O Papai Noel pode até levar a fama, mas a verdade é que muita gente trabalha pra garantir que os moradores de Caxias do Sul recebam os milhares presentes de Natal, especialmente quando se trata dos comprados pela internet. Um dos "ajudantes" é Anderson Claiton Gomes Boeira, 45 anos, que trabalha com entregas há três anos e tem atuado sob demanda duplicada desde novembro, quando começaram a chegar as compras de Black Friday. O fluxo intenso, que se mantém às vésperas do Natal, faz ele chegar a uma média de 150 entregas realizadas por dia.
— Ao longo do ano eu costumo fazer cerca de 80 entregas por dia, mas, desde o início de novembro, com este aumento de encomendas que chegam à cidade, eu faço 150 e poderia fazer até mais se coubesse no carro — relata o motorista.
Diferentemente do Papai Noel, Boeira não leva os presentes no lendário trenó puxado por renas voadoras. Ele percorre uma média de 70 quilômetros por dia, passando por diversos bairros da cidade, com um utilitário próprio. A entrega também não é feita de madrugada, pela chaminé, mas sim no expediente das 8h às 17h; e geralmente pela porta da frente, algo que, durante o período natalino, confere um toque de magia à intensa rotina do entregador.
— A gente passa por algumas dificuldades, quando o endereço está errado ou a pessoa não está em casa, mas é muito gratificante ver o cliente sorrindo ao receber o produto que estava esperando, que vai dar de presente para alguém da família ou, ainda, que recebeu como surpresa de algum filho que mora longe, com já aconteceu — relata o entregador.
Boeira, que já trabalhou com aplicativo de carona, além de outras profissões, mantém hoje a atividade de entregas como principal fonte de renda — ele concilia o serviço com os estudos: está no 7º semestre de uma graduação em Psicologia. O serviço que garante a chegada de encomendas provenientes do mundo inteiro aos lares e estabelecimentos da região é compartilhado com uma rede que passou a contar com 1,8 mil parceiros, atuando em entregas para o centro de distribuição local da Easylog.
De acordo com Renato Rambo Rythowen, CEO da empresa que contabiliza 13 unidades na região Sul do Brasil, para atender à demanda dos 90 municípios abrangidos pelo centro de Caxias, neste período mais movimentado do ano, cerca de 800 parceiros foram agregados ao serviço de entrega — que já contava com mil — por intermédio de duas outras empresas locais. Um ecossistema que garante a chegada de todos os presentes e oportuniza a participação de muitos "ajudantes".
— Quanto mais fracionada e em menor perímetro a entrega fora realizada, maior será o lucro para o parceiro. Por isso, nossa estrategia é sempre buscar aumentar a capilaridade logística (capacidade que uma empresa tem de atender diversas localidades) e diminuir os roteiros de cada entregador — afirma Rythowen.
No centro de distribuição, que fica no bairro Desvio Rizzo, atuam hoje 150 colaboradores. De lá saem, por dia, em média, 200 mil pacotes de até 30 quilos, com produtos variados, destinados a 90 cidades do entorno. O aumento de novembro em relação a outubro — que se mantém em dezembro —, segundo o CEO, foi de 150%.
— Em relação à Black Friday do ano passado, tivemos um aumento de 20%, sendo que a média nacional é de 13%. A região de Caxias do Sul fica acima por conta do padrão de consumo e poder aquisitivo da população — avalia.
Retirada presencial também está movimentada
Antes de ir para o Litoral, onde vai passar as festas de final de ano, a moradora do bairro Santa Fé, em Caxias do Sul, Angela Borba, 50, passou pelo Centro para organizar os últimos detalhes das férias em família. A retirada de um ventilador que comprou pela internet foi um deles.
— A gente estava só esperando chegar o ventilador pra agora poder levar ele pra praia — afirmou a consumidora que, com a ajuda da filha, escolheu o produto pelo preço e ainda aproveitou a opção de retirada sem custo oferecida pela Magazine Luiza.
A encomenda dela é uma das cerca de 220 que diariamente chegam pra retirada presencial em apenas uma das lojas da empresa na cidade, localizada na Sinimbu. Segundo o gerente, Ariel Berti Brando, a movimentação desta semana segue o ritmo que começou no final de novembro, com as compras online da Black Friday, ainda refletidas, inclusive, na chegada de mercadorias à cidade. Durante o período de Natal, embora o perfil de compra mude, a média de produtos recebidos no depósito da loja se mantém a mesma, cerca de 20% maior do que o restante do ano. Um acréscimo que o gerente projeta estender-se até meados de janeiro, período de liquidação no qual também há mais vendas realizadas pelo site da loja.
