Em qualquer nível, a realidade atual mostra que não se faz futebol sem endividamentos. Do poderoso Real Madrid, devedor de R$ 1,8 bilhão até o mais modesto dos clubes profissionais, todos convivem com credores batendo à porta. A questão é ter bom fluxo de caixa para administrar as dívidas e não deixar de ser competitivo. Na dupla Ca-Ju, o endividamento com a União e a perda de ações trabalhistas para ex-funcionários têm dado dor de cabeça a dirigentes que lutam para dar credibilidade ao clube.
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As dívidas do lado grená somam R$ 18 milhões, sendo dois terços em débitos com a união. O restante, cerca de R$ 6 milhões, é valor devido principalmente atletas e treinadores que passaram pelo Caxias. Ao todo, são pouco mais de 100 ações que tramitam na justiça. Uma indenização por parte da prefeitura no valor de R$ 2,5 milhões, referente à desapropriação de terrenos no entorno do Estádio Centenário, será toda destinada ao pagamento de dívidas trabalhistas, contanto que os credores aceitem a solução proposta.
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Nos anos anteriores, o Caxias vivia cercado pela incerteza. Com uma grave crise financeira, tinha um CT largado às moscas e os bens patrimoniais ameaçados. Hoje, a situação é diferente. Com uma estrutura sólida e de grande porte, o time grená gasta cerca de 50 mil mensais na manutenção do estádio e do CT Baixada Rubra Vanderlei Bersaghi.
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- Contamos com o bom senso, pois é a forma que temos de pagar isso logo. Já temos acordo com cerca de 80 credores, mais ainda faltam 20 que estão resistentes. E se não for acordado com todos, a negociação não sai - afirma Nelson Rech Filho, presidente grená.
O Juventude também tem nos tributos o maior montante dos R$ 20 milhões que totalizam a dívida do clube. Segundo o vice-presidente, Roberto Tonietto, apenas 10% da dívida consiste em perdas com ações trabalhistas. No início deste ano, a expectativa era que a parceria com a construtora OAS ajudasse a sanar a maior parte destes compromissos. Porém, o amargo fim da relação fez as esperanças voltarem a ser depositadas na vontade do governo federal em renegociar as dívidas dos clubes brasileiros (avaliadas em R$ 4 bilhões).
- Fizemos ao longo do ano um trabalho de negociação com a procuradoria. Como temos um patrimônio considerável, fica mais fácil negociar os débitos tributários e conseguir as negativas para conseguir patrocínio de estatais e leis de incentivo. Também tem o Proforte, que estava bem encaminhado até as eleições. Se sair, acredito que o clube vai ter um gás interessante, pois são 25 anos de prazo, com redução de juros - avalia Tonietto.
Dívida do Caxias
- R$ 18 milhões
- 2/3 tributos, 1/3 ações trabalhistas
- Cerca de 100 credores
Dívida do Juventude
- R$ 20 milhões
- Cerca de 90% em tributos, 10% de ações trabalhistas
- Cerca de 20 credores, na maioria ex-atletas e ex-funcionários
A tábua de salvação
A Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (LRFE), que substitui o Programa de Fortalecimento dos Esportes Olímpicos, o Proforte, é um projeto que trata da renegociação da dívida dos clubes brasileiros com a União, mediante uma série de contrapartidas. A principal delas é o pagamento obrigatório de impostos e compromissos trabalhistas assumidos após a renegociação, sob pena de rebaixamento e exclusão de competições para clubes que descumprirem a lei. Se aprovado, o projeto irá parcelar em 25 anos os débitos dos clubes com o governo federal, que giram em torno de R$ 4 bilhões.
Hoje estimada em R$ 12 milhões, a dívida tributária do Caxias seria dividida em 300 parcelas de R$ 40 mil. No caso do Juventude, cujo débito com a União beira os R$ 18 milhões, o mesmo parcelamento resultaria em parcelas de R$ 60 mil. Ambas as direções aguardam com ansiedade pela aprovação, por considerarem o valor viável de pagar.
A pauta esteve prevista para ser votada em agosto deste ano, mas foi adiada por conta da campanha eleitoral. Não há nova data para votação, mas a expectativa é de que possa ocorrer até o fim deste ano.