Segunda maior economia do Estado, Caxias do Sul concentra 5% das startups gaúchas. O município tem 49 empresas desta categoria de um total de 983 instaladas no RS. O número faz parte de um levantamento do Sebrae, que cruza dados abertos da Secretaria da Fazenda do RS. Ao longo de 2022, foram quatro startups abertas no município.
A tendência é de que este ano seja mais promissor para o ecossistema. O diretor-executivo do Instituto Hélice, Thomas Job, admite que o número destas empresas em Caxias ainda é baixo na comparação com outras regiões. Para ele, isso está atrelado a cultura local ser culturalmente ligada a buscar trabalho nas grandes indústrias.
– Este número pequeno é até mesmo surpreendente para a nossa região, que é reconhecida pelo empreendedorismo. A gente tem todos os atributos necessários para que a gente tenha novos negócios inovadores. A gente tem empresas que consomem tecnologia, a gente tem capital humano e intelectual superqualificado. No nosso ponto de vista, para a gente ter mais empreendedores na área de tecnologia, é justamente fomentar esse início de uma jornada empreendedora.
O desenvolvimento mais acelerado destes negócios pode se tornar uma necessidade, já que há em curso uma mudança de mentalidade das empresas, que têm deixado de buscar a solução para todos os problemas “dentro de casa”. Conforme Job, houve em cerca de três anos um aporte de R$ 50 milhões em startups da Serra. Além disso, a criação da Lei de Inovação em Caxias em 2021, que oferece incentivos fiscais a startups, e a colaboração entre poder público, universidades e empresas são apontados como aspectos relevantes para o aparecimento de mais startups.
Por que incentivar startups?
O presidente da Associação Gaúcha de Startups (AGS), Bruno Bastos, avalia que os últimos dois anos foram os melhores para o desenvolvimento de ecossistemas de inovação no Estado. A expectativa é de que 2023 seja ainda melhor, dobrando o número dessas empresas no RS. A avaliação de Bastos está embasada no entendimento de que os últimos anos tiveram restrições de investimentos, por causa da pandemia. A projeção é de que 2023 tenha mais editais de seleção e criação de programas de apoio.
Mas, afinal, por que é bom para a sociedade ter mais startups? Para Bastos, a geração de empregos é um fator de impacto direto nas comunidades. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Startups, feita por autodeclaração entre agosto e outubro de 2022, mostra que em Caxias são em média 12 colaboradores por startup. Outro ponto levantado por Bastos é que existe um grande impacto ambiental, já que a estimativa dele é que 10% das startups trabalham nessa área.
– As startups têm um potencial de faturamento absurdo, tremendamente superior a uma empresa. Tem startups que passam a faturar milhões, se desenquadram do critério de startups pelo marco legal, que é R$ 16 milhões, em meses, estou falando de menos de dois anos. Então, do ponto de vista de recolhimento de tributos, para o Estado, também é interessante que esses negócios se desenvolvam, que fiquem nas suas regiões ou pelo menos no Estado.
Desafios e oportunidades
Entre os principais desafios para inovação em Caxias, está a dificuldade em conseguir mão de obra qualificada. O presidente da AGS aponta que existem lacunas na educação empreendedora, na capacitação extracurricular e na formação das chamadas soft skills, que são habilidades comportamentais relacionadas à forma como o profissional lida com diferentes situações.
Caxias acaba sendo um polo, mas pelo tipo de negócios que a gente tem no entorno, é uma diversidade bem interessante. Acho que é isso que vai dar sustentabilidade para o ecossistema da nossa região
ALCIR CARDOSO MEYER
Head de Startups e CVC do Sebrae
Uma das articulações para começar a sanar essas dificuldades é um programa do Sebrae, que neste ano irá possibilitar a aceleração de 1,5 mil startups em fase inicial. Alcir Cardoso Meyer, head de Startups e CVC do Sebrae, explica que será possível capacitar cerca de 6 mil pessoas, já que cada empresa tem uma média de quatro envolvidos. Ou seja, mesmo que eles não permaneçam como empreendedores, estarão capacitados dentro das necessidades do universo da inovação.
– A gente quer posicionar o Rio Grande do Sul à frente no ranking de startups. Agora, a gente é o quarto Estado em número de startups faturando e é o terceiro em número total de startups. A gente quer subir pelo menos uma posição nesse ranking.
Como parte das potencialidades da região, ele sinaliza a diversidade econômica. Mesmo que Caxias esteja mais ligada ao setor metalmecânico, Meyer aponta que há na Serra fortes cadeias alimentares, vitivinícolas, leiteiras e turística, por exemplo.
