Mais de R$ 2 bilhões foram gerados pelos rodeios e festas campeiras do Estado no ano passado, conforme estudo da Universidade Feevale em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do RS (Sedec-RS), que busca mapear o potencial econômico da cultura gaúcha e o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) estadual. Os dados da primeira etapa do levantamento foram apresentados na tarde desta terça-feira (6) durante o 35º Rodeio Crioulo Internacional de Vacaria, no galpão do músico e compositor gaúcho João Luiz Corrêa, na área central do Parque de Exposições Nicanor Kramer da Luz.
A pesquisa busca levantar o quanto de emprego e renda geram os segmentos do tradicionalismo. São analisados setores como os de produção de erva-mate, mercado do cavalo crioulo, rodeios e atividades em Centros de Tradições Gaúchas (CTGs). Ou seja, o valor total gerado pela cultura gaúcha, que deve ser descoberto ao fim de todo o estudo, é ainda maior do que os R$ 2 bilhões gerados apenas com as festas campeiras e rodeios.
— Isso vai dar luz à movimentação financeira e toda essa questão da cadeia produtiva, principalmente a geração de emprego e renda. Então, os incentivos para projetos culturais, com leis de incentivo público e também para iniciativa privada, que tem a oportunidade muito forte de entrar no segmento para lucrar com toda essa movimentação, com toda essa população que está envolvida. Não só na infraestrutura, mas os visitantes também — explica o professor da Feevale e economista José Antônio Ribeiro de Moura, que coleta os dados do estudo.
O secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, Ernani Polo, lembra que o estudo é inédito. Com os dados, a expectativa é de que políticas públicas e leis de incentivo possam ser desenvolvidas para os segmentos do tradicionalismo.
— A partir daí, nós podemos desenvolver políticas na qualificação profissional de pessoas que trabalham ligadas a essa atividade, seja na fabricação de pilchas, motor homes muito usados nos rodeios, e uma série de atividades voltadas aos rodeios, que são atividades que dão sustentação a muitas famílias. Toda essa economia acaba desenvolvendo e gerando emprego e renda — exemplifica Polo.
As próximas etapas do estudo incluem Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) e as respectivas festas, danças folclóricas, musicais e acomodações; o cavalo crioulo; a erva-mate e o chimarrão; e a radiodifusão. Conforme a assessoria da Feevale, a expectativa é de que seja finalizado ainda neste primeiro semestre de 2024.
Mais de 3,2 mil rodeios no Estado em 2023
Em 2023, até mesmo o número de festas campeiras e rodeios teve alta no Estado. De acordo com a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), foram 3.264, contra 2.823 em 2022. Ou seja, um aumento de 15%. A pesquisa levou em conta ainda os torneios de tiro de laço para chegar ao dado.
Quanto os rodeios geram no RS
Dados são de 2023 e fazem parte de levantamento inédito que busca mapear o potencial econômico da cultura gaúcha
Fonte: Feevale e Sedec-RS
— Os rodeios se tornaram tão populares no Rio Grande do Sul que são 3,2 mil festas por ano, uma média impressionante de mais de 60 a cada fim de semana — observa José Moura.
Conforme a pesquisa do Estado e Feevale, os maiores investimentos nestas festas ficam com as inscrições. Elas geraram R$ 980 milhões. O estudo dividiu os eventos em grande, médio e pequeno portes. Conforme a pesquisa, os rodeios de cada porte tiveram investimentos de R$ 800 mil, R$ 350 mil e R$ 150 mil, respectivamente.
Em seguida, o custo de manutenção dos animais gera R$ 375 milhões. A estimativa foi feita para 10 mil gados, levando em conta os investimentos com alimentação, hotelaria, transporte, vacinas e encilhas.
— Os números expressivos mostram que as entidades podem ser beneficiadas tanto a partir de leis de incentivo do governo, como de investimentos pelos empresários, que também são capazes de obter um grande retorno se apostarem neste segmento — explica Moura.
