CORREÇÃO: o prefeito de Farroupilha, Fabiano Feltrin, relembrou que a Fenakiwi trouxe o centro de compras como um legado do turismo de inverno, somado à tendência da produção de kiwi e não de figo, como publicado. A informação incorreta permaneceu publicada das 7h às 21h15min desta segunda-feira (10). O texto já foi corrigido.
A serra gaúcha é uma verdadeira fábrica de festas comunitárias que celebram as tradições culturais com fartura de produtos coloniais, muita gastronomia e manifestações artísticas que remetem aos costumes trazidos na bagagem dos imigrantes de diferentes etnias que colonizaram os municípios da região. Iniciativas que atraem a população local e muitos turistas, movimentando a economia dos municípios, não apenas com os setores envolvidos diretamente com os eventos, mas beneficiando toda uma cadeia dentro das cidades, como hotéis, comércio, restaurantes, receptivos e transportes.
Na Serra, as opções são para todos os gostos com uma gama de atrações culturais de diversos costumes nas diferentes épocas do ano. Basta ver alguns exemplos: FenaMassa, em Antônio Prado; Fenavinho e ExpoBento em Bento Gonçalves: Fenakiwi e Encontro de Tradições Italianas (Entrai), em Farroupilha; Fenavindima, em Flores da Cunha; Fenachamp, em Garibaldi: Festa do Figo e Festival Internacional de Folclore, em Nova Petrópolis, entre muitas outras.
Caxias do Sul, por exemplo, teve em fevereiro e março a Festa das Colheitas, que atraiu mais de 40 mil pessoas em três finais de semana. O evento foi uma oportunidade para produtores rurais e artesãos exporem seus produtos, além de fomentar negócios do setor de gastronomia e do comércio em geral.
Um exemplo disso ocorreu com o produtor de hortifrútis Daniel Zanette, 60 anos, que foi um dos expositores da Festa das Colheitas. O agricultor tem pomares frutíferos em Criúva, Santa Lúcia do Piaí, Vila Seca e Fazenda Souza. A produção de laranjas, maçãs e peras de Zanette foi exposta na entrada da feira. Segundo ele, mais de 100 quilos de frutas foram disponibilizados ao público.
— A Festa da Colheita nos surpreendeu, estava muito boa. Eu levei meus produtos para expor, e não para a venda, mas valeu muito a nossa participação.
As frutas produzidas pela família viajam para abastecer os Estados de Espírito Santo, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo Zanette, toda semana tem colheitas nas propriedades, garantindo sempre frutas frescas aos clientes. E lógico, um evento comunitário sempre é uma boa vitrine.
No caso da Festa das Colheitas, o presidente da Comissão Comunitária da Festa da Uva, Fernando Bertotto, salienta que o evento não tem o objetivo de gerar lucros, mas o orçamento é elaborado para evitar prejuízos. A festa foi custeada com um aporte da prefeitura, com venda dos estandes aos expositores e dois pequenos patrocínios do setor privado. Nesta última edição, não houve uma estimativa de vendas contabilizada pela organização.
— Observamos todos satisfeitos na Festa das Colheitas. No primeiro final de semana, já foi possível pagar os valores gastos. Conversando informalmente com o proprietário de uma empresa de colchões, ele vendeu meio milhão de reais só na feira.
As festas da Uva e das Colheitas têm na essência as tradições da colonização italiana, mas o tamanho entre os dois eventos é a principal diferença. A Festa das Colheitas ficou disposta no Centro de Eventos dos Pavilhões, envolvendo 300 pessoas na organização. Já a Festa da Uva ganha dimensão, pelo menos, cinco vezes maior, espalhando-se por todo o parque.
Segundo estimativa de Bertotto, mais de 7 mil pessoas são contratadas de forma direta e indireta para a maior festa de Caxias do Sul.
Cidade fica pequena para o maior evento de Caxias
A Festa da Uva costuma deixar Caxias pequena para receber tanta gente. A última edição, em 2022, reuniu mais de 350 mil visitantes, incluindo o público no parque, nos desfiles, nos shows e nos jogos coloniais. Só de expositores, foram 250 nas áreas de indústria, comércio, serviços, além de entidades e patrocinadores. A uva, grande atração do evento, teve 100 toneladas distribuídas aos visitantes. Apesar deste movimento todo, a festa fechou com um prejuízo de R$ 3,1 milhões, mas a expectativa é de que o próximo evento deixe esse número negativo para trás.
