O polo moveleiro de Bento Gonçalves, um dos principais do país, viveu um momento inédito neste primeiro trimestre do ano. Para driblar as dificuldades da pandemia, a programação da Movelsul e da Fimma foi realizada de forma integrada, na semana passada, ocupando todo o Parque de Eventos do município da Serra. A Fimma é a Feira Internacional de Fornecedores da Cadeia Produtiva de Madeira e Móveis. A Movelsul foca em design e móveis, enquanto a Fimma mira nos fornecedores. Mais de 30 mil pessoas passaram pelo local e as 500 marcas expostas movimentaram R$ 379 milhões em volume bruto de negócios na Movelsul e US$ 330 milhões na Fimma – totalizando R$ 2 bilhões em investimentos. A projeção de crescimento é de 15% em relação às últimas edições presenciais e leva em consideração um horizonte de 12 meses para as parcerias se concretizarem.
A integração das duas feiras permitiu que todos os públicos envolvidos na indústria de móveis e decoração se encontrassem em um único evento do setor. Um passeio pelos mais de 58 mil metros quadrados do parque revelou novidades dos fabricantes de matéria-prima e acessórios para a produção de mobiliários (leia mais abaixo). Ao mesmo tempo, a indústria de móveis também se posicionou para exibir os seus lançamentos e atrair lojistas interessados em levar o produto aos seus clientes. Junto com essas duas pontas da cadeia, arquitetos e designers buscam inspirações para aplicar em seus projetos personalizados.
Segundo as entidades organizadoras dos dois eventos, o mercado de móveis aqueceu em razão da pandemia, desacelerou após as flexibilizações, mas considera que o olhar diferenciado para dentro das residências ainda acompanha o consumidor que está disposto a investir mais dentro de casa.
Os resultados de exportação impressionam: em 2021, o faturamento no polo moveleiro de Bento Gonçalves teve crescimento de pelo menos 45% em relação a 2020. A exportação de móveis produzidos na região também foi animadora: da Serra Gaúcha para o mundo, foram movimentados mais de US$ 75 milhões em vendas para países como Estados Unidos, Uruguai, Peru, Reino Unido, entre outros. Esse volume é o mais expressivo desde 2009.
— Números como esses mostram que a internacionalização das empresas e o design de mobiliário são vitais para a relevância das empresas moveleiras no Brasil e no Exterior — afirmou o presidente da Movelsul 2022 e do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis), Vinicius Benini.
Na visão do presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs), os resultados poderiam ter sido mais expressivos para o setor, seja em Bento Gonçalves como para o país.
— Entendemos que precisamos de mais atenção por parte do poder público para que possamos ampliar ainda mais o nosso mercado. Isso passa, sem dúvida, pela redução da carga tributária, com mais incentivo à exportação, investimento em logística para diminuir o custo do frete e apoio na capacitação. Há ainda um longo caminho a ser seguido — destacou.
Inovação como legado
Na avaliação do presidente da Fimma, Euclides Rizzi, além do volume de negócios, a edição deste ano dos dois eventos deixa como legado um incentivo à inovação no setor. Durante a pandemia, a Fimma atualizou seu posicionamento, criando iniciativas de capacitação e aperfeiçoamento do setor.
— Nos reinventamos, pois a inovação é essencial para o setor moveleiro, seja qual for o porte e o nicho da empresa. Essas estratégias tornaram a Fimma e a Movelsul não apenas uma feira só, mas um movimento atemporal e efetivamente comprometido com a cadeia moveleira.
O tamanho do setor
- O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de móveis e o maior da América Latina. São mais de 240 mil empregos diretos em mais de 21 mil empresas, que em 2020 tiveram um valor de produção estimado em aproximadamente US$ 11,8 bilhões
- Em relação ao mercado externo, o Brasil é o 31º maior exportador de móveis do mundo, com exportações de USD 679,1 milhões em 2020.
- O Rio Grande do Sul é o segundo maior produtor de móveis do país. Conta com aproximadamente 2,8 mil indústrias moveleiras gerando 35 mil empregos diretos.
