Dados da prefeitura de Bento Gonçalves apontam que o município recebeu 1,5 milhão de visitantes em 2023. Para 2024, o setor vive o desafio de se reerguer após a tragédia climática de maio. O mês de julho é considerado como a alta temporada, em virtude do inverno e das férias escolares, por isso, empresários estão otimistas com uma retomada neste período.
As apostas para atrair de volta os turistas são oferecer descontos nos serviços e mais experiências aos visitantes. Inclusive, por meio de uma união coletiva, foi criada ainda em maio a campanha Abrace Bento, que deve seguir até o final de julho, aproveitando a alta temporada de inverno. A iniciativa consiste em um canal de divulgação digital com 150 atrativos onde há opções de benefícios aos consumidores locais e de fora da cidade.
— Ela tem trazido resultados. Foi importante para termos uma retomada e poder falar e estimular o turismo solidário — explica secretário municipal de Turismo de Bento, Evandro Soares.
Nos principais roteiros, os visitantes são esperados. Ao longo dos Caminhos de Pedra, que tem mais de 10 quilômetros, o turista pode conhecer mais da história da imigração italiana e até aproveitar a tradição gaúcha. A presidente da Associação dos Caminhos de Pedra, Alice Menoncin, acredita que o fluxo deve melhorar nestas férias de inverno. No último ano foram cerca de 480 mil visitantes.
— Julho sempre é o nosso melhor mês em termos de visitação. O pessoal vem buscar o frio, quem é do Norte e do Nordeste, e o pessoal daqui (da região), que ficam próximos por questões de trabalho (por exemplo), tiram um dia ou dois com os filhos para passear, e acaba sendo um mês bom para todos os empreendimentos — projeta Alice.
Antes mesmo da tragédia climática, a Associação Caminhos de Pedra e o Sebrae já estruturavam uma parceria com o foco em desenvolver o roteiro, além de criar uma Marca Coletiva para fortalecer o turismo na região. Agora, essa ação se tornou ainda mais importante, e até o final do ano ocorrerá uma série de encontros com o foco em capacitar os empresários do roteiro.
No Vale dos Vinhedos, que reúne vinícolas, farta gastronomia e hospedagens em meio a belas paisagens, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), elencou ações de construção coletiva em três níveis:
- Curto prazo: foi trabalhado internamente para garantir segurança aos turistas, detalhando como chegar aos atrativos.
- Médio prazo: foco em visitantes do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, que conseguiam se locomover com automóveis.
- Longo prazo: a longo prazo, há dependência de aeroportos, como o Salgado Filho em Porto Alegre, melhores preços de passagens aéreas e facilidades para remarcar viagens caso necessário.
Para o presidente da entidade, Ronaldo Zorzi, o fechamento do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, impacta na chegada de visitantes que vêm de outros Estados. Mesmo assim, ele avalia que já há resultados:
— As ações de curto e médio prazo deram resultado, porque temos hoje um movimento razoável, mas ele está um pouco concentrado no fim de semana. O que diminuiu foi o turista que vem para passar uma semana, 10 ou 15 dias de férias, de segunda a quinta-feira — explica Zorzi.
Recentemente foi lançada a campanha “Presente Serra Gaúcha”, que tem a expectativa de movimentar em torno de R$ 1 milhão para os negócios locais. A escolha da região na primeira etapa se deu pela infraestrutura turística robusta e a presença de grandes parceiros. Pelo site, o viajante pode escolher quais experiências quer viver e comprar os vouchers. Serão ofertadas mais de 100 opções, trazendo ao consumidor a oportunidade de adquiri-las com 20% de desconto e podendo vivenciá-las em cidades como Gramado, Canela, Nova Petrópolis, Bento Gonçalves, Garibaldi, entre outras.
Roteiro histórico com foco na experiência
Construída entre 2000 e 2001, e inaugurada em 2005, a Casa do Tomate, no Caminhos de Pedra, tem uma média mensal de 4 mil visitantes. Em julho, o número normalmente salta para 7 mil. Por lá o visitante pode acompanhar um pouco da produção da agroindústria familiar, com 68 produtos derivados da fruta, visitar um museu que remete à imigração e fazer compras na loja.
Para seguir atraindo visitantes, a proprietária Maristela Pastorello Lerin criou uma espécie de cashback em que, por exemplo, na compra de R$ 200 em produtos da loja, o cliente ganha 10% em novos itens. Também há descontos em compras pelo site do empreendimento. Além disso, a empresária confia no apelo histórico para aumentar as visitações.
— Tem chance, sim (de aumentar o fluxo), porque até o nosso povo aqui do Rio Grande do Sul busca o frio. Já temos aumento de fluxo de visitação, temos essa expectativa. Não digo que seja como antes da pandemia, mas tem essa expectativa do retorno — projeta Maristela.
