Do Brasil à Arábia. Só depois de percorrer o país inteiro e trabalhar nas terras das mil e uma noites, Lori Sandri teve a oportunidade de atuar em solo gaúcho. A chance surgiu em Caxias do Sul e, logo no primeiro teste no Estado, deixou sua marca. Foi ele quem comandou o Juventude campeão invicto de 1998. Foi ele quem liderou aquele que seria o primeiro time em 44 anos a acabar com a hegemonia da dupla Gre-Nal no campeonato estadual. E foi pelas mãos dele que passaram jogadores como Capone, Índio, Flávio e Lauro.
Nascido em 1949, em Encantado, no Vale do Taquari, Lori se tornou um técnico reconhecido. Não cresceu em berço de ouro e teve de superar muitas adversidades para ser quem é hoje. Conhece bem o caminho para a conquista do Gauchão e dá a receita para o Ju tentar repetir a dose contra o Inter.
- Na decisão, vinham nos dizer que não tinha jeito, que o Inter já era campeão. Que embora tivéssemos ganhado o primeiro jogo (3 a 1), quando o time chegasse em Porto Alegre, o Inter ia passar por cima. Iam nos atropelar - relembra.
Felizmente para o Ju, não foi o que ocorreu. A equipe conseguiu segurar o 0 a 0 no Beira-Rio e confirmou o fim de mais de 40 anos de completo domínio da dupla Gre-Nal no Estado, com uma campanha invicta. Entre a edição do Gauchão daquele ano e a desse, Sandri vê semelhanças nas competições, para o otimismo dos alviverdes.
- Está claro que a questão do formato se assemelha muito. Esses mata-matas dão uma boa chance de ser campeão. Não importa o que houve antes, só a partida - aponta.
Na época, a competição durava todo um semestre e ocorria ao mesmo que a Copa do Brasil. E isso, segundo o treinador, se constituiu em um diferencial para a equipe:
- Além de termos pego um grupo ótimo, tanto a direção como os jogadores, tivemos um bom período de treinamentos. O Inter e o Grêmio estavam participando da Copa do Brasil. Aí, tivemos dois meses a mais para treinar, e o time encaixou. Os jogadores eram excelentes, tanto em relação à qualidade, como pela maneira que trabalhávamos e como se dedicavam.
Aquele time ficaria marcado para sempre na história do futebol gaúcho.
Técnico aos 27
A situação financeira da família Sandri não era favorável, tanto é que, em 1965, o aspirante a jogador teve de desistir de jogar pelos juniores do Inter por não poder se manter na Capital. Uma mudança era necessária: o mais velho de sete filhos resolveu ir morar com os tios em Curitiba. Queria jogar futebol e estudar educação física na cidade nova. Logo, conseguiu vaga no time do Água Verde, que trocou de nome para Pinheiros e, no futuro, passaria a ser Paraná Clube.
Em 1976, jogando pelo ainda Pinheiros, Lori Sandri recebeu o convite que mudaria sua vida. Recém terminava a faculdade, era capitão do time, preparador físico e auxiliava o técnico Jober Meira Lima, quando uma proposta surgiu. Jober havia sido contratado pelo Flamengo. A diretoria do Pinheiros, vendo a situação em que a equipe se encontrava, entre as piores do torneio, pediu ao capitão que assumisse o comando da equipe.
Lori Sandri aceitou o cargo e, com apenas 27 anos, conseguiu uma recuperação e tanto, deixando o time entre os quatro melhores do campeonato. A direção pretendia que ele fosse apenas um interino, mas o treinador acabou seguindo o trabalho por mais tempo.
- Nossa equipe estava em último lugar. Então, os diretores chegaram e nos convidaram para ficar uma semana, eu e o goleiro. Terminamos entre os quatro primeiros. Fiquei no clube por três anos - relembra.
Após esse período vitorioso no clube, acabou se transferindo para Minas Gerais. Treinou o Uberaba, time da primeira divisão nacional. E de lá, para cá, já passou por Arábia Saudita, Emirados Árabes, Japão, e muitos Estados brasileiros.
Magia negra
A convicção no grupo do Juventude que seria campeão gaúcho em 1998 era tão grande que nada poderia impedir Lori de conquistar o título. Segundo o técnico, não foi por falta de tentativas:
- A gente chegou no vestiários e tinham uns bonequinhos lá. Fui ver o que era e estavam todos espetados. Era vodu. Recolhi alguns e comecei a mostrar pro pessoal. Eles se assustaram, davam pulos. Estavam com medo. Mas usei como motivação. Aquilo não podia afetar a gente. Falei em religião. Disse que não ia ser um bonequinho que ia fazer a gente perder. Era muita pouca coisa para impedir a gente de ganhar o que merecíamos.
Ex-técnico avalia
Lori Sandri vê Juventude com boas chances na final
Semelhanças com título invicto de 1998 são motivo para acreditar
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