O balanço econômico divulgado nesta terça-feira (13) revela um desempenho negativo do comércio caxiense em três dos quatro primeiros meses de 2023. Quando analisado apenas abril, as vendas do setor ficaram 4,84% menores em comparação com o mês anterior. Além do quarto mês do ano, os dados já haviam ficado no vermelho em janeiro (-5%) e em março (-2,6%). O único período com registro de crescimento foi fevereiro, com incremento de 0,9%. Os dados, divulgados na nesta terça-feira (13), compõem o relatório de Desempenho da Economia de Caxias do Sul, organizado pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias (CIC) e pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL).
O assessor de Economia e Estatística da CDL Caxias, Mosár Leandro Ness, diz que o cenário gera preocupação para o varejo e acende um alerta diante possível redução de consumo na cidade. Ele atribui a baixa nas vendas às condições climáticas, com a demora na chegada das baixas temperaturas.
— Sem a chegada do frio, que é o nosso principal vendedor para o vestuário, nós não conseguimos performar bem. Em abril, tivemos a Páscoa, que é uma data comemorativa bem forte, que acredito que não nos fez perder tanto. Em maio, acredito que tenhamos um desempenho um pouco melhor em função do Dia das Mães — observa o economista.
Conforme o Termômetro de Vendas da CDL, indicador usado para avaliar o desempenho econômico do setor, entre os segmentos que tiveram resultado negativos em abril estão, por exemplo, os automóveis, caminhões e autopeças novos (-9,79%); implementos agrícolas (-8,77%); material de construção (-7,96%); eletrodomésticos, móveis e bazar (-2,9%), materiais elétricos (-2,37%) e óticas, joalherias e relojoarias (-0,93%).
Embora abril tenha apresentado redução nas atividades, o acumulado dos 12 meses se mantém positivo, com crescimento de 12,2% no período. Carlos Alberto Cervieri, gerente Administrativo Financeiro da CDL Caxias, direciona as expectativas para uma situação melhor nos próximos meses.
— O comércio está com uma estabilidade para baixo. Mas olhando o copo meio cheio, como costumo dizer, temos, agora, a entrada do frio, onde são comercializados os produtos de maior valor agregado e, por óbvio, movimenta o comércio e movimenta a indústria têxtil também — avalia Cervieri.
Indústria também apresentou desaceleração em abril
Os dados divulgados no relatório demonstram que a economia de Caxias do Sul teve queda de 3,1% em abril, puxada também pela indústria que, da mesma forma que o comércio, registrou -4,8% na comparação com março. Os serviços, por sua vez, tiveram crescimento de 1% no período. No acumulado de 12 meses, a economia da cidade cresceu 2,9%. Veja mais no quadro* abaixo.
Em relação à indústria, conforme o relatório, os indicadores mais prejudicados no mês de abril foram as horas trabalhadas e compras industriais, com queda de 11,4% e 10,3%, respectivamente. O diretor de Planejamento, Economia e Estatística da CIC Caxias, Tarciano Melo Cardoso, opina que a situação do setor é impactada pelo nível de confiança dos empreendedores e pela falta de clareza nos programas de governo.
— Se há um risco de desaceleração da economia, um risco de desemprego, você vai poupar as suas contas, vai retrair. Não é diferente dentro da indústria, nem mesmo no comércio e com o empreendedor. Quando ele (empresário) não vê as coisas muito claras, transparentes, um plano de governo bem formado (...) inibe o investidor a investir, expandir, a trazer mais equipamentos e fazer novos produtos. Então, todo mundo está em stand-by (modo de espera), aguardando o que vai acontecer, as definições em Brasília, para que se possa fazer os movimentos normais de mercado — aponta Cardoso.
Outra preocupação latente apontada pelos especialistas durante a coletiva é sobre a qualificação da mão de obra.
— Hoje, você pega um profissional e tem que treiná-lo do zero. Você tem que ensiná-lo a fazer as coisas, sendo que a universidade, os cursos, preparam para isso. Vemos dificuldades na formação da escrita, cálculo, interpretação de texto... Então, são dois fatores que temos hoje no Brasil: falta de clareza nos programas de governo e uma educação precária — avalia o diretor de Planejamento, Economia e Estatística da CIC.
Em abril, a indústria de Caxias teve a criação de 417 vagas, situação avaliada com bons olhos pelos especialistas. Foram 2.508 admissões contra 2.091 demissões. O estoque na cidade conta com 160.895 empregos formais.
Mercado externo: retração nas importações e nas exportações
No quarto mês do ano, tanto o desempenho das exportações quanto das importações diminuíram na comparação com março. A exportação teve redução de 18,3%. Já as importações sofreram queda de 20,5%.
Já saldo da balança comercial sofreu diminuição de 14,4% no período. O desempenho é positivo, porém, em relação a abril de 2022, com crescimento de 30,6%, e no acumulado de 12 meses, com 90,7%.
Os principais países de destino das exportações caxienses em abril foram Estados Unidos, Chile, Argentina, Uruguai e México. Já as importações se originaram da China, Itália, Alemanha, Estados Unidos e Japão.
"A palavra para o momento é preocupante, mas o varejo nunca desiste"
Para a fundadora e diretora da rede Drops de Menta, Marcia Costa, o cenário atual do comércio está atrelado, principalmente, à isenção de cobrança de impostos sobre os produtos importados por plataformas online do Exterior. Em março, o governo federal começou a discutir sobre a taxação de compras feitas em lojas online da China, como Shopee e Shein com valor até US$ 50 entre pessoas físicas, que hoje são isentas de tributação. O fim da isenção, válida para envio de pessoa física para pessoa física, chegou a ser anunciado pelo Ministério da Fazenda e pela Receita Federal em 11 de abril, contudo, diante da pressão, houve recuo da decisão uma semana depois.
— Faz alguns meses que viemos sofrendo bastante. Vemos isso pelo número de lojistas em recuperação judicial, os fechamento de lojas... É tanto uma dificuldade financeira quanto baixo consumo dos produtos. Acredito também que uma das causas principais é a concorrência desleal com sites de fora do país. O produto deles chega aqui com zero tributação e, às vezes, as pessoas (clientes) não conseguem visualizar que esse produto não está ajudando a ter um policial nas ruas, um professor nas escolas ou um médico nos hospitais. Ela não consegue visualizar que comprando de empresas locais ela valoriza o país pois deixa impostos aqui. A arrecadação sofre uma perda e a comunidade também vai perder — opina Marcia.
A empresária menciona ainda que o fator climático, com a chegada tardia do frio, além de uma sensação de insegurança política também impactam o setor.
— A falta de frio influenciou, sim, na queda do varejo e os fatores políticos causam incerteza no consumidor e um pouquinho de falta de ânimo na hora compra. A grande palavra para o momento é preocupante, mas o varejo nunca desiste, estamos sempre correndo atrás da máquina, mostrando um bom serviço para o nosso cliente — acrescenta Marcia.