– Com as receitas obtidas e as despesas, ficamos com um débito de R$ 3.148.353,11. Buscamos, via Lei de Incentivo à Cultura (LIC) federal, o montante de R$ 2.874.465,00. Entretanto, ela não foi publicada a tempo de ser captada durante a realização da festa, mesmo passando por todos os trâmites devidos – justificou Fernando Bertotto.
Diversos fatores foram elencados como os responsáveis por este prejuízo, dentre eles, a Festa das Colheitas de 2020, que teve somente o primeiro final de semana – os outros dois precisaram ser cancelados devido à pandemia. Então, quem já tinha comprado os estandes teve que ser bonificado durante a Festa da Uva subsequente. Outro fator que colaborou com o prejuízo foi o receio de as pessoas se infectarem com a covid-19, o que se refletiu em um público menor do que o esperado.
Um exemplo disso são as excursões de outros Estados, que sempre estão presentes, mas, na edição passada, os grupos que tradicionalmente vêm de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro não compareceram. Isso diminuiu o fluxo de pessoas e também o giro da economia em estabelecimentos da cidade.
– Essas excursões vêm do Nordeste ao Sudoeste do país. São um público grande, que vem nos desfiles, visita a cidade e se espalha pela Serra depois – exemplifica Bertotto.
Com isso, a última edição foi mais regional. Para ter uma dimensão sobre o envolvimento comunitário, a Festa da Uva 2022 teve 11 distritos representando a força do interior. Eles distribuíram 6,7 mil quilos de polenta, 3,5 mil quilos de salame e 4 mil quilos de queijo. Os Jogos Coloniais contaram com a participação de 15,5 mil pessoas. E nos palcos show nacionais e artistas locais. A taxa de ocupação da rede hoteleira, que antes da festa variava em 35%, durante o evento subiu para 60%. Durante a última edição, a rede hoteleira de Caxias, fez uma força-tarefa com a festa. De acordo com Bertotto, os hotéis fizeram promoções e pacotes para as pessoas se hospedarem durante todo o final de semana, aproveitando a festa e outros pontos turísticos.
Na opinião do secretário municipal de Turismo, Ricardo Daneluz, os valores aplicados nestas festas comunitárias, que, segundo ele, geralmente são criticados, precisam ser vistos como investimentos, já que eles resultam em benefícios para vários setores da comunidade. O município aplicou R$ 4,5 milhões na Festa da Uva de 2022 e R$ 1,4 milhão na Festa das Colheitas.
– Ouvimos que esse valor poderia ser investido em outras áreas, como a saúde. Mas, durante uma Festa da Uva, gera-se para a economia de Caxias um acréscimo de R$ 250 milhões, isso ao comércio, ao posto de combustível, ao hotel. Com os impostos pagos por essas empresas, a prefeitura consegue reverter esse dinheiro em investimentos para as áreas de saúde e educação, entre outras.
Apesar de a próxima Festa da Uva ser apenas no ano que vem, o evento já mexe com a comunidade caxiense. É que uma das grandes atrações neste período pré-festa é a escolha das soberanas, que será no dia 26 de agosto e tem as inscrições abertas para candidatas até 15 de abril. As secretarias de Agricultura, Cultura e Turismo, os pilares da festa, já estão trabalhando. Em breve, devem ser definidos o tema e o layout da próxima edição.
– (O formato do) O mapa não teve discussão ainda, mas nosso objetivo é dar ênfase maior na feira agro. Imagina-se que passarão dos 300 expositores no ano que vem e o público deve superar os 400 mil visitantes.
"Todos ganham"
O sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria da Região Uva e Vinho (Segh), por meio do presidente, Marcos Antônio Ferronatto, destaca que as festas comunitárias agregam valor ao município e aos empresários associados. A Festa da Uva, por exemplo, segundo a entidade, é referência e símbolo para Caxias e região. Ou seja, traz visibilidade e posicionamento ao município, além do desenvolvimento, pois projeta vários setores da economia, principalmente o turismo.
Segundo levantamento do sindicato, nos anos em que o evento ocorre, há um acréscimo significativo na hospedagem local, algo próximo a 20% na taxa de ocupação dos hotéis. Aos finais de semana, a hotelaria chega a 100% de ocupação. Ferronato salienta que fevereiro e março são meses de baixa temporada, portanto a festa é muito bem-vinda nessa época do ano.