- O faturamento gaúcho no segmento em 2020 foi de R$ 8,22 bilhões, crescimento nominal de 9,1% em relação a 2019.
- A geração de empregos em 2020 foi positiva em 3,8% na comparação com o início daquele ano, encerrando dezembro com um saldo positivo de 1.340 empregos diretos em comparação ao começo do mesmo ano.
- O polo moveleiro de Bento Gonçalves, que engloba também os municípios de Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira e Santa Tereza, conta com aproximadamente 300 indústrias dedicadas ao setor
- Atualmente, o polo moveleiro de Bento responde por 27,2% do faturamento do estado
- Somente em exportações, o volume de móveis produzidos na região aumentou 57,9% em 2021, impulsionado pela pandemia, período em que as pessoas permaneceram mais tempo em casa e decidiram investir no próprio lar
Fontes: Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs) e Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves
Abertura de portas com toque e comando de voz miram um dia a dia com menos esforço
Móveis sem puxadores são uma das tendências minimalistas mais exploradas nos últimos anos pela indústria moveleira para atender clientes em busca de uma decoração moderna e mais sofisticada. Ao mesmo tempo em que deixa o dispositivo de lado, os móveis incorporaram novas tecnologias que permitem agora a abertura de portas e gavetas com um simples toque ou até mesmo por comando de voz. É menos esforço e mais comodidade para o dia a dia das famílias.
A paulista Blum do Brasil montou um apartamento de 37 metros quadrados em seu estande na Movelsul e Fimma para mostrar, entre outras novidades, uma das tecnologias mais recentes para abertura e fechamento de móveis.
Trata-se do servo-drive, um mecanismo elétrico e acumulador de força que fica instalado na parte interna do móvel. Um leve toque (seja das mãos, com a ponta dos pés ou dos joelhos) é suficiente para que as portas de elevação, gavetas, extensões e refrigeradores se abram sozinhas. Mesmo frentes grandes, de cozinhas, por exemplo, abrem com a ajuda dessa tecnologia como se não houvesse gravidade.
Embora exista o sistema elétrico de movimento, a porta de elevação também pode ser aberta ou fechada manualmente em qualquer momento – outro diferencial, já que permite que o usuário decida qual é a maneira mais prática para utilizar o móvel.
Outra frente de atuação da marca é desenvolver produtos com base na demanda do mercado. Uma dessas iniciativas foi a criação de mecanismos para facilitar com que o usuário tenha acesso aos móveis altos e gabinetes superiores com a ajuda de um rodapé, incorporado ao móvel, que pode servir como degrau. Ou até mesmo uma tábua de passar roupa incorporada ao armário da lavanderia e, com leves toques, pode sair para fora da estrutura e ser utilizada por quem mora em imóveis com pouco espaço.
— O desafio do setor é unir o design com a funcionalidade. Um não pode funcionar sem o outro. Não adianta lançar algo que não vá suprir a necessidade do cliente — afirma o coordenador de marketing da empresa, Diego Acuio.
Além do uso das mãos, a voz também pode ser aplicada para abrir portas de cozinhas e roupeiros. Essa tecnologia foi apresentada pela marca de ferragens Hettich, do Grupo Bigfer, com matriz em Farroupilha. A abertura é feita com a ajuda da assistente virtual Alexa que, por meio da internet, envia informações para o dispositivo acoplado ao móvel e faz a abertura automática e sem as mãos. O fechamento, entretanto, ainda precisa ser feito com o toque humano.
Marca de Garibaldi lança linha de móveis com puxadores de couro e empresa de Sarandi testa novos projetos
Se as grandes marcas optaram por retirar os puxadores, uma empresa de Garibaldi apostou na contramão dessa tendência. Após um pedido sob demanda, a Genialflex lançou no mercado a linha Wood, com frentes ripadas em MDF e os pés em madeira maciça.
Já os puxadores foram produzidos em couro. O modelo está disponível em rack, aparador, cômoda, balcão e mesas.
