O colorido dos frutos maduros nos galhos indica que está na hora de uma das colheitas mais importantes do ano na agricultura de Caxias do Sul. O município tem o maior número de produtores de maçã no Rio Grande do Sul, de acordo com dados da Emater. São 184 famílias que trabalham com a cultura em pequenas e médias propriedades. Só que, neste ano, a expectativa de uma boa safra foi frustrada pelo clima de 2023. A projeção da Secretaria Municipal de Agricultura é de quebra de 30% na produção.
O principal motivo é a baixa quantidade de horas de frio registradas no inverno de 2023. A maçã é uma fruta que precisa desse clima para se desenvolver. São, em média, 500 horas de temperaturas mais baixas para garantir uma produção adequada. Outro problema foi a chuva excessiva durante o período de brotação, dificultando a polinização da planta. Esses aspectos somados à geada tardia e ao granizo registrado no município projetam uma queda na quantidade de fruta colhida nesta safra.
A propriedade da família do Valdir Scariot, localizada em Fazenda Souza, produz, em média, 500 toneladas da fruta por ano. Em 2024, a projeção é de queda de 60%.
— Este ano foi o pior dos últimos tempos. Ano passado estava bem melhor. Pela produção que tinha no passado a planta estava bem preparada, podia ter uma safra normal, mas não teve. E agora no próprio verão não tem luz solar. Durante a semana tem dois dias de sol e praticamente cinco sem — explica o produtor.
A colheita começa em janeiro e segue até abril. Com menos produto no mercado, o preço deve subir. O impacto ainda não é sentido na Ceasa e nas fruteiras da região, já que o produto que está nas prateleiras é ainda da safra do ano passado mantido em câmaras frias. Mas a projeção não é otimista.
— Toda vez que se tem menos produção, tem menos oferta. Com isso acaba tendo um valor um pouco maior. Até porque isso é normal do mercado. Claro que hoje o prejuízo que o agricultor vai ter por conta de todo esse fator climático não será compensando nesse valor maior. É um ano muito difícil na agricultura em geral — explica o secretário de Agricultura de Caxias do Sul, Rudimar Menegotto.
Safra tardia por conta das chuvas
A colheita da maçã em 2024 não será realizada toda de uma vez. A constatação é da Associação Gaúcha dos Produtores de Maçã (Agapomi), que projeta a retirada das frutas em até quatro etapas. Isso porque o alto volume de chuva registrado no Estado a partir de setembro fez as macieiras terem mais de uma florada.
De acordo com José Sozo, presidente da Agapomi, as 450 mil toneladas previstas para esta safra começarão a ser colhidas enquanto frutas de outras floradas seguirão o processo de amadurecimento.
— Tivemos em três meses praticamente toda a chuva de um ano inteiro. Não deu tempo para um florescimento orgânico, as abelhas não trabalhavam na polinização sem que viesse outra chuva e derrubasse tudo. Então temos na planta até cinco floradas, ninguém nunca conviveu com isso. Vamos colher até 20% e voltaremos pra colher outros 20% e assim por diante — explica.
Responsável por 88% de toda a maçã colhida no Estado, Vacaria se prepara para iniciar a colheita a partir da segunda semana de fevereiro. Em condições normais, em anos menos chuvosos, os trabalhos se iniciariam na última semana de janeiro. A primeira variedade a ser colhida, até março, é a gala, que corresponde a 70% de toda a produção.
Para os trabalhos, até 12 mil empregos temporários foram abertos e estão, segundo a Agapomi, sendo preenchidos com mão de obra vinda principalmente dos estados como Mato Grosso e Alagoas.
— Tem bastante trabalho pela frente. Será uma safra parecida com a do ano passado, mas com um fruto um pouco menor. Devemos colher o mesmo que Santa Catarina e preencher a expectativa nacional de 1 milhão de toneladas neste ano — projeta Sozo.