"Onde está a uva, dá azeitona". É assim que o presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), Renato Fernandes, explica a relação que vem sido consolidada entre a Serra gaúcha e os oliveirais. Se o pontapé para a cultura surgiu em 1899, em Antônio Prado, foi somente nos últimos 10 anos que foi visto de forma comercial. Agora, a produção começa a se expandir na Serra e mais de 10 municípios já têm oliveiras dando frutos com a finalidade de produzir azeites.
No total, segundo o Cadastro Olivícola do Rio Grande do Sul, feito pelo governo do Estado, em 2022, 14 municípios da Serra cultivam, o produto, somando 246,8 hectares de produção e 26 produtores. Fernandes relata que, atualmente, seis municípios da região já olham as azeitonas com potencial econômico e também turístico: Vacaria, Farroupilha, Gramado, Bom Jesus, São Francisco de Paula e Bento Gonçalves. Entretanto, até o momento, ainda está em fase inicial e nenhuma prefeitura já tem um programa consolidado para explorar o setor econômico e turisticamente.
— Não tenho dúvidas que vai aumentar, numa escala maior. Nós temos uma similaridade muito grande entre a uva e a azeitona, em todo o mundo, a gente sabe que onde está a uva, dá azeitona também. Agora, falando em produtividade, condições de plantio, eu acredito que o grande desenvolvimento segue no Pampa e na Campanha — explica o presidente do Ibraoliva, referindo-se às áreas de potencial terroir (conjunto de fatores, como clima e topografia) para a cultura.
Mesmo assim, há um grande aposta pela instituição para que a Serra tenha uma representatividade importante dentro do cenário de produção de azeite de oliva no Rio Grande do Sul.
— Tudo é muito novo, a gente tem visto que produtores da Serra têm tido azeites maravilhosos. Existem pomares novos, que estão amadurecendo e, em breve, (a Serra) vai ter uma representatividade bem importante — analisa Fernandes.
Com pouco mais de 15 anos, um estudo da Embrapa Clima Temperado mapeou, por zonas, área do Estado que variam de "não recomendável" a "preferencial". Conforme o pesquisador do instituto, Rogério Oliveira Jorge, alguns municípios como Caxias do Sul, Farroupilha, Bento Gonçalves e Gramado têm áreas recomendáveis para plantio.
— Temos plantio em Vacaria, por exemplo, que não tem áreas recomendadas para plantio. Esse zoneamento é feito em cima de uma escala geográfica, ele não tem um detalhamento como se fosse uma análise in loco, ele te dá uma análise geral em cima do clima. Quando a gente faz uma observação para algum investidor, que queira plantar na área, eu pego as coordenadas geográficas, coloco no sistema e ele localiza essas áreas — exemplifica Jorge, que salienta que, ao final, uma análise in loco sempre é recomendada.
O pesquisador ainda explica que grande parte dos azeites produzidos no Brasil vai para o laboratório da Embrapa para serem certificados. Um outro laboratório fica em São Paulo. O fato de não ter lagar - aparelhos para espremer frutos, como a azeitona, para extrair líquido - na Serra que produza azeite de oliva, faz com que não haja as produções - de oliveira e azeite - no mesmo local.
Com isso, empresas que produzem oliveiras na Serra acabam levando o fruto para parceiros para fazer a extração. É o caso do Olivas de Gramado, que tem sua produção no município da Região das Hortênsias e leva para Viamão para a extração do líquido que virará azeite.
— Este ano a gente teve uma maior produção de manzanilla, de frantoio e da picual, que são azeitonas maiores e que tem uma rentabilidade maior, então a proporção quilos/litro vai aumentar em relação ao ano passado. A gente também faz um trabalho de esfolhamento aqui, para a fruta chegar mais limpa, aí eles não têm muito o que fazer de triagem — explica o azeitólogo, André Bertolucci.
Ao todo, foram colhidas 10,5 toneladas de azeitonas e a produção de azeite extravirgem, deste ano, deve ser de 1,34 mil litros, conforme Bertolucci. Atualmente, o Olivas tem cerca de 12,3 mil oliveiras de seis variedades. O local já investe no turismo, com trilhas em um bosque e restaurante com happy hours. O valor para visitar é R$ 119.
— A partir do azeite extravirgem, a gente criou uma linha de infusões aromáticas, que são especiarias in natura, que passam por um tratamento térmico e que são infudidas numa base de azeite de oliva extravirgem. Tem de limão-bergamota com baunilha, limão siciliano, de canela e o azeite de chocolate, que é o primeiro da América Latina. Só existe um no mundo que é um outro processo, que os franceses fazem, usando óleo essencial, a gente usa o cacau in natura — comenta o azeitólogo.
Além das infusões, o Olivas criou uma linha de cosméticos, feita com base no azeite, e também licores, cachaças e chope. Todos os produtos são feitos em parceria com empresas da região e do Estado. Bertolucci diz que a Akor faz os cosméticos, a Cachaçaria Ranaluti faz os destilados e a Stier, de Igrejinha, faz o chope de oliva. Durante o inverno, uma edição especial de chocolate de oliva também é produzido em parceria com a Prawer.
— A gente prima por isso, fazer parcerias na região para criar e desenvolver novos produtos a base de azeite de oliva.
A RAR também é uma produtora de oliveiras da Serra, com plantio em Vacaria. Com 30 hectares de cultivo, de acordo com o coordenador da produção, Mateus Dalsolio, a fruta é levada para extração no município de Pinheiro Machado, na região da Campanha gaúcha.
— Estamos procurando um parceiro mais perto, conversamos com um pessoal de Ipê, que talvez no próximo ano a gente comece a fazer. Fizemos um teste, com poucos quilos, só pra ver como era a máquina e foi bem. Isso melhora a qualidade do azeite — opina Dalsolio.
O coordenador analisa que, como são apenas 30 hectares de plantio, não compensa a compra de maquinário para fazer a extração.
— Agora que está surgindo mais plantio (na Serra), acho que em poucos anos vai ter um lagar aqui (na região) que vai ficar próximo aos plantios. Hoje se faz lá embaixo porque na fronteira (Sul), com o clima seco, a oliveira se desenvolveu mais rápido, então surgiu primeiro lá — complementa o colaborador da RAR.