Palavras que brilham aos olhos dos clientes, "liquidação" e "desconto" estampam de forma atrativa as vitrines do comércio de Caxias do Sul. Basta circular pela área central da cidade para ser impactado pelos inúmeros anúncios de promoção. São abatimentos que partem de 20% e podem chegar a 50%, principalmente nas lojas dedicadas ao vestuário. A explicação? Faltam dias de frio no inverno gaúcho neste ano. Sem um dos principais ingredientes da estação, a estratégia adotada pelos lojistas tem sido a de antecipar as tradicionais liquidações e reacender o desejo de comprar nos consumidores.
Se as promoções representam um alívio para o bolso do cliente, para os lojistas podem se tornar motivo de preocupação. É que as ofertas mais agressivas, com descontos generosos, geralmente são deixadas para o período final de cada estação, como forma de dispensar as peças que sobram. Neste ano, o cenário é outro: sem vendas convincentes, as liquidações são apostas para tentar amenizar os prejuízos e também liberar espaço para as coleções que estão por vir.
— Percebemos uma antecipação nas promoções de inverno neste ano, em função justamente da baixa incidência do frio. Isso tem aparecido nas pesquisas de intenção de compras da CDL Caxias e no próprio desempenho de vendas de itens do vestuário, como roupas e calçados, por exemplo. No mês de junho, tivemos uma queda nas vendas de quase 12% destes itens, que estão entre os mais vendidos do período e que, neste ano, acabaram ficando estocados em função da expectativa não confirmada até agora de dias com frio mais intenso — observa o gerente administrativo financeiro da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Caxias, Carlos Alberto Cervieri.
Gerente de uma tradicional loja de roupas na Rua Garibaldi, Marilia Agostini caracteriza como péssimo o desempenho das vendas de inverno. Se em 2022 faltou produto, fazendo com que o estabelecimento tivesse que recorrer aos fornecedores, neste ano jaquetas e casacos se acumulam entre as araras. Para além de ocuparem espaço, as peças representam um investimento alto que está parado, sem gerar lucro para o negócio.
— (Em 2022) Foi um inverno longo e rigoroso. Fomos em busca de mais mercadoria e não encontrávamos. Chegou no fim do ano, fomos nos preparar para o inverno. Compramos muita mercadoria para uma estação como a do ano passado. O resultado? Se tivemos cinco dias de frio intenso, foi muito. Foi um fracasso. Aí entramos com a liquidação, que é uma coisa que o cliente gosta, mas, para a empresa, é uma alternativa para tapar um buraco, de correr atrás — avalia Marilia.
A gerente conta que as promoções ocorrem desde junho, mês que seria o ponto alto das vendas em outros anos. Agora, a expectativa é de recolher as peças de frio nas próximas duas semanas e concentrar a esperança nas vendas de verão.
"Os clientes procuram peças baratas"
Em uma loja de roupas da Avenida Júlio de Castilhos, cartazes e a fachada do estabelecimento anunciam desconto de 50% em todos os produtos. Para reforçar ainda mais o desconto, oferecido há cerca de duas semanas, um funcionário portando um microfone leva a informação para quem está na rua. A soma de estratégias, segundo o gerente Bara Seck, tem dado resultados em um ano com inverno atípico.
— As liquidações estão ajudando nas vendas porque os clientes procuram peças baratas. A gente estava com uma jaqueta por R$ 149, mas ninguém olhava. Colocamos a R$ 75 e vendemos mais de 200 em um dia — revela o comerciante, acrescentando que, geralmente, as ofertas de inverno são deixadas para o fim de agosto.
Em outro estabelecimento, também na Avenida Júlio, o desconto é de 50% para jaquetas e toucas, e 20% para os casacos de moletom. A promoção ocorre desde julho, diante da estação com as temperaturas mais amenas. As peças de verão, que geralmente completam as araras mais para o fim do ano, já estão à mostra e ocupando as sacolas de parte dos consumidores, conforme o gerente Jeferson Santigo de Oliveira:
— Tem saído bastante camiseta e até bermuda, mas não é uma venda tradicional do mês de agosto. São produtos que iniciariam em outubro, novembro, mas, neste ano, estão sendo vendidos mais cedo — comenta.
Preços são mantidos em lojas de eletrodomésticos
De cinco lojas de eletrodomésticos visitadas pela reportagem na tarde de quinta-feira (10), apenas duas estão com oferta para produtos considerados de inverno. Em uma delas, na Rua Sinimbu, o desconto de 15% tenta chamar a atenção de consumidores que desejam adquirir uma secadora de roupa. Sem frio constante e com dias de sol predominando nas últimas semanas, o produto tem sido deixado de lado na hora da compra.
— Queremos escoar este produto para termos, daqui a pouco tempo, os produtos de verão, como os ventiladores, piscinas e climatizadores — resume o gerente da loja, Ariel Berti Brando.