Quem também criou formas de manter o negócio funcionando foi a empresária Vanessa Pereira Cantelli. A família dela possui a Pousada Cantelli, o restaurante Cantelli Cucina e uma agroindústria com produção de suco de uva e itens à base de noz pecan no Caminhos de Pedra. A opção criada neste momento, e que integra a campanha Abrace Bento, foi um pacote com experiências, denominado Abbraccio. Com ele, o visitante pode se hospedar e contar com café da manhã incluso e direito a um jantar para duas pessoas, prato principal e sobremesa. Além disso, o café da manhã foi aberto ao público no valor R$ 88 por pessoa.
— Era opcional, no caso o cliente poderia adquirir o jantar ou não. Agora ele já faz uma compra antecipada, e a gente também consegue manter nossa operação de gastronomia, que é uma operação mais cara, e ao mesmo tempo traz mais comodidade ao cliente — explica a empresária.
E há outras ações no roteiro Caminhos de Pedra. Aos sábados e domingos, por exemplo, o visitante pode aproveitar o evento Gaita e Assado, criado em 2021 pelo músico Jeverson Carelli, que une boa música e a tradição do churrasco gaúcho. Ou ainda desfrutar da farta gastronomia típica da região de colonização italiana em tantos outros restaurantes do roteiro.
Enoturismo e gastronomia no Vale
No Vale dos Vinhedos, o Grupo Famiglia Valduga apresenta inúmeras experiências enológicas e aproxima os visitantes do dia a dia da vinícola. Além disso, o espaço conta com seis pousadas e uma loja com os produtos próprios.
Neste período delicado, foram criadas ações como diárias com tarifas atrativas, preços diferenciados em serviços no restaurante e descontos especiais em vinhos e produtos da loja. O superintendente do grupo, Eduardo Luis Valduga, também projeta mais eventos colaborativos e casamentos, se fazendo valer da estrutura física e belas paisagens da região. A empresa tem informado quais são as rodovias e estradas que os turistas podem utilizar para chegar ao atrativo.
— Hoje, o principal investimento é em performar ainda mais a nossa estrutura, performar a equipe, treinar a equipe para se tornar cada vez mais qualificada, aumentando o volume e o número de experiências ao cliente — explica o superintendente.
Após um período de testes, a Giordani Gastronomia lançou em definitivo uma nova experiência gastronômica. Trata-se de uma sequência italiana, com rodízio de massas, galeto, costela de porco, aipim e polenta mole, além de música italiana. O serviço foi testado na unidade do bairro Planalto, nas sextas-feiras, e depois foi implementado no Vale dos Vinhedos aos sábados e domingos. O valor é de R$ 89,90, abaixo da tradicional sequência com massas e grelhados, que custa em torno de R$ 140 por pessoa.
Além disso, uma aposta são os eventos temáticos, como a primeira festa junina, que ocorreu em 22 de junho e recebeu 140 pessoas. Conforme Marcos Giordani, sócio-proprietário do atrativo, há focos claros na atração dos visitantes.
— Temos um potencial enorme na nossa região, estamos falando de mais de 1 milhão de habitantes na Serra, que estão a menos de duas horas de distância do nosso estabelecimento, é prático para o pessoal chegar. Além disso, agora, com a volta da Região Metropolitana, é um foco muito importante, porque o turismo de Bento Gonçalves, 60% é representado pelo Rio Grande do Sul, e neste momento estamos falando de mais de 90% — explica Giordani.
"Não tem em outro lugar do Brasil"
Entre os visitantes, o sentimento é de ajudar o Rio Grande do Sul a se reconstruir. Ao menos é o que pensa a professora paranaense Tania Mara Belusso Nichelle, que na última semana visitou Bento e Gramado ao lado marido, o contador Cidiclei Nichelle.
No início da semana, passaram por alguns empreendimentos do Caminhos de Pedra, como a Casa da Ovelha, que vende iogurtes, doces, queijos, cosméticos e peças de vestuário, além de contar com um parque. E ela destaca que foi uma escolha do casal visitar o Rio Grande do Sul neste momento:
— É lindo (o roteiro), é algo diferente, não tem em outro lugar do Brasil. Uma das nossas escolhas foi justamente isso (ajudar), porque é uma fase difícil para os gaúchos, e optamos por vir até para dar uma força, porque poderíamos ir para outros lugares — conta a professora.
O paulista Paulo Alexandre de Pauda, coordenador de uma rede de escolas em São Paulo, escolheu mais uma vez a Serra gaúcha como destino das férias. Está na região ao lado da esposa, a gaúcha Lurdes Paier, diretora da mesma rede, e da cunhada, Marilene Sebem Falcão, aposentada. O casal tem apartamento em Bento Gonçalves e espera se mudar em definitivo para a cidade após a aposentadoria.
Eles, que vieram ao Estado para a festa de aniversário da mãe de Lurdes, no início do mês, devem ficar até a próxima semana no Rio Grande do Sul. O roteiro passou por Garibaldi, Vale dos Vinhedos, Caminhos de Pedra, entre outros atrativos da cidade.
— Temos boas perspectivas, tanto de visitas como de estrutura, não há problema algum, pelo contrário. Além dos preços com desconto, a acolhida também (melhorou), tem sido até melhor do que de costume — explica Pauda.