Dar sequência a projetos que avançaram nos últimos anos está nos planos do novo secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul, Ernani Polo. O Fundopem é um deles assim como a busca por um Estado mais competitivo a partir da desburocratização de processos. As propostas para a pasta, especialmente para a região da Serra, foram detalhadas em entrevista ao Gaúcha Hoje, da Rádio Gaúcha Serra, na sexta-feira (13). Confira trechos:
De que forma a secretaria pode ajudar a desenvolver ainda mais a economia da Serra?
Assumi este desafio com a missão importante no contexto estadual pela relevância que a Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Estado possui e estamos nos organizando e buscando estruturar da melhor forma possível a nossa equipe para dar continuidade aos projetos que já vinham sendo trabalhados pela secretaria, pelos nossos secretários que nos antecederam, até porque é um governo que tem continuidade. E o próprio governador Eduardo Leite e o vice Gabriel (Souza) têm manifestado que o governo deve ser uma evolução da evolução, então, temos que buscar sempre melhorar aquilo que já foi alterado. Nós tivemos muitas mudanças, muitos avanços nos últimos anos na área do desenvolvimento principalmente ligado ao Fundopem, que é um mecanismo muito importante de desenvolvimento para atração de novos investimentos. Para ampliação de empresas aqui no Rio Grande do Sul e que sofreu uma modernização, mas que ainda há espaços para que possamos aprimorar mais. Nós estaremos dessa forma abertos, recebendo sugestões dos empreendedores e a Serra gaúcha tem essa vocação empreendedora muito forte em vários segmentos, em vários setores. Nós queremos fazer essa conexão do público com a iniciativa privada, que é quem está na ponta gerando emprego, gerando renda, fazendo investimentos no nosso Estado. O papel da Secretaria do Desenvolvimento Econômico é bem acolher aqueles que querem investir no nosso Estado, que estão aqui, aqueles que desejam vir para o Rio Grande. Fazer um um acolhimento da melhor maneira possível e criar as condições melhores para que os investimentos aqui aconteçam. E fazer essa interlocução também com as demais áreas de governo, especialmente com a Secretaria da Fazenda, com a Secretaria do Meio Ambiente, que são áreas que a gente tem uma uma ligação muito direta, pela necessidade dos empreendimentos e dos empreendedores. Estaremos abertos com toda a motivação para que o trabalho seja o melhor possível, e temos uma expectativa de que nos próximos anos a gente consiga, mesmo diante de um cenário de instabilidade que hoje vemos em função de vários fatores que acontecem no mundo e em vários lugares, um cenário de crescimento econômico. Esse é o nosso trabalho, o nosso esforço para que possamos caminhar nessa direção.
Ouça a entrevista:
Uma reclamação dos empresários da Serra é da falta de mão de obra qualificada para a indústria. Como o governo pode ajudar a resolver essa demanda?
Esse realmente é um problema que a gente enfrenta não só na Serra gaúcha. Eu já recebi relatos de outras regiões do Estado, inclusive da capital. Há uma disponibilidade de oferta de trabalho, há também pessoas buscando emprego, mas o que falta exatamente, em muitas situações, é uma mão de obra mais específica e qualificada para aquela determinada função. Nesse cenário, é um papel nosso e, claro, não somente da Secretaria do Desenvolvimento, mas também da Secretaria do Trabalho e Qualificação Profissional e das entidades como Sesc, Senac, Fecomércio, Fiergs, para a gente poder encontrar as demandas e as necessidades desses setores e buscar o treinamento e a capacitação das pessoas para atender a essa demanda. Isso é importantíssimo, porque nós estaremos dando oportunidades a pessoas do nosso Estado para desenvolverem esse trabalho. Existem hoje relatos que nos passaram de que na área de confecções, por exemplo, tem situações que as peças são cortadas aqui no Rio Grande do Sul, enviadas para São Paulo para serem costuradas e depois retornam aqui para o Rio Grande do Sul, exatamente por não ter mão de obra especializada. Estamos pensando em como fazer a captação dessas demandas e necessidades pra linkar com o treinamento e poder preparar essas pessoas para o mercado de trabalho. Para que elas possam atender a essa demanda que hoje existe e não está sendo suprida por não ter a mão de obra preparada e qualificada para aquela determinada função.
