O maior município dos Campos de Cima da Serra tem a maior área cultivada de feijão primeira safra do Estado. São 4,1 mil hectares em Vacaria. A região, aliás, concentra a maior produção do grão. Em Muitos Capões são 3 mil hectares e em Bom Jesus, 1,8 mil. Em toda a região administrativa da Emater/RS-Ascar de Caxias do Sul, que inclui 49 municípios dos Campos de Cima da Serra, Serra e Hortênsias, são 10,8 mil hectares. Cada hectare deverá render 2,2 mil quilos de feijão.
O feijão primeira safra é aquele plantado no final de dezembro e que será colhido entre final de março e início de abril deste ano. A estimativa inicial, conforme João Villa, engenheiro agrônomo e assistente técnico do escritório regional da Emater, era de 13,2 mil hectares para esta safra, mas não se confirmou. A redução de área se deu pela competição com a soja. O preço do feijão, segundo Villa, é muito flutuante e o da soja mais estável. O feijão pode ter maior rentabilidade, mas é de maior risco.
– O risco é tanto pelo preço quanto pela possibilidade de perdas por intempéries – destaca o técnico da Emater.
Segundo ele, o perfil nos Campos de Cima da Serra é de grandes produtores. Além de produzir para a venda do grão, plantam para comercializar a semente. A maioria é venda interna com exportação pouco expressiva. Nas outras cidades da região, como Caxias e Flores da Cunha, são pequenos produtores rurais.
– Quando a agricultura familiar deixou de produzir feijão, grandes empresas assumiram. As variedades mais modernas têm porte mais ereto e podem ser colhidas com máquina. As antigas eram mais prostradas e tinha dificuldade de colher mecanicamente. Exigia muita mão de obra. Quando se evoluiu para portes mais eretos, vagens mais altas, passou para grandes propriedades. Mudou todo o panorama – explica.
PRODUÇÃO NOS CAMPOS DE CIMA DA SERRA
- Vacaria: 4,1 mil hectares
- Muitos Capões: 3 mil hectares
- Bom Jesus: 1,8 mil hectares
- Esmeralda: 800 hectares
- Monte Alegre dos Campos: 250 hectares
- Pinhal da Serra: 200 hectares
- São José dos Ausentes: 100 hectares
Tradição desde a década de 1990
Com histórico de boas colheitas, Vacaria se consolidou como maior produtora do feijão primeira safra e tem diversas empresas que apostaram no grão. A empresa Sementes com Vigor é uma dela. Desde a década de 1990, cultiva as variedades eretas, colhidas mecanicamente.
— A gente vai começar a colher em 15 de março. Não tem nenhuma outra região no país que colhe nesta época. O feijão de Vacaria entra numa entressafra e o comércio fica facilitado, porque tem menos feijão — diz Pedro Basso, diretor da empresa fundada pelo pai.
A Sementes com Vigor planta as variedades carioca e preto e estima uma colheita dentro da média, de 2,4 mil quilos por hectare, o equivalente a 60 sacos por hectare. A produção é vendida principalmente para Frederico Westphalen, grande Porto Alegre, Pelotas e São Paulo.
Ao contrário de outras empresas, que reduziram a área plantada nesta safra, Basso diz que preferiu aumentar o cultivo por estratégia. Ele espera que o tempo colabore, como vem ajudando até agora nos Campos de Cima da Serra, e não prejudique a plantação.
— A área reduziu por causa dos baixos preços. Precisa haver uma valorização do feijão, porque é uma cultura que tem mais risco — explica, referindo à estiagem e possibilidade de chuva na hora de colher.
Conforme o engenheiro agrônomo da Emater, João Villa, o feijão é sensível ao excesso de chuva e pode brotar e mofar o grão. É uma cultura que exige umidade, mas não excessiva.
— O feijão da região tem tido qualidade excelente. Nesta época de colheita, é mais seco e conseguem colher bem — destaca.
Em Flores da Cunha, pequena produção é de feijão orgânico
Diferentemente dos Campos de Cima da Serra, com grandes áreas plantadas, a Serra tem pequenas propriedades que cultivam feijão, geralmente para consumo próprio. Em Flores da Cunha, Mateus Dettoni tem pouco menos de meio hectare de produção orgânica no interior de São Caetano. Ele plantou no início do ano e deve começar a colher no final de março.
Já são 20 anos plantando feijão. A pequena produção é trocada por milho para o gado que cria com a mãe e vendida para os vizinhos.
— O nosso forte é a produção leiteira, mas planto feijão para aproveitar a área — conta o agricultor que cultiva as variedades carioca, preto e vermelho.
No final de 2022, Dettoni colheu oito sacos de feijão, cada um com 60 quilos, e vendeu tudo. Foi uma boa safra, segundo ele. Para essa safra, ele não tem previsão de colheita ainda. Espera que chova um pouco para engrossar a semente.