Por mais que ainda representem uma parcela tímida do mercado de automóveis, os números de janeiro e fevereiro deste ano animam o segmento dos eletrificados. Até este momento, conforme dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) e da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), dos mais de 250 mil veículos emplacados em todo o Brasil nestes dois primeiros meses, quase 8,8 mil são eletrificados — um aumento de quase 47% em relação a 2022. O Rio Grande do Sul e a Serra seguem esta tendência, com altas de 49% e 40%, respectivamente.
Ou seja, no Estado foram 464 novos emplacamentos no período contra 311 do ano passado. Na Serra, com números de municípios como Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Farroupilha, Flores da Cunha e Gramado, foram 52 em 2023 contra 37 em 2022. No RS, no final de 2022, foram 2,4 mil emplacamentos. Em todo o Brasil, hoje, a frota dos eletrificados, sejam elétricos ou híbridos, é de mais de 135 mil automóveis, conforme a ABVE.
Os números mostram que a procura está alta, ainda mais levando-se em conta que os modelos novos partem de R$ 150 mil no mercado nacional, e as próprias montadoras sentem isso. Hoje, no país, as principais marcas oferecem carros elétricos ou híbridos. Até janeiro, seriam quase 130 modelos de veículos leves oferecidos no mercado.
Para os representantes de concessionárias ouvidos pela reportagem, estes modelos são o futuro, seja pela consciência com o meio-ambiente, pela economia no consumo ou pelo conforto. A conclusão de todos é a mesma: quem dirige um eletrificado pela primeira vez, nunca mais quer deixar de lado.
Híbridos, os favoritos entre os eletrificados
No Estado ou no Brasil, os híbridos lideram as vendas da categoria. Na Serra, por exemplo, 41 dos 52 automóveis vendidos neste bimestre são híbridos, ou seja, os veículos que têm duas fontes de energia: com combustível e elétrica. No país, a líder de vendas do modelo é a Toyota (foram 2,7 mil em fevereiro), que produz dois modelos no Brasil — inclusive, o primeiro flex híbrido do mundo, o Corolla. No ranking das vendas, a Caoa Chery (1.375) aparece em segundo e, em terceiro, está a Volvo (1.343).
Como explica o gerente de vendas da Toyota Terrasol, Leandro Cima, o modelo não traz uma ruptura na cultura do consumidor. O dono de um híbrido continua abastecendo, mas com uma frequência bem menor por conta da tecnologia do carro, que a partir de um software automaticamente gera energia para o sistema elétrico (como quando o freio é utilizado ou em uma descida, onde não há necessidade de acelerar) e identifica qual a melhor fonte de energia para cada situação. Para isso, o veículo possui motores à combustão e elétrico, que estão conectados.
— Ele alterna o funcionamento. Em momentos ele está com o motor à combustão ligado, depois ele desliga para utilizar os motores elétricos. Hora ele está com um, hora com outro. Por exemplo, quando existe uma necessidade de potência, em uma ultrapassagem, ele utiliza todos os motores — explica Cima.
E não é apenas esse sistema o diferencial dos híbridos. Cima chama a atenção para o “conjunto da obra”, como a direção elétrica, o ar condicionado elétrico e até o design. Tudo é pensado para o conforto, mas também para a economia e para reduzir a emissão de gases poluentes, como o gás carbônico. O híbrido mais vendido do país, o Corolla Cross, por exemplo, tem uma média na área urbana de 17,8 quilômetros por litro com gasolina, conforme o Inmetro. Na estrada, em que o sistema à combustão é mais utilizado, a média cai para 14,7 quilômetros por litro.
— A experiência de quem dirige é igual a um carro tradicional. A diferença é que você tem benefícios de consumo muito baixo de combustível e emissão de poluentes muito baixa, que vai ajudar na preservação do planeta — descreve Cima.
Mas a reportagem pôde conferir, em um teste por Caxias, o veículo com média de 20 quilômetros por litro na área urbana. Inclusive, na mesma volta, a bateria de energia deixou a garagem pela metade e voltou praticamente cheia. Conforme Cima, o modelo pode ter uma média de mil quilômetros com o tanque de 30 litros. A média, óbvio, depende do “pé” de quem está dirigindo.
Atualmente, as vendas do Corolla sedan e do Corolla Cross híbridos representam de 30% a 40% entre todas as versões produzidas do veículo. A média é a mesma em Caxias.
Vale observar que os veículos híbridos “tradicionais” não necessitam de recarga. Aqueles que podem ser recarregados são os híbridos plug-in, mas que também podem ser abastecidos.
Uma revolução: 100% elétrico
Dos quase 4,3 mil automóveis eletrificados emplacados em fevereiro, 638 são elétricos, ou seja, movidos 100% a bateria, conforme a ABVE. O número mostra que mesmo com o aumento nas vendas (foram 402 emplacados em fevereiro de 2022), o modelo ainda está restrito a uma pequena parcela da população.