Como saber mais sobre programas do Sebrae
- Telefone: 0800 570 0800
- Site: startups.sebraers.com.br
- E-mail: alcirm@sebraers.com.br
Novos investimentos
A estrutura voltada à inovação de Caxias e região terá reforço nos próximos dois anos, com a ampliação do TecnoUCS. O parque de Ciência, Tecnologia e Inovação da Universidade de Caxias do Sul (UCS) receberá um investimento de R$ 13 milhões, com verbas do Finep, que é uma agência pública que financia a inovação no país.
A inovação só se faz conhecimento, ela não se faz só com vontade
NEIDE PESSIN
Pró-reitora de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico da UCS
Esse será mais um marco nesse ecossistema na Serra. A pró-reitora de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico da UCS, professora Neide Pessin, afirma que ele começou a se desenvolver de forma mais estruturada na cidade no ano de 1999, quando prefeitura, entidades sindicais e empresariais, junto com o Finep, possibilitaram a criação do ITEC. Em 2015, surgiu o TecnoUCS e, cinco anos depois, o UCS Inova. A agência de inovação da universidade comporta 40 empresas. São 102 projetos já contratados envolvendo e estão vinculadas à agência 72 empresas e 44 prefeituras.
– Estar no parque não é ocupar um espaço, estar no parque significa sinergia entre os parceiros. A universidade, sim, com tudo aquilo que a gente coloca à disposição dessas empresas, seja mentoria, consultoria, estrutura laboratorial, ensaios, acessos a conhecimento, a jornadas específicas, mas a gente quer a sinergia entre eles também – descreve Neide.
Inovação na agricultura
No interior de Flores da Cunha, o sítio do avô dos irmãos Rodrigo Bettiol Ribeiro e Rafael Vinicius Ribeiro garantiu terra fértil para o nascimento de ideias de como usar a agricultura ecológica para crescer no mundo das startups. Os fundadores da Viva Broto começaram a trabalhar nas terras do patriarca em 2017, com plantação de cogumelos para comercializar tradicionalmente. Passados seis anos, querem alavancar o negócio usando outras possibilidades.
Para isso, criaram um kit de produção de cogumelo, em que o comprador pode fazer com que os da variedade shimeji sejam cultivados na própria casa. O chamado “bloquinho” contém o material que permite que o fungo nasça de forma orgânica, desde que umedecido e mantido em ambiente favorável. O produto já é vendido em feiras, mas os sócios querem agora escalar essa comercialização, com a oferta em lojas online. Outra vertente é trabalhar em conjunto com escolas, para que os professores usem o kit de forma prática em sala de aula, mostrando o desenvolvimento do fungo.
Uma primeira experiência já foi feita com uma turma do campus de Gravataí do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSUL). Com a doação dos kits, a professora compartilhou com os empreendedores os métodos usados em sala de aula. Rafael explica que a empresa, que será incubada em 2023 no TecnoUCS, pretende continuar com parcerias com escolas para criar um banco de dados dessas experiências que poderão ser fornecidos aos futuros clientes.
– As nossas dificuldades são as pessoas conhecerem o produto e não ficarem com medo dele, porque tem muita gente que tem receio de comer cogumelo, e essa parte de desenvolver as propostas. Um desafio grande para escalar é essa questão das propostas pedagógicas, do trabalho dentro da escola. A gente tem muito retorno que pode ser uma ferramenta de trabalho para o ensino desde o infantil até o médio e até dentro de empresa para desenvolvimento organizacional. Esse ano, o grande objetivo é integrar tudo isso.
Dentro da UCS, a startup pretende ainda aproveitar a proximidade com cursos de licenciatura e biologia para avançar nesse aspecto. Os irmãos entendem que a universidade também pode colaborar para outro projeto com os cursos de farmácia e agronomia: o desenvolvimento de extratos de uso medicinal com o cogumelo Reishi. De acordo com eles, essa variedade, que não é comestível, tem propriedades medicinais e já é utilizada em outras partes do mundo como imunorreguladora. Embora com projetos em áreas tão diferentes, os irmãos explicam que o objetivo da Viva Broto é trabalhar com produtos mais naturais, tentando incorporá-los à vida das pessoas:
– A gente sempre foi da cidade, a gente nunca teve essa experiência rural. Nessa busca de tentar encaixar nossa vida nesse ambiente rural, percebemos que existiam oportunidades inovadoras, diferentes, coisas disruptivas, e que a gente poderia fazer e que, muitas vezes, as pessoas que já trabalhavam geracionalmente no ambiente rural tinham coisas bem estabelecidas. Como a gente vinha de fora, a gente não tinha isso, mas a gente tinha uma visão do meio organizacional, que outras pessoas não tinham e que a gente podia aproveitar algumas oportunidades – destaca Rodrigo.