Como incentivar a criação de de distritos industriais em cidades pequenas? Nós temos muitas da Serra que já têm, mas, ao mesmo tempo, a gente vê que algumas empresas têm dificuldade de expansão, de encontrar locais adequados para isso. Como o estado do Rio Grande do Sul pode auxiliar neste sentido?
Estamos pensando, já conversamos sobre essa situação e realmente é uma necessidade. Hoje nós temos municípios que já têm um nível de industrialização bem elevado e vários exemplos da Serra gaúcha poderíamos citar, mas ainda tem cidades menores que não têm uma estrutura para poder disponibilizar ao empreendedor. Sempre tenho dito que empreendedores existem em todos os lugares, o que muitas vezes falta é uma oportunidade para que aquele empreendedor de determinada área tenha condições de colocar o seu negócio, mesmo pequeno, mas que possa depois, com o passar do tempo, ir crescendo e aumentando o número e a geração de empregos. O que estamos pensando e discutindo inicialmente é alguma ação junto aos bancos de fomento que estão ligados diretamente à Secretaria do Desenvolvimento, que é o Badesul e o BRDE. Para que, através dessas instituições financeiras, possamos disponibilizar recursos aos municípios, para que se criem esses parques de desenvolvimento, distritos industriais com estruturas, inclusive que deram certo em municípios, de pavilhões que podem abrigar berçários industriais para dar oportunidade a esses pequenos empreendedores a começar o seu negócio. Então, também está no nosso radar. E um mecanismo que auxilia também a expansão e o crescimento da economia, da indústria, enfim, de vários segmentos, é o Fundopem. Ele dá uma condição de que o investimento feito seja deduzido no imposto que será incrementado com esse novo investimento. Também é um mecanismo importante de desenvolvimento. Claro que tem fatores diferenciados por município, dando um maior incentivo àqueles municípios que não têm uma uma industrialização ainda mais elevada. Exatamente para que o Estado tenha um crescimento mais homogêneo, levando desenvolvimento a muitas regiões que ainda não têm indústrias, não têm empresas. Hoje, a Serra gaúcha tem conversado com muitos empreendedores. É uma região que tem uma diversidade na produção muito grande, seja no metalmecânico, no plástico, no moveleiro, na vitivinicultura.
O que pode ser feito no comércio para aumentar a inovação?
Estamos vivendo um nível bem elevado hoje. A gente percebe em todas as áreas muito conectadas com esse novo momento e com as inovações tecnológicas que dão melhor condição, agilidade, entregas mais rápidas, mais eficientes. E isso, sem dúvida, ajuda também. Outro aspecto que vamos trabalhar e que já vem sendo realizado junto com a secretaria e a Junta Comercial do RS é a simplificação da burocracia para abertura de empresas. Hoje temos o Tudo Fácil Empresas, que está sendo implantado no RS. Em torno de 20 municípios já têm. Nas empresas com baixo impacto, você consegue abrir em 10 minutos. Tudo aquilo que conseguirmos reduzir de burocracia, seja na Junta Comercial, seja no acesso a financiamentos e recursos, estaremos contribuindo para uma melhor competitividade do Estado, que é um ponto que, quando presidente da Assembleia, eu trabalhei muito.
Em Caxias, o Tudo Fácil está suspenso temporariamente. De que forma esse serviço pode efetivamente ajudar a desburocratizar a região?