– Na gastronomia, o fluxo é menor, mas acontece. Com a oferta no parque, por comodidade e agilidade, o grande fluxo se concentra no local. Mas o importante é que o evento gera divisas e assim todos ganham. Aplaudimos a realização da Festa da Uva, da Festa das Colheitas e outras que venham para agregar – festeja o presidente.
E não é só em Caxias que a entidade percebe esse aumento. Quando eventos são realizados em outras cidades da região, o reflexo é percebido também nos municípios vizinhos. Na Fenavinho, por exemplo, após esgotarem as reservas em Bento Gonçalves a procura por hotéis se estende para Caxias do Sul e Farroupilha.
– As festas e feiras regionais agregam muito para a gastronomia e a hotelaria da região. Nos últimos finais de semana com as programações de vindima em toda a região, os restaurantes estavam lotados.
Não são apenas os visitantes que ficam hospedados e usufruem da gastronomia dos municípios. Segundo levantamento do Segh, expositores e fornecedores dos eventos também precisam de quartos e acabam contribuindo para a ocupação hoteleira.
Identidade, autoestima e outros setores valorizados, ressalta turismóloga
As festas comunitárias representam a identidade de boa parte dos municípios da Serra, segundo a consultora em turismo e turismóloga Ivane Fávero. Quando bem investidas e modernas, também agregam valor ao produto homenageado.
– Por exemplo, a Fenachamp, de Garibaldi, agregou valor quando se modernizou. O consumidor não quer mais a mega oferta, pagar um valor barato e beber espumante de baixa qualidade em torneiras. Eles vendem a experiência, mais tranquila, qualificada, se prova os melhores produtos, sentados a mesa com serviço de garçons e shows – elenca Ivane.
De acordo com ela, as festas transferem valor automaticamente aos demais segmentos presentes no município, como gastronomia e indústria, entre outros. Elevam também serviços, hotéis, restaurantes, guias, transporte e comércio, mas desde que se alinhem ao evento.
– Um erro que se vê é que o comércio local não busca um alinhamento com a festa. Precisa disponibilizar horários de atendimentos focados no turista – cita.
Outro ponto positivo das festas comunitárias apontados pela turismóloga é a retomada da autoestima da população. Na visão dela, a comunidade tem o sentimento de pertencimento e participa com orgulho das atividades desenvolvidas. Também permite que artistas locais se promovam, levando o nome do município para outros pontos. As festas comunitárias agregam para a região turística como um todo, diz a especialista no tema.
Ivane acredita que a realização de uma festa comunitária necessita do aporte do poder público ou de leis de incentivo, pois sozinhas, não conseguiriam se manter apenas com a venda dos estandes ou com a cobrança de ingresso. Por isso, esses eventos devem ser considerados como um investimento no turismo local, integrado aos outros 365 dias do ano.
Forças mobilizadas em Bento Gonçalves
Em Bento Gonçalves, a Festa Nacional do Vinho (Fenavinho) nasceu em 1967 e ocorreu até 2011, ano da 15ª edição. Porém, o evento promovido pelo Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CIC-BG) não estava rendendo o lucro esperado. Por isso, ficou em suspenso por oito anos, retornando em 2019 em parceria com a ExpoBento, no Parque de Eventos de Bento Gonçalves.
– A ideia de unir as duas festas veio pela dificuldade financeira de manter a Festa Nacional do Vinho. Após as renegociações das dívidas com os fornecedores, em 2019 foi possível a união e a realização – comenta Marijane Paese, presidente do CIC-BG.
A festa contempla a colheita da uva e a farta gastronomia. A última edição conjunta ocorreu em 2022, com a 30ª ExpoBento e a 17ª Fenavinho. O evento contou com mais de 450 expositores, que ofereceram 30 mil produtos e 120 apresentações artísticas aos 276 mil visitantes que estiveram pelo parque. Desse público, 46% eram de fora do município; 5% e outros Estados; 14% da região Metropolitana e 59% da Serra. Marijane concorda que as festas movimentam boa parte da economia local.
– Não é só o pessoal que está na feira, os hotéis, os restaurantes e demais pontos turísticos da cidade aproveitam esse público. Além da feira, muita gente volta pra conhecer nossas vinícolas e fazer passeios na cidade.
Por ser uma entidade empresarial, a CIC não visa lucros com a festa, mas, sim, para o empresariado local. De acordo com a presidente, na última edição a Fenavinho proporcionou R$ 40 milhões em negócios aos expositores. Desses, R$ 700 mil foram para a agricultura familiar e pequenos negócios. Havia 32 municípios representados.
