Guilherme Massena, 30, cofundador da empresa Dobra, será um dos palestrantes do Fórum do Conhecimento - Liderança e Inovação para um Futuro Consciente, na próxima semana em Caxias do Sul. O evento é promovido pela Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CIC). Ele subirá ao palco do auditório da entidade às 16h15min.
Formado em administração com linha específica de formação e gestão para inovação e liderança, Massena fundou a Dobra ao lado do irmão Augusto Hommerding Massena e do primo Eduardo Seelig Hommerding, em março de 2016 em Montenegro. Além disso, também é gerente da ótica da família na cidade do Vale do Caí.
Inicialmente, a empresa produzia “carteiras de papel” — feitas à base de tyvek, um polietileno de alta densidade produzido com parte material reciclado. Atualmente, o leque de produtos aumentou, oferecendo também shoulder bags — bolsa com uma alça longa e ajustável para ser usada sobre o ombro —, pochetes, lancheiras, bolsas de celulares, capas para notebooks, porta-garrafas e latas, entre outros.
— Basicamente queríamos mostrar que podia ser algo diferente. Fazer um negócio funcionar diferente e entregar algo de positivo para o mundo e ainda viver disso. E aí a gente entendia que as carteiras de papel, que na verdade não são de papel, era uma oportunidade de fazer isso acontecer — explica Massena sobre o início das atividades.
Com o título O Case da Dobra: por dentro de umas das 10 startups mais conscientes do Brasil, Massena falará ao público presente na CIC sobre o capitalismo consciente, e como a empresa na qual é cofundador cresceu ao longo desses oito anos. Inclusive, desde 2023, a Dobra realiza vendas nos Estados Unidos por meio de uma parceria com a Amazon — plataforma multinacional de e-commerce.
Na visão do empresário, as pessoas estão buscando consumir produtos mais locais e que presem pelo meio ambiente.
— É um mercado que está sendo valorizado não só pelo mercado, mas pelos clientes também. Então, a gente entende que com certeza essa crescente, essa busca das pessoas por produtos nacionais, por produtos com uma produção consciente, acabou influenciando diretamente no crescimento da Dobra.
Confira a entrevista
A sua palestra em Caxias abordará o capitalismo consciente, o que é preciso fazer para se tornar uma empresa consciente?
Acreditamos que é preciso entender que como negócio tu faz parte de um ecossistema, e se olhares para todos os processos do negócio, podes impactar a comunidade que tu está de diversas formas, que, não somente pagando imposto ou gerando emprego, podemos ir muito além disso.
Quais são os pilares estratégicos para que uma marca se torne amada pelos clientes?
Eu resumiria realmente em comunicar aquilo que é. E ter uma abertura para trocar ideia com a comunidade em geral, clientes ou não, de maneira aberta.
De que forma uma empresa consegue obter vendas diárias com previsibilidade?
Bom, isso é um trabalho que com marketing digital a gente consegue fazer através de e-mail marketing, de WhatsApp, de anúncios, de sistemas de dados que nos apresentam números do passado e do presente para que a possamos entender eles e poder construir o futuro. Então, usamos muita tecnologia para poder trazer uma previsibilidade.
Como você vê o incentivo e apoio à criação de startups na região da serra?
Eu participo de eventos na Serra gaúcha voltados para esse tema há bastante tempo, desde antes da pandemia (da covid-19), então é algo que já está no radar das empresas há bastante tempo. O Rio Grande do Sul, inclusive, é um dos principais fomentadores do capitalismo consciente aqui no Brasil. E de startups em geral, acredito que a gente, enquanto Estado e na própria Serra, tem vários órgãos de fomento a isso, em Caxias tem o Instituto Hélice, que faz um trabalho bem legal voltado para startups.
Na tua visão, por que o Rio Grande do Sul se destaca no capitalismo consciente?
Eu acho que a gente tem uma população que busca olhar bastante para isso. Eu confesso que culturalmente não sei dizer a razão. Mas aqui no Rio Grande do Sul, por exemplo, na área da moda e acessórios, que é a área que a gente está inserido, tem uma busca por negócios mais locais. A gente tem o próprio polo calçadista, que com várias pequenas atividades que faz um trabalho muito legal.
