Iva Goulart Scarsi sempre gostou de moda e, sendo de uma família de costureiras, era natural que seguisse o ofício. Começou a costurar cedo, mas foi somente em 2003 que teve a ideia de confeccionar lingeries. Para aprender como fazia, contou com a ajuda das irmãs e logo passou a produzir e vender suas peças.
Em 2008, o filho Tiago resolveu ingressar no negócio, que foi formalizado e ganhou o nome de Eliss Moda Íntima — homenagem à filha mais nova de Iva, Elisângela, que também passou a fazer parte do time, assim como o irmão Jeisom e o pai dos três, Antônio.
Na semana passada, o empreendimento ganhou um e-commerce, eliss.com.br. A empresa caxiense criada pelas mãos de dona Iva, hoje com 69 anos, e que vestiu e veste tantas mulheres, lançou a loja virtual justamente em 8 de março para celebrar o Dia Internacional da Mulher.
O investimento foi de cerca de R$ 30 mil, e duas pessoas foram contratadas para viabilizar o sistema de compra personalizada, que permite montar os conjuntos conforme o gosto do cliente. A expectativa com o e-commerce é dobrar a produção — atualmente são produzidas cerca de 3 mil peças por mês. Nesta entrevista, Iva e os filhos Tiago e Elisângela contam a história da empresa familiar. Confira abaixo:
Como foi o começo da empresa?
Iva: Eu sempre gostei muito de moda e venho de uma família de costureiras. Lembro da minha mãe fazendo ternos na máquina. Ali eu cresci. Em 2003, eu trabalhava com uma amiga minha e fui fazer um passeio. A gente visitou uma parente dessa amiga. Tinha uma mesa cheia de lingeries que ela fazia e me ofereceu para revender. As máquinas que ela usava eu tinha em casa e sempre fui muito curiosa, sempre acompanhei a tendência da cor, da moda pela televisão, eu estava sempre em função do que era moda. Pensei: vou tentar desenvolver a peça. Eu tenho irmãs que têm fábrica e elas me ajudaram. Comecei a fazer, já tinha revendedoras que gostaram e comecei a vender. Eu desenvolvia no papel, cada coisa da minha imaginação eu desenvolvia no papel, eu comprava toda a matéria-prima. Eu não tinha dificuldade de vender minha lingerie, ela se vendia. Eu nunca fiz um curso de modelagem, foi sempre trabalhando em função de pegar opiniões das minhas irmãs. Em 2008, meu filho saiu da empresa onde trabalhava, pegou o acerto e registrou a firma.
Tiago: A mãe fazia e, na empresa onde eu trabalhava, eu vendia. A tomada de decisão de partir para a empresa da família foi que um dos meus colegas de trabalho falou: "pô, tu está lá com uma baita de uma empresa, o que é que tu está fazendo aqui?". A empresa me desligou e peguei todo o valor, que era R$ 7 mil, comprei tesoura e aí surge a Eliss Moda Íntima.
Iva: Passamos perrengue, mas sempre a família junta, se abraçando nas horas ruins e nas boas.
O que a gente quer hoje, como confecção, é o encantamento do cliente. A gente quer encantar.
TIAGO SCARSI
Elisângela: É uma empresa bem familiar. A gente tem os funcionários, mas o foco é bem familiar.
Como foi a decisão de partir para loja virtual?
Elisângela: Seguindo muitos exemplos, estudando muito, ouvindo muito, porque, não adianta, tem que estudar, tem outras empresas que podem te dar uma luz, que começam pequenas que nem nós e que o caminho é a internet. Tu precisa ter o atendimento físico na loja. A gente é uma empresa que a gente monta o conjunto. Muitas vezes, o tamanho da parte de cima é um, embaixo é outro. A nossa loja física atende a isso. E o site é para pessoas de longe que gostam do nosso trabalho e não conseguem ter acesso rápido.
Tiago: A pandemia nos mostrou que a gente precisa correr atrás. A gente viu que tem muita gente que quer comprar com um clique. Tem o encantamento do correio chegar. A gente estudou e neste ano resolvemos dar o start. A gente vem crescendo muito. Saímos do porão da minha mãe, fomos para um pavilhão e agora fomos para o e-commerce.