Em Caxias do Sul, o diretor-executivo da DFSul, Vitor Radé, explica que a procura está em alta, tanto que todas montadoras que o grupo DRSul representa, como Fiat, Nissan, Renault e GM tem um veículo para esta linha. Mas, antes de mudar para o 100% elétrico, o consumidor precisa se adequar a uma nova cultura, que envolve fazer a recarga da bateria do veículo. Até por isso, hoje, este modelo é mais utilizado em áreas urbanas.
— O cliente quer entender como funcionam algumas coisas, como a manutenção, o tempo de recarga, os postos de recarga também. Então, tem um mercado que está se desenvolvendo. Particularmente, acho que (Caxias) está se adaptando com postos de recarga e começa a ver um pouco mais de movimentação de clientes andando com os carros elétricos na rua. É uma vertente que é um caminho sem volta — relata Radé.
Dirigir um carro elétrico é uma experiência de condução muito melhor. Imagina tu entrar no carro e não ouvir barulho nenhum, a condução é diferente com pedal eletrônico de acelerador, e até tua rotina fica mais leve.
VITOR RADÉ
diretor-executivo da DFSul
O diretor-executivo sugere que o consumidor estude antes por conta da logística que envolve a recarga do veículo. Conforme o modelo, tamanho de bateria e estilo de direção do motorista, os automóveis elétricos podem percorrer de 200 a 500 quilômetros a cada recarga completa.
— O que vai depender é o tempo da carga, e aí entra a logística da pessoa que está procurando o veículo do dia a dia dela. Um carro elétrico tu pode demorar, dependendo do carregador que utilizar, 1h30min ou 2h do zero, ou até 24 horas se carregar em tomada comum, o que é muito tempo. O que aconselhamos é ser um carro mais urbano. Olhe a sua rotina, você vai para o mercado, para o trabalho, para academia, uma escola e retorna, fazendo 30 km em média por dia. Essa rotina de chegar em casa e carregar, ela se torna atrativa, porque tu vai carregar o teu carro durante a noite e no outro dia está com ela cheia de novo — descreve o diretor-executivo.
De acordo com Radé, mesmo utilizando a rede elétrica, a economia em comparação com o veículo a combustão pode chegar a 40%. Outra situação de redução de custos é a isenção do IPVA no Estado — apesar de que, como alerta o diretor, o seguro pode ser um pouco mais caro que o convencional.
— Dirigir um carro elétrico é uma experiência de condução muito melhor. Imagina tu entrar no carro e não ouvir barulho nenhum, a condução é diferente com pedal eletrônico de acelerador, e até tua rotina fica mais leve. Não tem barulho, tem isolamento acústico, a questão da economia — conta Radé.
Pela baixa emissão de poluentes e por essas características, o profissional conta que dois tipos de consumidores, principalmente, buscam o produto: aquele mais sofisticado, que quer essa experiência, e aquele preocupado com o meio-ambiente.
E a recarga?
Uma das dúvidas de quem pensa em comprar um carro elétrico é como e onde recarregar. Na área urbana, estabelecimentos passam a disponibilizar estações de recarga. De acordo com o aplicativo PlugShare, são 15 pontos apenas em Caxias do Sul. Quem investiu nesta estrutura foi a Magnani Luz e Energia, em parceria com a Sicredi. A empresa caxiense criou a 1ª Rota do Veículo Elétrico do RS, que tem oito estações de recarga espalhadas por pontos estratégicos da região e do Litoral Norte.
— O desenvolvimento maior dessa aquisição de veículos elétricos está ligado diretamente a ter mais estações de recarga. Pensando nisso, no ano passado, lançamos a rota aqui na Serra. Ela contempla estações de recarga na Serra e no Litoral Norte. Isso faz com que o usuário do veículo elétrico tenha mais tranquilidade em fazer suas viagens — explica o diretor de eficiência energética da empresa, Carlos Magnani, que é um entusiasta do tema.
Algumas das estações estão junto ao estacionamento da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul; ao Café Tainhas, parada tradicional de quem se dirige ao Litoral Norte pela Rota do Sol; à Casa Fagundes, no distrito de Vila Cristina; ao Cantinho do Pescador, em Torres; e no centro comercial do Vale dos Vinhedos. O plano da empresa é chegar a 16 instalações no Estado. No momento, não existe a cobrança para uso da estação.
Além disso, o dono de um veículo elétrico pode instalar uma estrutura na própria residência ou até mesmo no trabalho, se possível. Como explica Magnani, a instalação depende de um estudo de potência — conforme a potência da estação de recarga, o local de instalação requer uma estrutura que suporte isso.
— Hoje, nós temos bastante comercialização para proprietários de veículos elétricos, que colocam na sua residência, seja ela uma casa ou um apartamento, e também no local do trabalho. Como o veículo fica a maior parte do dia parado, tem condições de carregar — pontua o diretor.