Solução ambiental e para a indústria
A apresentação de soluções para a indústria de Caxias do Sul aparece como um dos principais apontamentos de especialistas como um mercado promissor na região. É isso que faz a Movestock, startup que colabora para a preservação ambiental. A empresa facilita o reuso de ativos excedentes de outras empresas. Mas o que são ativos excedentes? De forma simples: são materiais que sobraram ou não são mais usados por determinada empresa, porém ainda têm valor para outras.
Um exemplo: um motor elétrico de 10 cavalos que foi aposentado em uma fábrica pode ser necessário para outra. Se vendido como sucata, vale cerca de R$ 50. Como um ativo excedente na Movestock, é possível ganhar R$ 700. E a vantagem também fica com o comprador, que para adquirir um novo, poderia ter de desembolsar até R$ 1,5 mil. A vantagem ambiental é simples de compreender: para ser reciclado, esse material exigiria uso de recursos naturais, como para a geração de energia elétrica e utilização de água. O reuso permite que se reduza esse impacto. Além disso, há um aspecto social envolvido no negócio:
– Eu acho legal que gente consegue ajudar empresas que está em recuperação judicial, porque, às vezes, o pessoal olha e diz: estou quebrando a empresa e não tenho dinheiro. Mas, às vezes, no pavilhão dele tem um monte de coisa que ainda vale dinheiro – explica Rafael Nonemarcher, CDO da startup.
A Movestock é resultado de um processo que começou com outra plataforma, chamada OSucateiro.com, criada em 2015 por Nonemarcher ao lado dos sócios Rafael Davi Valentini e Diego Rossa. OSucateiro.com reunia todos os produtos, tanto para reciclagem quanto para reuso. Em um redirecionamento empresarial, criou-se a Movestock, como forma de separar os negócios para os públicos-alvo. São 13 mil clientes cadastrados na plataforma. Desses, 400 estão ativos. Embora as empresas de pequeno e médio porte sejam naturalmente as usuárias de maior número por serem as mais presentes na economia nacional, a empresa reúne 100 multinacionais.
A startup caxiense emprega 12 funcionários e movimenta R$ 4 milhões por ano. A perspectiva para o futuro próximo, no entanto, é bastante animadora. O planejamento é chegar a movimentar R$ 215 milhões em dois anos. Para isso, a empresa lançou um projeto em 2022. É a modalidade pró, em que a contratante recebe auxílio para reestruturar a venda de ativos.
– A gente deixou de ser um puro e simples marketplace e a gente começou a entrar nas fábricas e estruturar toda essa construção. Hoje a gente estrutura com política comercial, com a condição de definição de grupos de liberação para identificar se aquele produto pode ser vendido ou não, com compliance, com relatórios que indicam esse ganho do reuso, por exemplo – detalha Valentini, CEO da startup.
Facilitação ao mercado imobiliário
De uma conversa de três amigos em um posto de combustível, surgiu a ideia que deu origem a uma startup caxiense que hoje tem 300 construtoras parceiras e 15 mil corretores imobiliários cadastrados. A primeira intenção era criar um game de apresentação de imóveis, mas, no contato com o mercado, o produto evoluiu para uma plataforma que possibilita aos corretores terem todos as informações para a venda de um imóvel na palma da mão.
– Antes do Studio, pelo menos em Caxias, o corretor recebia informação de mercado pelo WhatsApp, pelo e-mail, pelo acesso restrito, pelo Google Drive, por folhas que o construtor levava na imobiliária para tu teres um folder, para tu teres a tabela de valores. Quando o corretor ia mostrar para o cliente, imagina tu teres tudo isso espalhado em vários locais. Era um trabalho incrível para conseguir organizar tudo.
Agora, todo esse material sobre lançamentos do mercado imobiliário fica em uma nuvem de dados. Nascida em Caxias do Sul em setembro de 2017, a empresa está presente hoje em todo o Rio Grande do Sul e municípios de outros sete Estados. O primeiro cliente foi captado em julho de 2018, em Caxias. Guilherme Sandi Postali, cofundador da Studio 360, conta que uma das dificuldades enfrentadas foi o conservadorismo do mercado local, porque havia a percepção de que se formaria uma concorrência aos corretores.
– A gente é ferramenta de trabalho do corretor e da construtora. Faz a gestão comercial da construtora e uma ferramenta de trabalho no dia a dia de corretores.