Elisângela: Nosso espaço físico tem a fábrica e o showroom, e a gente tem agilidade de entregar a peça. Se tu precisar de uma uma peça rapidamente, a gente consegue, a gente tem o espaço da fábrica e da loja ao mesmo tempo.
Tiago: Nenhuma empresa fica sólida durante 15 anos se não tiver um diferencial no sentido de entrega boa, de produto bom. E a gente entendeu que o nosso diferencial está na dona Iva. Quando dá problema nas nossas peças, a gente não fica questionando, a gente troca. A gente preza pela qualidade. O que a gente quer hoje, como confecção, e a minha mãe fala muito isso, é o encantamento do cliente. A gente quer encantar.
São quantas revendedoras?
Tiago: Em torno de 100, 120 revendedoras aqui na região e fora também. Tem em Caxias, Bento Gonçalves, Farroupilha, São Marcos, região de Porto Alegre, Santa Maria, São Gabriel, Santa Catarina.
Dona Iva, a senhora continua costurando?
Iva: Continuo. Costurando, desenvolvendo. Acordo, imagino uma coisa, vejo, memorizo. Hoje tem desenvolvimento dos filhos, mas eu acho que é por eu gostar daquilo que eu faço... Eu vejo uma cor, a tendência, eu gosto de coisa alegre. O meu envelhecimento serviu para eu bater pé naquilo que eu acho que vende e que está no gosto das pessoas. Eu passo isso para os filhos. A história de que ninguém cria, todo mundo copia, é uma verdade. Em cima do que eu vejo, eu modifico. Eu vejo o que está errado e corrijo.
A senhora tem ideia de quantas peças já fez?
Iva: Milhares. E eu ouço das pessoas: "não termina, não tem fim" (sobre a qualidade das peças). Não deixo passar erros, eu brigo.
Elisângela: A média de 3 mil peças produzidas por mês.
Qual o volume de vendas?
Tiago: uns 90% do que é produzido. Todo dia vem e vai porque todo dia vem muita revendedora aqui.
E qual a expectativa de vendas com o e-commerce?
Elisângela: O nosso plano é o quê? Colocamos os produtos na plataforma, o cliente compra, e a entrega é no período de máximo de seis dias.
Tiago: Em seis meses é para dobrar a produção, essa é a nossa meta. A gente acredita que vai ser antes, mas como a gente não quer se frustrar, mira a lua e atinge as estrelas (risos).
Elisângela: A gente tem um catálogo de mais ou menos 350 peças, mas no momento a gente vai colocar menos peças no site para a gente ver como funciona. Nosso plano é ir colocando diariamente as peças.
Tiago: A pessoa que vai comprar uma peça da Eliss vai entender que saiu da cabeça da dona Iva, passou pelos filhos. Não é aquela produção em massa, é um negócio totalmente diferente, a gente entende que, se crescer, se tiver que vender um milhão de peças por mês, não é que a gente não sabe se quer isso, a gente quer atender bem o nosso cliente com um valor agregado.
É a realização do sonho dela, ter uma empresa que ela é dona, que ela abriu com as próprias mãos.
ELISÂNGELA SCARSI
Qual é o tamanho da equipe?
Tiago: Dez pessoas e gente contratou mais duas pessoas por causa do e-commerce.
Iva: Eu sou uma pessoa que acompanha muito tudo, quem evoluiu, quem não evoluiu, como é que funciona a venda. Eu escuto as coisas e depois tento passar para os filhos. Eu pego muito do que eu ouço, do que deu certo.
Elisângela: Ela é de outra geração, mas entende que o e-commerce é o futuro.
Qual o sentimento em ver tudo o que a senhora conquistou?
Iva: É muito bom. "Ah, Iva, tu já tinha que ficar em casa", me dizem. Mas todos os dias quando acordo tenho vontade de ir para a minha empresa. Eu quero ir, eu quero estar junto com os meus filhos.
Elisângela: É a realização do sonho dela, ter uma empresa que ela é dona, que ela abriu com as próprias mãos. Os primeiros bojos ela fazia com esponja, ela cortava. A história da empresa é a história da vida dela. Uma mulher que precisa sustentar a família, que precisa colaborar com o esposo que também trabalha. Eles se juntam, ela abre a empresa, os filhos vêm. A história é a luta dela, sendo que agora a gente passa para os nossos filhos.