Entender a comunidade em que está inserido é um ponto fundamental para o crescimento consciente?
E conhecer o lugar que ela faz parte, as pessoas que consomem dela (empresa), que fazem parte do dia a dia, para que possa se comunicar para vender de maneira correta, sem perder tempo e dinheiro. Quanto do ponto de vista de impacto mesmo, saber de que forma que ela pode contribuir para a comunidade que ela está inserida, muito além de geração de emprego e de imposto em si.
Sobre o envolvimento social da empresa, quais são os resultados obtidos a partir das iniciativas que a Dobra tem feito?
Temos uma produção aqui sob demanda, só produzimos depois que é vendido para o cliente. Então, a gente tem um prazo de produção mais alto do que a média dos e-commerces, por exemplo. E, para ter uma ideia, a nossa produção é feita por uma rede terceirizada aqui em Montenegro, em que, geralmente, as empresas mais tradicionais acabam usando a terceirização para poder ter um custo menor de produção. No nosso caso, a gente chega a remunerar as costureiras da nossa rede de produção até cinco vezes mais do que o mercado geralmente paga para elas para esse tipo de serviço. E, com isso, a gente consegue ter um controle de qualidade muito fácil de ser feito, porque elas mesmas acabam entregando com muito maior qualidade em função de serem bem remuneradas. Temos uma produção que consegue atender a demanda que a gente tem hoje. Além disso, temos também as artes no nosso site, que são criadas por artistas que se cadastram na nossa base, que criam as estampas e recebem uma comissão de cada item vendido. Então, tem uma “galera” pelo Brasil recebendo uma “grana extra” por ter criado estampas e colocado no nosso site para vender. A gente tem também várias outras ações que a gente compartilha, por exemplo, aprendizados de negócio, modelo que a gente funciona, várias coisas de negócio mesmo para que a gente possa fazer a diferença também para a pessoa que está buscando desenvolvimento no próprio negócio.
De que forma este envolvimento social ajuda a valorizar a marca?
O fato de que a pessoa daqui a pouco não está disposta a pagar, por exemplo, R$ 40 em uma carteira de papel, por exemplo, ou R$ 190,00 em uma shoulder bag (bolsa tiracolo), ao ver toda essa movimentação, todo o porquê de a gente fazer aquilo que a gente faz, ela acaba achando um valor justo a ser pago.
Vocês também conseguiram uma aproximação com grandes empresas, certo?
Nós realizamos um trabalho com empresas com consultorias, palestras, marketing as a service (marketing de serviço) e personalização de estampas dos produtos que vendemos. Dentre as marcas que já trabalhamos estão Sicredi, Coca-Cola, Google, Burger King, Gramado Summit, Dr. Jones, entre outras.
Que dicas darias para as pessoas terem boas ideias como foi a de vocês ao criarem a Dobra?
A minha dica para quem tem uma ideia é colocar ela em prática, fazer acontecer, validar as hipóteses, seguindo as lógicas de MVP, de produto mínimo viável, que é uma lógica que já se fala há bastante tempo e deve ser muito utilizada nos tempos de hoje, que é tentar validar o mais barato possível aquela tua ideia, aquele teu negócio. Não investir tudo de uma vez, todo o teu tempo, todo o teu dinheiro, todos os teus recursos, mas de maneira mais barata possível fazer acontecer. Ver o que os clientes vão falar, se eles vão gostar daquilo que tu estás entregando, do produto ou serviço. E aí, conforme tu fores identificando os pontos de melhoria, vai melhorando e sempre seguindo essa lógica mesmo depois de ter lançado o negócio. Acho que seguindo isso não vai ter muito mistério.
Serviço
- O quê: Fórum do Conhecimento — Liderança e inovação para um futuro consciente
- Quando: Quarta-feira, 10 de julho
- Local: Câmara da Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias)
- Horário: das 14h às 20h
- Valores: R$ 150 para empresas associadas à CIC Caxias, ARH Serrana e Trino Polo; R$ 200 para não associadas; Estudantes: R$ 100
- Mais informações no site oficial do evento