— Essa linha foi encomendada por um cliente norte-americano. Gostamos tanto do resultado que, no final do ano passado, incorporamos no nosso catálogo. O mercado de móveis é muito competitivo, o consumidor está buscando coisas diferentes e o lojista precisa estar preparado. Não sei se é por causa da paralisação dos eventos por causa da pandemia, mas vejo agora um público comprador em busca de novidades, diferenciais e não mais do mesmo — explica o diretor Basílio Vivan.
Segundo ele, o mercado mobiliário está aquecido, mas pode melhorar, principalmente em segmentos mais populares.
— No início desse ano, principalmente na linha mais popular, percebemos que houve uma queda significativa. Agora, com a Movelsul, percebemos um cenário de melhora, com muitos pedidos. Já o planejado se manteve em crescimento constante. Não percebemos essa baixa — analisa.
Outra fabricante de móveis do Rio Grande do Sul quer usar a Movelsul como um termômetro para o lançamento de uma linha de móveis com design diferenciado. É o caso da Fallk Design, de Sarandi, que está fazendo uma pesquisa junto aos visitantes para colher opiniões sobre um novo produto. Trata-se de um aparador com uma porta diferente e com borda produzida por meio de uma usinagem em curva, dando um novo visual para o produto.
O público é convidado a acessar um link, dar uma nota de 0 a 10 e deixar sugestões e impressões sobre o móvel.
— Temos essa tecnologia na nossa fábrica e conseguimos inovar no mercado. Queremos descobrir qual é a aceitação do mercado, a reação das pessoas para saber se vamos começar a produzi-lo. Esse também é o lado bom do retorno das feiras, porque permite uma interação maior com o público, o que antes estava restrito ao mundo virtual — afirma Carlos Alberto Ferrari, diretor da marca.
Segundo ele, a empresa busca um público mais jovem e aposta no design diferenciado como atração, apostando em mobiliários com estilo minimalista e que foram batizados com nomes que remetem a cidade de Nova York. Outra novidade é um móvel ripado, que, segundo Ferrari, é aplicado em cima da chapa de MDF na própria fábrica, representando um diferencial exclusivo da marca.
Empreendedor de Farroupilha que perdeu fábrica de estofados em incêndio comemora bons resultados
Um incêndio no primeiro domingo de março que provocou a destruição de praticamente toda a fábrica de estofados de Nelci Benjamin Bet, 55 anos, não foi o suficiente para fazê-lo desistir de seguir em frente. Com a ajuda de empresários e dos 18 funcionários que mantém empregados mesmo após o sinistro, a Estofados Benjamin, de Farroupilha, conseguiu produzir cinco estofados em menos de uma semana para serem expostos no estande da marca na Movelsul.
— Do incêndio, sobrou apenas uma poltrona. Mas não quero ficar me lamentando, não podemos olhar para o passado e sim para o futuro — conta ele, proprietário da marca há 35 anos e que começou como reforma de bancos de carro e estofados.
Agora, Benjamin colhe os resultados com o apoio da comunidade e de novas vendas. Segundo ele, mais de 20 pedidos foram fechados durante o evento. Para dar conta da nova demanda, mesmo sem a fábrica própria, Benjamin continuará contando com a ajuda de empresários e de fornecedores de matéria-prima.
Antes do incêndio, a fábrica tinha capacidade de produzir até 15 estofados diariamente e, agora, a retomada será pela metade. A empresa atua no fornecimento de uma linha de estofados para o varejo e também trabalha com pedidos sob demanda.
— Fiz muitos negócios na feira e foi algo inédito, já que o espaço aqui é mais voltado para contatos e que vira um pedido depois. Acho que a minha história comoveu as pessoas e esse apoio, seja moral ou financeiro, é que vai permitir que eu reerga a minha fábrica e volte com tudo — afirma Benjamin, emocionado, ao lado da esposa Teresinha Verona Bet.