— O maior acréscimo que a gente tem neste período certamente é com a movimentação das compras online, que podem ser retiradas aqui na loja. Tem dias que chegamos a receber 300 produtos, conforme o fluxo de entrega — afirma Brando.
O gerente relata que, para dar conta deste período mais movimentado, a loja disponibiliza a contratação intermitente, que permite a formalização para colaboradores a serem chamados conforme a necessidade. Desde novembro, portanto, a equipe da loja, que originalmente conta com 22 funcionários, está funcionando com 28. Os seis contratados são convocados conforme a previsão de chegada de mercadorias de cada semana, sendo que alguns também auxiliam nos atendimentos da loja, que tem mais movimento aos finais de semana.
A quantidade de retiradas por dia é variável, segundo Brando, tendo em vista a variação de prazos conforme o local de onde vem. A única constante, segundo ele, é a alta procura desde a ação promocional de novembro, quando há um aumento de compra de eletrônicos pela loja virtual.
— Agora o valor do ticket diminui, porque as pessoas compram presentes para o Natal, produtos com valores mais baixos, mas a movimentação se mantém. É uma gama muito grande de produtos comercializados pelo site, muitos que nem temos aqui na loja, como equipamentos de costura, óleo para carro e estilete, por exemplo — cita o gerente.
Caminho até o consumidor
A variedade de produtos solicitados pelos caxienses reflete em diferentes formas de entrega, que, no caso da Magazine Luiza, são realizadas conforme a empresa que vendeu pelo site, e também conforme o tamanho do item. Caixas menores costumam ser enviadas à casa do cliente — ou à retirada na loja — pelos Correios. Itens maiores podem ser entregues via transportadora ou pelo caminhão próprio da loja, que também distribui mercadorias dentro da cidade.
Outra alternativa é a entrega por aplicativo que conecta motoristas de carros particulares à loja, para itens leves. Segundo Brando, a opção tem atraído motoristas que já atuam em aplicativos de carona e que aproveitam suas rotas para realizar a distribuição de algumas encomendas, retiradas por eles mesmos na loja.
— Hoje a logística é muito grande, mas com um único intuito: atender o mais rápido possível o cliente, inclusive em até duas horas, como ocorre com algumas compras, dependendo da disponibilidade — completa o gerente.
Entrega com veículo próprio
O reforço às entregas tem angariado adeptos, uma vez que pode garantir uma renda extra a pessoas que atuem em diferentes atividades ou mesmo vir a se tornar uma fonte principal de renda a quem disponha de um carro ou motocicleta, assim como ocorreu com Boeira. A modalidade de entrega não chega a ser escolhida pelo consumidor, que, da mesma forma, recebe o produto em casa quando assim define no momento da compra. Grandes sites como o Mercado Livre e a própria Magazine Luiza estão abertos a este tipo de parceria, que também pode se dar por meio de aplicativos. Veja como funciona:
:: Mercado Livre — Pelo aplicativo Mercado Envios Extra é possível escolher em quais dias e horários fazer entregas, sendo os produtos agrupados em percursos para diferentes horários. O Mercado Livre garante ser possível obter renda diária de até R$ 240. Os requisitos são ter veículo de até 15 anos ou moto com baú mochilha/baú de 80 litros ou mais; Carteira Nacional de Habilitação (CNH) vigente; Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) ou cadastro de Microempreendedor Individual (MEI), com atividade principal ou secundária específica de entregas. Na Serra, por enquanto, o aplicativo está disponível apenas para Caxias do Sul e Bento Gonçalves.
:: Magazine Luiza — Entregas leves são realizadas pela Logbee, por meio de aplicativo disponível para download no Android. As exigências também se referem a CNH, além de cadastro de MEI ou CNPJ, porém a reportagem não localizou campo para cadastro online na empresa que foi adquirida pela loja para o serviço de entregas, abrindo vagas por meio dos estabelecimentos que comercializam os produtos. No RS são atendidas por motoristas do app Caxias do Sul e Porto Alegre.