Vídeos, fotos, memes: as opções de conteúdo e entretenimento são vastas no cotidiano hiperconectado. Em meio à enxurrada de informações, cada segundo se torna valioso para quem cria estratégias para captar e fidelizar o público consumidor. Essa tática tem crescido e se desenvolvido nas empresas.
A economia da atenção ganhou força com a expansão das redes sociais e a virtualização de produtos e serviços. Conforme Aldair Bolzan de Morais, coordenador regional do Sebrae na Serra Gaúcha, a atenção do público está tão disputada, que se tornou mais preciosa do que o produto ou serviço oferecido.
— Dentro de um mundo cada vez mais bombardeado de informações, notificações e distrações, a atenção das pessoas virou um recurso escasso e valioso. Então, as organizações estão tentando atrair essa atenção para poder oferecer produtos e serviços, fidelizando clientes — explica.
Entre curtidas, visualizações e compartilhamentos, a disputa para manter o conteúdo entre os mais buscados, gerando cada vez mais engajamento, tem mobilizado as empresas a compreender as tendências, apropriando-se dessas novas ferramentas. Segundo Morais, para dominar a economia da atenção é essencial adotar estratégias de marketing que valorizem os diferenciais da empresa.
— Buscar o público certo para cada tipo de negócio, entender como se comunicar de forma assertiva, ir direto ao ponto e apresentar soluções para resolver os problemas, são algumas das iniciativas que ajudam na briga por quem vai aparecer por primeiro para o cliente — comenta Morais.
Em meio à concorrência para atrair olhares e curtidas, o coordenador do Sebrae alerta as empresas para que observem certos limites para alcançar a economia de atenção de forma positiva.
— No mundo dos negócios, a economia da atenção traz diversos impactos. Classificaria dois importantes. De um lado, temos as empresas tentando captar as pessoas usando a tecnologia e redes sociais. E de outro, tem as organizações que também buscam restringir esse bombardeio de informações porque interfere na produtividade — comenta.
Para Morais, a busca extrema pela atenção pode prejudicar o desempenho dos colaboradores, baixando a produtividade. Para evitar situações semelhantes, o coordenador indica manter o contato com as redes sociais no ambiente de trabalho apenas em tarefas específicas, garantindo assim, o foco nas demais atividades.
Vídeos curtos instigam a curiosidade
Para a coordenadora de Marketing da UCS, professora Maria Gorete do Amaral e Silva, atualmente, as empresas precisam conhecer o mercado e o seu público mais do que nunca.
— Considerando que o objetivo é capturar e manter o interesse dos consumidores, é essencial saber para quem se quer falar. O consumidor hoje tem uma atenção fragmentada para diversos pontos, então é importante ser assertivo e inovador ao falar com essas pessoas — avalia.
Para a professora, a estratégia dos vídeos curtos, que instigam a curiosidade, mas não entregam toda a informação, tem sido apontada como uma das mais eficazes. Além de manter o público envolvido, esse formato também permite que os consumidores participem ativamente do processo, curtindo ou compartilhando o conteúdo.
Contudo, os profissionais destacam que não existe uma fórmula para garantir o engajamento. A criatividade é apontada como a maior aliada, em conjunto com o manancial de dados. Isso contribui para traçar o perfil de quem se deseja atrair a atenção.
Da curtida para o fluxo de caixa
Há sete anos, quando Juliano Nunes decidiu virar empreendedor, criou um perfil nas redes sociais para divulgar a sua barbearia. Desde então, instigou o público a acompanhar as publicações diárias, planejadas para, primeiro, prender a atenção e, segundo, para suscitar o desejo nas pessoas a fim de que elas fossem à barbearia.
— A barbearia já tinha um diferencial quando abrimos: a essência faz referência à cultura gaúcha, algo que a galera se identifica muito. Para atrair as pessoas, começamos com conteúdo local, sobre o dia a dia, os pets que os clientes trazem e o clima de brincadeira. É bem comum as brincadeiras sobre os clientes ficarem menos feios depois de fazer a barba — conta.
Com a identidade definida, o público foi se identificando, consumindo o conteúdo e se tornando cliente do espaço. Nunes estima que, de todos os investimentos feitos nas redes sociais, com foco na economia de atenção, cerca de 80% retornam.
— Desses 10 mil seguidores ativos, consumindo nossos stories, temos um percentual certeiro que vai consumir o conteúdo e vir aqui. Se conseguimos captar com conteúdo 1.200 pessoas, cerca de 200 pessoas conseguem vir até aqui em um prazo de duas semanas — explica.
Atenção à mudança de comportamento do público
Em 2013, quando as redes sociais começavam a alavancar comunidades virtuais, Michele Kaiser criou um blog para compartilhar a rotina de uma gestante de trigêmeos. Passados onze anos, o cotidiano da família se transformou em um grande atrativo para a economia de atenção.
— Depois de ler e estudar sobre o que prende o público nos primeiros segundos do vídeo, percebi que são os meninos que mais despertam a curiosidade. Tento deixar eles bem iguaizinhos justamente para criar a sensação de três meninos idênticos — conta.
Segundo Michele, o que começou com um hobby foi se profissionalizando. Atualmente, a família tem parceria com marcas que buscam o conteúdo com o trio para promover produtos. O segredo, conforme a mãe, é manter todo o processo de gravação o mais espontâneo possível.
— Gostamos de gravar a realidade, coisas que costumamos fazer. Mas o que eu observo, nesses anos que foram se passando, é que as redes sociais mudam muito. O comportamento das pessoas também. Antigamente, a gente fazia vídeos longos e as pessoas assistiam do início ao fim, adoravam ver a nossa rotina. Hoje, o maior apelo são os vídeos curtos — compara.
Economia da atenção: o que é?
- Segundo os especialistas ouvidos nessa reportagem, a economia da atenção é um conceito relativamente novo, que trata da carência de atenção das pessoas, em um contexto com múltiplos estímulos.
- Há estudos que indicam que a economia de atenção surgiu a partir da massificação da comunicação, por meio do rádio e do jornal. Contudo, o crescimento das redes sociais e a agilidade que as plataformas impõem, trazem um novo cenário para o conceito.
- Na prática, a atenção do público consumidor tem se tornado mais importante do que os produtos e serviços que as empresas vendem.