Porém, aberto o mercado caxiense, a expansão para outras regiões foi facilitada. Postali conta que regiões gaúchas como o Litoral, Hortênsias e Porto Alegre foram de mais fácil acesso. Fora do Estado, São Paulo, por exemplo, foi um mercado receptivo à inovação.
Com o aporte financeiro de investidores e as avaliações do mercado, o projeto pouco tem a ver com a origem. As maquetes 3D são adicionadas ao aplicativo, agora como uma ferramenta de apresentação do corretor ao cliente. A quantidade de funcionários também se multiplicou. Hoje são 15, mas o cofundador da Studio diz que há capacidade de contratação de outros 15, porém existe um cenário de escassez dos profissionais mais desejados, como desenvolvedores e vendedores qualificados para trabalhar dentro da realidade de startups.
Interligações financeiras mais seguras
Em 2016, Jardel Santos emprestou dinheiro para uma pessoa conhecida, o que ele descreve como “péssima experiência”. Mas, olhando por um outro espectro, foi essa vivência que permitiu a ele empreender. Diante da situação traumática, o profissional de Tecnologia da Informação decidiu se reunir com um amigo da área da Administração para criar um aplicativo que interligaria pessoas que precisam de dinheiro e outras que têm para emprestar. Como garantia, a ideia era oferecer um contrato básico assinado entre os envolvidos. Tudo parecia simples para Jardel e o amigo Diego Dal Bó, mas desafios estavam por vir para a startup chamada de Me Empresta.
Em 2017, Dal Bó descobriu que a UCS oferecia editais para selecionar startups. Com uma versão inicial do aplicativo, eles foram escolhidos para fazer parte do parque tecnológico. Durante quase um ano, participaram de treinamentos e mentorias em que descobriram que tinham de planejar e modelar o próprio negócio.
– A gente foi aprender que, na verdade, a gente precisava formalizar a empresa, que precisava regular a operação, que só fazer um contrato jurídico não ia resolver – explica Santos.
Melhor municiados de informações, os dois apresentaram a startup em um evento da área, em Gramado. Foi lá onde conseguiram contato com uma figura reconhecida que os conectou com um banco. Na primeira reunião com um representante da instituição financeira, os amigos tiveram o projeto elogiado, mas foram alertados de que não seria rápido colocá-la no mercado. Como não tinha experiência nesse setor, a dupla saiu em busca de alguém que tivesse conhecimento aprofundado na área e aceitasse se associar a eles. Conseguiram uma terceira sócia: Thiane Fávero Torres decidiu embarcar no projeto.
– No dia a dia, a gente tem várias ideias e a gente nunca valoriza elas. Querendo ou não, galgando dia a dia, vai indo e construindo, tu encontras quem te apoia, quem diz "tenta, melhora, constrói", dá oportunidade de acesso, aquilo ali mudou drasticamente.
Assim, entraram em 2018 desenvolvendo o produto inicial até que no ano seguinte fizeram a primeira operação. A plataforma começou interligando pessoas físicas a empresas que queriam pegar dinheiro emprestado, diferente da ideia inicial dos sócios de conectar apenas pessoas físicas. Naquele ano, foram movimentados R$ 350 mil por meio da Me Empresta. Para 2020, a projeção era chegar ao menos a R$ 500 mil. A pandemia, no entanto, interrompeu essa projeção. Da equipe de 12 funcionários, restou apenas um. Dos sócios, um pode se manter em tempo integral na empresa.
Não foram tempos fáceis, mas uma nova reviravolta estava por vir. Em 2021, a plataforma se abriu para que outras fintechs (startups no setor financeiro) pudessem usar a plataforma para fazer operações. Isso deu um novo fôlego à startup. No ano passado, a empresa movimentou R$ 1,3 milhão. Hoje, são 60 mil usuários. A expectativa é chegar a oito funcionários até o final de fevereiro. Para esse ano, o objetivo é avançar em um projeto que está em fase de testes: o empréstimo de consignados:
– Os produtos que a gente montou no início, mesmo sendo produtos que levam muito a confiança entre as pessoas envolvidas, precisavam ter mais segurança. Esse foi o grande foco que trabalhei em 2022. Que foi o que? Começar a trazer garantia para as operações, tanto para operações de crédito pessoal e para capital de juro, e trazer um modelo de operação mais seguro, que é o consignado _ detalha Santos.
Correções de textos em sete segundos
Do universo acadêmico para o das startups. Esse é o resumo do nascimento da Gomining, empresa de Caxias do Sul que utiliza Inteligência Artificial para corrigir textos. Desde dezembro de 2019, quando o primeiro cliente contratou a empresa, já foram mais de 6 milhões de atividades analisadas e avaliadas por meio da plataforma que se integra ao ambiente virtual de instituições de educação.