A próxima edição, programada para os dias 8 a 18 de junho terá, segundo a organização, mais de 450 marcas. A direção estima que a geração de negócios ultrapasse R$ 50 milhões em relação a 2022. Será a quarta vez que a Fenavinho e a ExpoBento estarão unidas para garantir uma bela experiência das tradições. Uma das empresas beneficiadas e que integra o setor em Bento é a Giordani Turismo, que disponibiliza passeios e atividades em Bento. De acordo com a gerente de marketing, Cristiane Tomazini, durante a Fenavinho, os passeios crescem 10%.
O coordenador do comitê da 18ª Fenavinho, Rodrigo Valério, adianta que a arquitetura lembrará as heranças da imigração italiana. Já no espaço da ExpoBento, de acordo com o diretor-geral da feira, Bruno Benini, além de todos os produtos típicos do comércio local, haverá espaço para envolver esporte e tecnologia.
— Projetos temáticos como o e-sports, arena de jogos eletrônicos, novidades tecnológicas, espaço para a prática de esportes e shows nacionais farão parte da grade de atrações da feira com ainda mais força neste ano — complementa Benini.
Valério lembra que, em 1967, quando a história do evento começou, Bento Gonçalves tinha 40 mil habitantes (hoje são quase 122 mil) e nenhuma ligação viária de fácil acesso com os municípios vizinhos ou ainda a Capital. Por isso, na visão dele, a Fenavinho ao longo dos anos deu visibilidade a cidade e trouxe benefícios ao município. A Expobento surgiu em 1990.
—Temos a meta de bater a marca dos 300 mil visitantes circulando no Parque de Eventos de Bento Gonçalves na edição anterior — destaca Benini.
Fenavindima une gerações em Flores da Cunha
Flores da Cunha é um dos maiores produtores de uva e vinho do Brasil. Por conta disso, nada mais natural que a cidade se transforme em palco da Festa Nacional da Vindima (Fenavindima). O evento dura três finais de semana, entre fevereiro e março. É organizado pela Associação Comunitária Fenavindima a cada quatro anos.
Na edição de 2020, realizada dias antes de todo o país parar por conta da pandemia de covid-19, cerca de 100 mil pessoas passaram pela festa. Na feira multisetorial, 280 produtores da fruta, oito agroindústrias, 10 vinícolas e 25 da área comercial estiveram expondo. De acordo com prestação de contas do presidente da associação, Darci Dani, a 14ª Fenavindima, teve investimento de R$ 593.823,97, com arrecadação de R$ 659.393,39. O público pagante foi de 30 mil pessoas.
O lucro dos eventos fica disponível para a associação fazer atividades socioeducativas no município. O custeio da festa é da prefeitura, de patrocinadores, da compra de espaços dos expositores e bilheteria. Também são buscados apoios financeiros via leis de incentivo à cultura estadual e federal.
O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação, Tiago Centenaro Mignoni, destaca que a festa começou nos anos 1960 e traz até a atualidade a memória cultural dos antepassados.
– Proporciona recordações, de pai para filho, do avô querendo mostrar para o neto como que era na época dele. Acaba fazendo um elo entre as gerações – diz Mignoni.
Na comunidade, a festa proporciona ligação entre 60 pontos turísticos de Flores. Segundo Mignoni, além das visitas ao Parque da Vindima Eloy Kunz, uma pesquisa feita pela prefeitura identificou que 70% do público também busca outros empreendimentos do município. Os visitantes vêm de cidades da Serra, do Estado e até de regiões mais distantes, como o Nordeste brasileiro.
Com o tema "O Centenário da Colheita", a 15ª Fenavindima, que será realizada de 22 de fevereiro a 10 de março de 2024, terá mais espaços para o happy hour, com degustação de vinhos e produtos da feira. A expectativa é de que a rede hoteleira fique pequena e os turistas busquem cidades vizinhas. O concurso para a escolha das soberanas será no dia 19 de agosto.
O berço da imigração italiana na Estado
Farroupilha faz jus ao título de berço da colonização italiana na Serra. Além da Fenakiwi, o município promove, em anos intercalados, o Encontro das Tradições Italianas (Entrai).
Em 2022, a Fenakiwi chegou à 24ª edição. Neste ano, está programado o 20º Entrai, que será realizado nos dias 12, 13, 14 e 19, 20, 21 de maio, na Praça da Imigração Italiana, em Nova Milano. O objetivo é resgatar, preservar e valorizar as tradições visto que o distrito de Nova Milano é o berço da imigração italiana no Rio Grande do Sul. O Entrai ocorre sempre em anos ímpares. A exceção foi a edição de 2021, que, em função da pandemia, precisou ser transferida para 2022, inclusive com recorde de público: cerca de 20 mil pessoas.
