Mais de 400 profissionais da cadeia moveleira gaúcha participaram nesta terça-feira (11) do 30º Congresso Movergs, evento realizado pela Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul, em Bento Gonçalves. Cinco especialistas em economia, negócios e comportamento comandaram um circuito de palestras para posicionar empresários e lideranças do setor sobre as perspectivas do segmento, da economia e das tendências para os próximos anos.
A última edição do encontro foi realizada em 2019, quando a indústria gaúcha de móveis enfrentava problemas como escassez de matérias-primas e altos custos de fretes internacionais. Com a pandemia, as empresas iniciaram uma jornada de retomada, atendendo a um aumento exponencial no consumo interno e nas exportações – o que permitiu a cadeia moveleira gaúcha encerrar 2021 com recorde de faturamento e geração de empregos. Agora, o conflito entre Rússia e Ucrânia, o cenário político e a instabilidade econômica brasileira acendem um alerta aos empresários.
Por isso, o Congresso Movergs trouxe dois economistas para apresentar dados e informações com o objetivo de embasar as tomadas de decisões tanto em relação ao posicionamento no mercado quanto à cultura interna. O economista da Unisinos, Marcos Lélis, primeiro a falar, destacou que, entre dezembro deste ano e janeiro de 2023, impulsionado pela Black Friday e Natal, haverá uma nova onda positiva na venda de móveis, permitindo um crescimento de 1,5% no faturamento do setor.
Lelís destacou ainda que o Brasil é responsável por 1,5% da produção mundial de móveis, ocupando a 16ª posição, atrás de países como Indonésia, Reino Unido e Coreia do Sul. Um dado animador é que o segmento no Brasil voltou a contratar e recuperou o número de trabalhadores formais que registrava em 2015: atualmente, são 250 mil pessoas empregadas no setor, número que chegou a 228 mil em 2019.
Em seguida, o economista da XP Investimentos, Rodolfo Margato, apresentou um olhar macro sobre os fatores econômicos como economia global, inflação, política monetária, taxa de câmbio e juros, ritmo de crescimento, entre outros. Na sua manifestação, Margato disse que a tendência é que os juros continuem subindo nos próximos meses nos Estados Unidos e na Europa.
— Nós, da XP, não projetamos contração da atividade econômica mundial, mas um crescimento mais lento. Acreditamos que, ao longo de 2022, haverá uma desinflação global. As moedas estão enfraquecendo em relação ao dólar, mas o Real está aguentando bem. Para 2023, gradualmente devemos ter uma recuperação do varejo — projetou.
Cenário político em discussão
Na abertura do evento, o presidente da Movergs, Rogerio Francio, mencionou o atual cenário político e disse que, com o setor, espera uma atenção especial de quem for eleito no próximo dia 30 de outubro.
— O empresário moveleiro gaúcho é guerreiro e, independentemente do resultado das eleições presidenciais e estaduais, esperamos que os governantes olhem com mais atenção para a classe empresarial. Enquanto isso, vamos fazendo nossa parte — destacou.
O presidente do Sindmóveis, de Bento Gonçalves, Vinicius Benini, destacou que o setor não enfrenta mais problemas de matéria-prima, mas observa agora um ritmo mais lento nas fábricas devido à ausência de pedidos em larga escala. Mesmo assim, projeta um cenário mais otimista para os próximos anos após um semestre negativo em 2022.
— Perdemos espaço para o lazer, por exemplo, onde as famílias investem agora nesse segmento e deixam menos recursos para trocar um móvel e aumentar a casa. Ao mesmo tempo, o lojista, representante está mais cauteloso aguardando o resultado da eleição, independentemente do resultado, antes de definir os próximos passos — frisou.
Setor moveleiro no primeiro semestre de 2022
:: De janeiro a junho deste ano, o faturamento do setor moveleiro no país foi positivo, com crescimento de 5,1% em relação a igual período do ano passado – totalizando R$ 5.415.764.261, de acordo com dados da Movergs.
:: As exportações, no entanto, sofreram retração. Nos seis primeiros meses de 2022, os móveis gaúchos movimentaram 126.8 milhões de dólares, decréscimo de 5,4%.
:: Ainda assim, foram gerados 199 novos postos de trabalho.
Fonte: Movergs
Aposta na experiência de consumo
Além de dados do segmento e discurso pensado no cenário político, o Congresso Movergs trouxe visões do mercado, reflexões humanizadas e experiência baseada no consumo.
Vice-presidente de Desenvolvimento de Produtos da MadeiraMadeira, Santiago Antoranz Pons, apresentou o case Cabecasa, uma marca autoral do grupo paranaense. Pons destacou que dados são fundamentais para solucionar problemas, criar e otimizar produtos, entre outras aplicações para beneficiar o desempenho das empresas.
Também citou a importância de o processo de venda não encerrar assim que o cliente recebe o seu móvel em casa.
— Temos de entender qual é a melhor forma de embalar e a logística até a etapa final, focado no varejo. Pensar como o cliente. O processo de venda não acaba quando o cliente recebe o produto — afirmou.
Com uma abordagem sóciopolítica, o filósofo Luiz Felipe Pondé provou que reflexões humanizadas podem ser valiosas para o meio corporativo. Discutindo o desafio da mudança, Pondé frisou que não existem soluções imediatas e que, às vezes, elas aparecem no desenvolvimento do processo.
— O mundo corporativo é uma unidade social sob forte controle. É um dos territórios mais investigados e onde você tem percepções mais claras sobre problemas e como solucioná-los — refletiu.
O encerramento do evento ficou com o CEO do Rock in Rio, Luis Justo, que focou na economia da experiência como proposta de negócio. Durante sua apresentação, ele relembrou a trajetória do festival criado por Roberto Medina em 1985 – hoje o maior do Brasil, reunindo os principais artistas do planeta.
Citou que o Rock in Rio vende experiências e tem cases de sucesso, como o Rock in Rio Card, um benefício vendido cerca de um ano antes do show, onde o público adquire sem saber quais artistas se apresentarão no festival e nem em qual data.
— Quando cheguei, achei que nosso negócio fosse vender ingressos. Hoje a proposta de valor do festival é proporcionar experiências inesquecíveis através da música e do entretenimento. É difícil entender a proposta de valor, pois, muitas vezes, ela é confundida com produto ou serviço. Vocês podem pensar que vendem apenas móveis, mas não é verdade — completou Justo.
Ele deixou como reflexão aos empresários conceitos para amplificar os negócios, como conhecer a jornada do cliente, reconhecer fragilidades, investir em treinamento, além de confiar no time de colaboradores, engajar e interagir com clientes e parceiros.
— É fundamental que um líder também saiba desenvolver novos líderes e não apenas seguidores — disse.