André Marques, que era o animador da Arena Olímpica, lembrou aos torcedores que a modalidade "exigia concentração" e pediu que mandassem "suas boas energias através de aplausos".
No tênis de mesa, Hugo Calderano parecia disputar a vaga nas oitavas de final diante do Maracanã lotado neste domingo.
Ainda que esse clima traga uma empolgação acima da média aos Jogos, há competidores que protestam pelo suposto prejuízo ao seu desempenho por conta do barulho.
– Tênis de mesa não é futebol – disse ao portal Uol o sérvio Aleksandar Karakasevic, que chegou a protocolar um protesto formal à Federação Internacional da modalidade.
Além do forte envolvimento com as competições, os brasileiros têm se caracterizado por manifestações irreverentes, mesmo que a barreira da língua não permita que os gritos bem-humorados sejam compreendidos pelos atletas. O caso mais célebre foi o da estreia do Time dos Sonhos americano no basquete masculino, diante da China. Muito atrás no placar, os orientais foram adotados pelas arquibancadas, que gritavam um irônico "eu acredito" para incentivá-los.
No tênis, entre um ponto e outro do jogo entre a americana Venus Williams e a belga Kirsten Flipkens, um pequeno grupo levantou-se e gritou "vamos Corinthians!". Foram repreendidos com vaias pelo restante do público.
Na partida que culminou na eliminação do número 1 do tênis Novak Djokovic da chave de simples, diante do argentino Juan Martin del Potro, mais interações pouco usuais entre o público e os jogadores.
– Argentino "maricón" – gritou um torcedor, que chegou a ser vaiado por outros brasileiros, o que não fez com que o público deixasse de pegar no pé do "hermano".
Bem humorado, Del Potro levou numa boa. Sorria e balançava a raquete, pedindo que o barulho continuasse. Já Djokovic recebeu o carinho da torcida e declarou que se sentiu como se fosse brasileiro.
A tradicional rivalidade com os vizinhos, que "vitimou" Del Potro, tem motivado algumas das vaias dos brasileiros. Cada vez que torcedores argentinos se manifestam nas arquibancadas, são "respondidos" imediatamente. Mas não são só os adversários históricos que receberam desaprovação.
Os russos, marcados pelo escândalo de doping que ameaçou a participação do país na Olimpíada, não foram perdoados. Na natação, Yulia Efimova, que foi liberada para participar poucos dias antes dos Jogos, recebeu fortes apupos, assim como a equipe do revezamento 4x100m livre do país.
*ZHESPORTES