Depois, conforme a pesquisa, há os investimentos em aluguel de gado e gastos artísticos. A estimativa é que o primeiro caso gerou mais de R$ 240 milhões nos mais de 3,2 mil eventos. Já o gasto artístico, que leva em conta o pagamento de instrutor, ensaios de musical e coreógrafo de entrada e saída, chega a quase R$ 356 milhões. No caso dos gastos artísticos foram levados em conta os cinco grandes eventos do Estado: Enart, Premiart, Festmirim, Juvenart e FestXiru.
A pesquisa aponta ainda que o público dos rodeios investe mais de R$ 52 milhões anualmente. Outro grupo que injeta recursos para participar das festas gaúchas são os laçadores, com gasto de quase R$ 30 milhões com indumentária, como botas, bombachas, camisas, chapéus e lenços. Confira acima os detalhes.
De acordo com os pesquisadores, para chegar ao resultado, foram distribuídos mais de 800 questionários entre patrões de CTGs e organizadores de eventos. Também foram consultados representantes de entidades como Federação Gaúcha de Laço e Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG).
"Estamos movimentando a economia"
Para Anderson Oliveira, patrão do primeiro Centro de Tradições Gaúchas (CTG) de Caxias do Sul, o Rincão da Lealdade, este tipo de estudo é importante para quebrar uma visão distorcida de que eventos tradicionalistas se limitam a pessoas que se reúnem para se divertir e comer churrasco.
— Um rodeio, um festival ou outro evento vão muito além da apresentação da nossa arte, da nossa cultura. Nós estamos movimentando a economia, gerando empregos. São milhares de famílias envolvidas. Há uma movimentação gastronômica e de hotelaria enorme. Na parte dos cavalos, por exemplo, tem a alimentação, tem o transporte, a hospedagem, os veterinários... Se pegarmos a Semana Farroupilha de Caxias, só em diesel para manter os geradores, na última festa, foram quase 20 mil litros. Então, há todo um sistema em volta para fazer um evento desses acontecer e que muita gente nem imagina — argumenta Oliveira.
O patrão do Rincão da Lealdade ainda opina que a pesquisa pode ser aprofundada, considerando um leque maior de temáticas, o que dará uma dimensão mais clara sobre o potencial financeiro da cultura gaúcha em rodeios e festas campeiras.
— Vejo como uma pesquisa prévia (relacionada aos rodeios e festas campeiras). Poderíamos ainda levantar outras questões, como a locação de som, luz, palcos, o pagamento de hotelaria para comissões avaliadoras, os produtores culturais, o marketing e a comunicação desses eventos. É uma infinidade de coisas a serem elencadas.
Números da Serra
O coordenador da 25ª Região Tradicionalista (25ª RT), Rodrigo de Macedo Ramos, aponta números regionais para defender a grandiosidade da influência do tradicionalismo gaúcho na economia da Serra. Ele lembra que a 25ª abrange seis municípios (Caxias do Sul, Farroupilha, Flores da Cunha, São Marcos, Nova Pádua e Nova Roma do Sul), com registro de 137 entidades e mais de 10 mil participantes diretos.
— No setor econômico, em nossa região, temos mais de 100 eventos campeiros anuais. Entre eles, rodeios, festas campeiras, torneio de laços e cavalgadas. Durante o ano, também acontecem eventos artísticos e culturais, almoços, jantares e bailes — detalha.
O fomento da tradição gaúcha, na opinião dele, perpassa por investimento em diversos setores, fazendo com que a movimentação financeira seja constante.
— Há investimento desde o momento de se pilchar, que é usar o traje típico gaúcho, até o chegar no evento. A economia gerada é constante, podendo ter alguns meses de pico, decorrente de eventos maiores. Mas temos a certeza de que o tradicionalismo gaúcho, através das suas atividades, gera muito emprego e renda, sustentando muitas famílias e, automaticamente, gerando impostos. Uma parcela deles poderia ser usada exclusivamente para fomentar estas atividades, que, a cada dia, se tornam mais populares e gigantes — opina Ramos.