Em 2013, a professora Simone de Oliveira começou a trabalhar com Ensino a Distância em uma faculdade, o que a levou a se questionar sobre como manter a qualidade dos feedbacks, considerando que teria de atender a milhares de alunos. No doutorado, decidiu trabalhar com uma tese voltada a esse tema.
– Eu queria fazer o doutorado para que tivesse realmente valor para a sociedade. Não queria que fosse para a gaveta e não servisse para nada e nem para ninguém. Então, eu queria fazer um trabalho muito bem feito, mas que as pessoas pudessem se servir dele.
Nesse processo, encontrou Jocimara Mauer e Daniel Epstein, sócios de Simone na Gomining. Enquanto elas trabalhavam nos métodos para alimentar o projeto, ele agregava o conhecimento dos algoritmos. Com a tese pronta em 2017, Simone foi surpreendida quando uma das professoras da banca de avaliação apontou que a ideia tinha características para se tornar uma startup. Simone, hoje CPO da Gomining, sequer sabia do que se tratava esse tipo de negócio, mas aceitou a ideia da professora que a encaminhou para uma aceleradora.
– Nós aprendemos a como construir uma empresa, nós não sabíamos. Nós três sempre fomos acadêmicos. Não trabalhamos em outra coisa que não fosse educação _ conta Simone.
Em 2018, após uma apresentação em um evento de startups, a Gomining despertou o interesse de investidores e os sócios foram para Brasília aprender sobre como ter uma empresa. Naquele ano, também receberam investimentos para transformar a tese em negócio e passaram a desenvolver o produtor para o mercado, até que em outubro de 2019, em um congresso sobre Educação a Distância, conquistaram o primeiro cliente: um grupo com 200 mil alunos. Um ano depois, já tinham sido 1 milhão de correções de vários clientes.
A Inteligência Artificial da Gomining leva de três a sete segundos para avaliar um texto. Analisa aspectos como abrangência, coerência e plágio. Devolve o feedback ao aluno conforme critérios personalizados de acordo com as exigências de cada cliente. Os textos corrigidos vão desde redações de Vestibular e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) até respostas de atividades de sala de aula. Com isso, gera números impressionantes, como o de 800 mil usuários do sistema e 65 clientes. A plataforma é usada por cinco dos 10 maiores grupos educacionais do país e, no último ano, entrou no mercado de Recursos Humanos, avaliando textos elaborados nos processos seletivos. Para o futuro, a empresa pretende também usar os dados para prever quem pode evadir das instituições de ensino, uma ferramenta que ajuda a antecipar possíveis problemas e soluções.
Diante de tantos avanços, a realização do sonho de ajudar a resolver um problema continua fazendo os olhos de Simone brilhar. Uma das histórias preferidas dela com a plataforma é de uma jovem que escreveu 14 vezes a mesma redação, como forma de treinar para o Vestibular de Medicina na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Com os feedbacks, conseguiu aumentar a nota de 700 para 940 pontos.
— Isso é um processo de aprendizagem fantástico, porque não tem o professor refazer porque ela errou. Não tem ninguém mandando ela fazer de novo. Ela faz porque ela quer, a autonomia dela, porque ela é responsável pela aprendizagem dela e porque ela sabe a importância de ela fazer um bom texto — maravilha-se a professora e sócia de uma empresa com 22 funcionários.
O que é startup?
Embora o termo startup esteja cada vez mais presente na sociedade, ainda é comum que haja dúvidas sobre o que ele significa. Uma startup é uma empresa nova que tem um modelo de negócios que é capaz de crescer rápido, com um produto ou serviço que pode ser repetido facilmente em diferentes lugares e apresenta uma ideia inovadora que provoca impacto na sociedade ao resolver um problema.
Os dados sobre startups na Serra
A Serra tem 18 eventos de inovação. Caxias do Sul concentra a metade deles e Bento Gonçalves tem outros cinco. Gramado, Nova Petrópolis, Farroupilha e Flores da Cunha têm um cada. Os municípios da região contam com 26 espaços de inovação. Caxias também lidera esse ranking, com 11. Os demais estão distribuídos por Gramado, Nova Petrópolis, Bento Gonçalves, Farroupilha, Flores da Cunha e Canela. Os dados são do Mapeamento Ecossistema de Inovação da Serra Gaúcha, realizado pela Conexo.
Saiba mais
A maior parte das startups de Caxias do Sul que respondeu a uma pesquisa da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) já tem alguma patente registrada. 75% se enquadram nesse critério. A maioria também já recebeu investimentos: 62,5%.