No Caso da Fenakiwi, a secretária de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação de Farroupilha, Regina Ducati, revela que, no passado o município foi o maior produtor de Kiwi do país. Porém, em 2017, um fungo diminuiu drasticamente a produção, fazendo com que se perdesse o título. Em 2022, os produtores conseguiram se reerguer e a festa voltou a oferecer a fruta produzida totalmente em Farroupilha.
O prefeito de Farroupilha, Fabiano Feltrin, relembra que as primeiras edições da Fenakiwi foram promovidas pelos empresários das malharias e demais setores ligados ao vestuário. Então, a festa trouxe o centro de compras como um legado do turismo de inverno, somado à tendência da produção de kiwi, também uma fruta da região.
Tudo que é ofertado na Fenakiwi é organizado por uma produtora contratada por licitação pela prefeitura. O organizador contrata cerca de 300 pessoas para trabalhar diretamente, além da comunidade que participa de forma voluntária no pavilhão da agricultura familiar. A última edição, no ano passado, reuniu mais de 800 expositores.
Regina explica que, na licitação, há um contrato onde a prefeitura paga R$ 740 mil e fica com o Parque Cinquentenário disponível para o evento. A organizadora fica a cargo de todo o restante, como pagamento de despesas, garantia de serviços e recebimento dos lucros. A secretária não soube informar quanto de lucro a festa teve no ano passado porque os números não são repassados pela produtora. Mas, segundo ela, a realização da Fenakiwi tem custo superior a R$ 2 milhões. A produtora informalmente destacou que teve lucro na última edição.
Nova Petrópolis é uma cidade essencialmente turística
Nova Petrópolis é um município essencialmente turístico, por isso, ao longo do ano, promove inúmeras festividades para enaltecer a cultura local. A Festa do Figo e o Festival Internacional do Folclore movimentam grande público, por exemplo.
A Festa do Figo é organizada por duas comunidades rurais devido à tradição na produção da fruta, no caso as linhas Araripe e Brasil, ação que une 60 famílias de agricultores, somando mais de 250 pessoas. O evento começou em 1971 e a última edição ocorreu em fevereiro deste ano. De acordo com o integrante da Comissão Organizadora, Jonas Gottschalk, a quantidade de pessoas que compareceram em 2023 se assemelha ao público de antes da pandemia.
Gottschalk diz que o lucro da festa fica sob responsabilidade da comunidade organizadora. A última edição teve um valor positivo de R$ 146 mil. Mais de 3 mil almoços foram vendidos em dois dias e foram comercializados cerca de quatro toneladas de figo. A comunidade reverte o lucro em melhorias na estrutura da sede.
A propósito, o setor agrícola no município tem um PIB per capita na faixa de R$ 40 mil reais. Segundo Gottschalk, a produção anual do figo fica na faixa de 450 toneladas.
— Destes 450 mil quilos, 80% são destinados à indústria e outros 20% para Ceasa, na venda direta ao consumidor final e também para as receitas caseiras que o pessoal faz compotas, doces, etc.
Apesar de ser uma festa no interior do município, o público é bem diversificado e a comunidade recebe a visita de turistas de outros Estados.
Nova Petrópolis também é famosa pelo folclore. Como o município pertence à Região das Hortênsias, tem origem predominantemente alemã. Mas tem na variedade cultural uma das principais marcas, sobretudo no palco do Festival Internacional de Folclore, que, há 50 edições, é promovido pela Associação dos Grupos Folclóricos e não visa lucros. Contudo, beneficia também toda a cadeia comercial por meio do turismo.
É um prato cheio de atrações com grupos e simpatizantes provenientes de diversas partes da América Latina, anualmente, por mais de duas semanas no mês de julho. O coordenador de Indústria e Comércio da prefeitura, Tiago Merckel Haugg, lembra que o evento é gratuito e aberto ao público, unindo a música e a gastronomia.
— O objetivo é divulgar a cultura e promover a integração de diferentes manifestações culturais com a comunidade e o público em geral — resume.
