A falta de mão de obra qualificada na indústria de Caxias do Sul e região tem despertado o interesse de profissionais autônomos a buscar conhecimento para ingressar no mercado de trabalho. No Centro de Formação Profissional Senai Nilo Peçanha, 17 alunos do curso de montador de painéis elétricos estão prestes a se formar depois de 160 horas de aprendizado. Um deles é o motoboy Lucas Martins Vieira, de 25 anos, morador do Loteamento Campos da Serra, o mais jovem do curso. Depois de ficar anos entregando pedidos de uma lancheria a outra, Lucas também atuou como office boy recolhendo e distribuindo documentos, mas ele não estava satisfeito com a atividade.
— Queria algo diferente para mim. Imagino que em Caxias as pessoas trabalham muito em metalúrgicas, a maioria pensa assim. Pensei em uma área da parte de elétrica que não é muito comum. Eu posso ter um leque maior de opções de serviço para poder entrar no mercado de trabalho - comemora Lucas.
Pai de uma menina de quatro meses, o jovem sentiu que deveria dar um passo maior na carreira e deixar de lado a vida autônoma.
— Já procuro por empresas. Fica mais fácil com esse curso. Vai me ajudar bastante. Trabalhei só como autônomo, não tenho carteira assinada. Ainda sou jovem e vejo como uma área em que posso ter um futuro. Minha esposa e a família me apoiaram muito — comenta o montador de painéis elétricos.
A instrutora de trânsito Andrea Janes, 37 anos, também resolveu apostar numa mudança de vida. Ela já tem o curso de eletricista predial no Instituto Senai de Tecnologia em Mecatrônica e espera realizar agora um desejo antigo:
— Fiz uma entrevista em Jaquirana para a RGE. Era um sonho trabalhar lá. Estou esperando para ver se vão me chamar, estou me preparando faz um tempo. Não sei se vou conseguir, são vários outros testes que terei que passar, mas estou pronta - aposta a eletricista.
Com o curso de montadora de painéis elétricos, a moradora do bairro Ana Rech vislumbra um futuro diferente.
— Já mudou muita coisa e vai melhorar ainda mais. É uma grande oportunidade para jovens e adultos, não tem idade. A gente é uma família aqui no curso e isso é algo que vou levar para sempre na minha vida — garante a aluna.
O curso que Lucas e Andrea fizeram foi dividido em dois módulos de 80 horas. Na primeira etapa, os alunos são introduzidos aos fundamentos da eletricidade e a montagem de painéis. O profissional aprende os conceitos de se montar um painel, o que é um contator ou um relé térmico, por exemplo. Depois são mais 80 horas no laboratório industrial, onde ocorre a aplicação tática destes circuitos. O montador aprende a ler um diagrama, a identificar peças e começa a fazer a montagem dos circuitos. O programa é gratuito e a condição para o ingresso é que o aluno não esteja no mercado de trabalho. Todos ganham cesta básica e e vale-transporte.
— Começamos com 22 alunos e 17 vão se formar. Outros cinco saíram no decorrer do curso por receberem oportunidade de trabalho. Isso nos agrada muito. Dentro de cada indústria existe uma metodologia, o aluno que sai daqui está preparado para atuar em qualquer empresa na área de montagem de painéis elétricos. A forma com que trabalhamos foca a prática e o comportamento, que muitas vezes, os jovens principalmente, não dão tanto valor — comenta o instrutor Gerson Cantarelli Alonso.
A turma de Cantarelli iniciou os estudos no dia 3 de outubro. A formatura é na quinta-feira (1) na própria escola, quando haverá uma última avaliação das 8h às 10h. Depois vão ser entregues os certificados. A formatura é simples, mas terá uma confraternização e cada aluno vai trazer um prato de alimento para compartilhar os momentos vivenciados em equipe.
Os cursos fazem parte do programa Capacita Caxias, uma qualificação profissional instituída pelo Conselho Municipal do Trabalho, Emprego e Renda (CMTER), e que iniciou com inscrições para quatro capacitações neste ano. A iniciativa conta com representantes do poder público, do setor empresarial e dos trabalhadores. Famílias de baixa renda e desempregados são o público-alvo da ação. Além dos 17 formandos da aula de montador de painéis elétricos, a unidade do Senai Nilo Peçanha formou 11 alunos na aula de ajustador mecânico. Os cursos em andamento são para soldador de chapas e costureiro industrial do vestuário. Ao todo na unidade foram 84 matrículas realizadas.
— Os cursos aproximam as pessoas quem não têm profissão. Dá uma formação profissional sólida para que possam ter um ingresso imediato em empresas. Atendem às demandas de uma indústria que está crescendo e contratando, com profissionais que ainda não tiveram oportunidades de se aproximar. Talvez o desempregado nunca teve a chance de chegar num RH de uma empresa e poder se apresentar. A gente consegue fazer este vínculo entre eles — garante o gerente de operações do Senai Nilo Peçanha, Igor André Krakheche.
No Instituto Senai de Tecnologia em Mecatrônica foram feitas 102 matrículas e entregues 59 certificados. Na unidade, o aluno fica capacitado para trabalhar como ajustador mecânico, eletricista predial, encanador instalador predial, operador de injetores para termoplásticos e torneiro CNC.
Região tem cerca de 3 mil vagas em aberto
De acordo com a diretora do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas Mecânicas de Material Elétrico de Caxias e região, Daiane Catuzzo, cerca de três mil vagas ainda estão em aberto na indústria, sobretudo em Caxias, Veranópolis, Farroupilha e Flores da Cunha.
— A indústria precisa de mão de obra qualificada. São cerca de 3 mil vagas, mas depende muito porque a empresa contrata, demite e esse número pode variar. Nada melhor que uma parceria com o Senai para a gente qualificar as pessoas. Existe a dificuldade de encontrar profissionais. Capacitamos os alunos no Senai e fazemos uma ponte com as indústrias que estão com vagas em aberto — aponta Daiane.
O projeto se estendeu também para o Senai de Flores da Cunha, onde 71 matrículas foram feitas em 2022, pra os cursos de costureiro industrial, eletricista e soldador. As unidades de Farroupilha e de Veranópolis estão com sete certificados em cada uma para a aula de ajustador mecânico. Segundo o Senai Nilo Peçanha, os cursos devem seguir em 2023.
— Todas as turmas que abrimos este ano foram preenchidas com fila de espera. Se conseguirmos manter esse programa para o ano que vem, vamos ter pessoas interessadas no curso e vão continuar surgindo vagas. Há interesse, o que pode dificultar um pouco é o nível de profissionalismo que as empresas exigem, talvez leve mais tempo para formar o profissional, mas pelo tempo que estão aqui dentro já é um primeiro passo. Ainda teremos os cursos gratuitos no ano que vem, mas o Senai vai definir em quais modalidades — garante o gerente de operações do Senai.
Para mais informações sobre os cursos, o telefone do Senai Nilo Peçanha é o (54) 3201-5545.