Um dos pontos importantes é aproximar e fazer com que a estrutura necessária para o empreendedor, quando vai colocar o seu negócio, esteja mais próxima possível e acessível e também a comunicação e a informação chegue com maior rapidez e velocidade possível lá na ponta. Nós estamos avaliando também a forma e o melhor modelo do funcionamento para que elas tenham eficiência de atendimento à população, a quem mais precisa, a quem empreende. Esse é um papel que também estamos conversando e agora é um início de trabalho. Estamos nos apropriando das informações, dos projetos da secretaria e, posteriormente, vamos fazer esse debate, para ver qual é a melhor forma de estarmos próximos da comunidade, da sociedade, dos municípios. Nós temos algumas ideias que estamos ainda pensando e desenvolvendo de criar, junto com a associação de municípios e as comerciais. Alguma forma de capacitação, de levar a informação de tudo aquilo que o Estado disponibiliza através dos bancos de fomento, através da Junta Comercial, através do Fundopem, lá na ponta, capacitando pessoas para que essas possam difundir, disseminar essas informações aos interessados, aos empreendedores. Estamos colocando no papel algumas ideias, algumas sugestões para que a gente possa amadurecer isso e talvez colocar em prática e aproximar cada vez mais o público do setor privado. E, claro, com essa visão conectada com a liberdade econômica, desburocratizando, simplificando. A tecnologia nos permite hoje a fazer coisas que no passado tinha que ser executado de forma manual. Quando a gente tem isso, a gente ganha competitividade, salientando que, claro, a competitividade não é só a questão burocrática ou mesmo a questão tributária. São vários indicadores como a condição de segurança, de educação, de infraestrutura. A gente precisa olhar o todo e trabalhar para que cada vez mais e melhor o nosso ambiente de negócios fique mais aberto. Mais fértil para que aqueles que desejam empreender no Rio Grande do Sul tenham essa condição de uma forma mais simplificada.
O Estado vive uma situação crítica por conta da estiagem. Na Serra, Canela é um dos municípios com situação mais delicada. Como o governo pretende estimular projetos de irrigação?
Tenho acompanhado esse debate. Lá atrás estive como secretário de Agricultura do Rio Grande do Sul, no governo José Ivo Sartori, e a gente vinha, desde aquela época, discutindo, porque as estiagens e secas no Rio Grande do Sul são cíclicas e agora novamente estamos vivendo um momento muito difícil e dramático. Já avançamos, demos passos importantes, mas ainda não de uma forma como podemos. O grande desafio é simplificar a armazenagem de água. Esse é o grande ponto fundamental para que a gente amplie a nossa área irrigada e tenha água não somente para irrigação, mas também para abastecimento humano e animal que hoje já em algumas cidades está faltando. O Estado está trabalhando essas questões, principalmente de mais emergenciais de abastecimento humano e animal. E nessa área ambiental, para armazenar água, ainda há algumas questões legais a transpor, principalmente com relação ao Código Florestal federal. Há uma mudança em curso lá, transformando reservatórios para irrigação em utilidade pública e interesse social em função de que são utilizados para produção de alimentos, para poder irrigar e garantir a produção de alimentos. Isso vai simplificar o processo de armazenagem de água, porque nós temos um volume de águas muito alto de chuvas durante o ano, temos de 1,5 mil a 2 mil milímetros de chuva, então, temos água sobrando e ao mesmo tempo falta. Por quê? Porque não estamos conseguindo reter essa água e deixar armazenada. Na minha avaliação, é um caminho inteligente, porque você vai reter a água das chuvas, não deixando ela correr e ir através dos rios, e, quando precisar, você tem ela para poder irrigar. Isso vai ter também uma proteção ambiental, porque em todos os reservatórios você coloca uma mata ciliar no entorno, então você vai ter água. É um trabalho que a Secretaria do Meio Ambiente vem fazendo junto com a Agricultura. A gente tem participado também, o próprio Ministério Público também acompanha isso e a gente tem que caminhar numa direção de evitar que se tenha desperdício de água da chuva. Segurar toda essa água para poder ampliar a irrigação e minimizar os efeitos destes momentos como o que estamos vivendo agora. Eles são cíclicos no Estado e acontecem com frequência. Isso traz muitos prejuízos. Nós vamos sentir aí reflexos muito fortes desta estiagem. O produtor perde diretamente a sua produção, mas indiretamente toda a sociedade perde, porque são recursos que deixam de circular. São negócios que deixam de acontecer, são investimentos que não são feitos e tudo isso, quando acontece, movimenta a economia e, não tendo a produção de safras, todo mundo perde e aí gera uma dificuldade ainda maior no aspecto econômico do Estado.