A prefeitura diz que o festival proporciona um aumento de 80% nas vendas do comércio local e no movimento de hotéis. Pelas contas da organização, mais de 150 mil pessoas passam pela cidade nos dias da festividade. A associação não divulgou o lucro da última edição. O valor é utilizado para a manutenção das atividades da associação, além de promover o festival no ano seguinte. Neste ano, o festival comemorará a 50ª edição, com 18 dias de programação, de 12 a 30 de julho. A previsão é que o Festival de Folclore seja visitado por mais de 200 mil pessoas neste ano.
Antônio Prado é a terra das massas
A gastronomia é o ponto forte de Antônio Prado. A cidade tem uma gama de empresas que fabricam massas e bebidas. Portanto, o município promove o Festival Nacional da Massa (FenaMassa), a cada dois anos, enaltecendo a cultura e as qualidades da comunidade. A festa é gratuita e ocorre durante três finais de semana no mês de novembro.
A presidente da 8ª edição da FenaMassa, Paula Lovatel Soso, explica que a CIC de Antônio Prado, promotora do evento, também não tem o objetivo de lucros. A entidade faz uma força-tarefa para contratar empresas que montem a infraestrutura na praça central, além de captar recursos através das leis de incentivo cultural para os shows promovidos. As famílias e empresas auxiliam na organização de forma voluntária.
Devido à pandemia, a festa, que é bianual, ficou prejudicada em 2020, tendo a sétima edição realizada somente no ano passado. A produção da feira tem custo de cerca de R$ 1 milhão.
– Conversando com o comércio que esteve presente na feira, no ano passado, vimos que os negócios tiveram um retorno de R$ 1,3 milhão aos empresários. O lucro fica todo com os expositores – detalha Paula.
Para acertar o calendário, em 2023 está programada a oitava edição do evento. A expectativa da organização é ultrapassar as 35 mil pessoas que visitaram Antônio Prado no último ano, além das 15 mil refeições servidas. A FenaMassa recebe visitantes de outras cidades da Serra, da Região Metropolitana e de Santa Catarina. Por esse motivo, a rede hoteleira da cidade atinge, durante os finais de semana da festa, lotação de 90%. Esse aumento de público também é sentido nos restaurantes e comércio em geral.
– A FenaMassa, junto com o município, valoriza o patrimônio, sendo organizada na praça, com acesso gratuito, permitindo que as pessoas desfrutem da gastronomia local, algo que representa muito, não só do ponto de vista cultural – complementa a presidente.
A exposição de produtos é voltada para a fabricação local. Apenas massas, alimentos agrícolas e bebidas produzidas em Antônio Prado são permitidos. De acordo com informações no site do evento, somando as sete edições, o público da FenaMassa comercializou e consumiu 26 toneladas de massa, sendo 80 mil refeições. Os expositores tiveram R$ 6,5 milhões de lucro em negócios. E 389 pessoas já trabalharam diretamente na organização.
Em vez de feira, Fenachamp é somente festa
Um dos eventos que nasceu como feira atualmente tem outra identidade. A Festa do Espumante Brasileiro (Fenachamp), em Garibaldi, se caracteriza agora apenas como festividade. O evento é similar a uma praça de alimentação, onde expositores de gastronomia e de bebidas atendem os clientes em uma espécie de bar. O visitante pode fazer o pedido por meio de um aplicativo e o produto é entregue nas mesas pelos garçons. Na última edição, em outubro de 2022, cerca de 400 pessoas trabalharam na Fenachamp, entre voluntários e expositores.
Presidente do Centro Empresarial e Cultural (CEC) e ex-rainha da festa, Diana Lina Borghetti explica que, no ano passado, a edição movimentou mais de R$ 2 milhões com a comercialização de espumantes, gastronomia e produtos coloniais e artesanato. Cerca de 80 mil pessoas visitaram a festa.
– O evento encerrou com um saldo positivo superior R$ 300 mil, o qual foi reinvestido para as ações de preparação para a próxima edição – conta Diana.
Em 2022, os visitantes eram de 15 Estados e, de acordo com uma pesquisa realizada por alunos da Faculdade Fisul, 20,7% vieram pela primeira vez.
– (A festa) contribui para a geração de renda dos comerciantes locais, dos restaurantes e do setor de hotelaria. Celebra a cultura e a tradição, além de promover a integração entre as diferentes comunidades da região – friase Diana.
Em comparação com o a edição anterior à pandemia, em 2019, a Fenachamp do ano passado teve público maior: 79.637 visitantes em 15 dias de festa contra 67.025 pessoas no evento de 2019. No mesmo período, as 22 vinícolas participantes venderam cerca de 30 mil garrafas de espumante. Em 2019, haviam sido vendidas 23.560 garrafas.