Passados o susto e a tristeza com o incêndio, que foi possivelmente provocado por uma descarga elétrica, o empresário consegue falar do episódio com mais tranquilidade, mas não sem encher os olhos de lágrima enquanto conversa. Ele se orgulha de conseguir manter o emprego dos funcionários e contar com o apoio deles para iniciar a retomada.
— Um dia após o incêndio, chamei os funcionários e disse a eles que eu não iria demitir ninguém, mas quem quisesse ir embora poderia ficar à vontade. Ninguém saiu, todos ficaram. Na terça-feira (8/3), começamos a pensar o que iríamos fazer para a feira (Movelsul) porque em nenhum momento pensei em não participar. São todos muito guerreiros — afirma.
Sobre a poltrona que restou do incêndio, exposta no estande, ele contou que ainda não sabe se manterá ela na loja ou se poderá comercializá-la em algum momento.
— Ainda não sei, mas minha filha não quer saber de jeito nenhum de eu me desfazer da poltrona — conta ele.
Principal matéria-prima, madeira aparece em diferentes formatos
Não é possível dissociar a produção de móveis com a sua principal matéria-prima. Antes mesmo do produto chegar pronto ao consumidor, o primeiro elo da cadeia produtiva é a base florestal, na plantação e também na transformação da madeira nativa em madeira serrada - etapa finalizada para ser utilizada para a indústria moveleira. Enquanto pequenos fabricantes compram a madeira serrada, em formato de tábuas, os médios e grandes produtores de móveis investem em serrarias próprias.
Pensando em expandir a sua atuação nesse mercado, a Mendes Máquinas, empresa de Santa Catarina, apresentou lançamentos durante a Movelsul e Fimma. Um deles é um carro chamado de porta toras, que corta e transforma toras de madeiras de até 1,30m de diâmetro. O diferencial, segundo o diretor técnico, Rodrigo Mendes, é que o equipamento funciona com a ajuda de um scanner, em que um sistema faz uma espécie de leitura da tora e identifica automaticamente qual é a melhor forma de a madeira ser processada. O processo é quase independente, sem a ajuda de mão de obra humana.
Ainda de acordo com o diretor, a máquina foi pensada também para aumentar a capacidade de aproveitamento da matéria-prima e auxiliar na redução de desperdícios da madeira, considerado como um dos grandes gargalos do segmento.
— Trouxemos um equipamento com alta tecnologia para resolver problemas antigos de quem trabalha com a madeira. O maior custo dentro de uma madeireira é a própria tora, que é o item mais caro e que precisa ser melhor utilizado. Por isso, os processos de corte otimizados e aliados com tecnologia e sistemas que nós produzimos ajudam a reduzir o consumo da matéria-prima em até 8% se comparados com os processos tradicionais — afirma Mendes.
Com menos máquinas, mas também com a madeira como protagonista, é possível acompanhar um outro formato da principal matéria-prima para a produção de móveis. No espaço da marca Berneck, a madeira está exposta como painéis MDP, MDF, HDF com e sem revestimento, que são bases de móveis, gavetas e armação, além de portas, tampos, prateleiras e divisórias.
De acordo com a supervisora de produtos da marca, Andrea Colin Correa, os painéis MDP são mais utilizados nas indústrias por permitir melhores aplicações, enquanto a versão MDF é a preferida dos marceneiros e revendedores em razão do tamanho. Além dos painéis revestidos, as chapas cruas, sem acabamento, também estão expostas no estande da marca paranaense, que completa sete décadas de atuação neste ano. A empresa fez também durante a Movelsul e Fimma o pré-lançamento de uma nova coleção de painéis, chamada de Sentido.
Ainda segundo Andrea, o consumidor está mais preocupado com a qualidade do móvel e disposto a investir em sofisticação para dentro de casa. Esse comportamento é observado como um legado da pandemia, período em que as pessoas passaram a observar mais os móveis.
— Nós somos fornecedores de matéria-prima para a indústria, mas precisamos estar onde o consumidor está. Se não estivermos lá na ponta, fazendo pesquisa, fica difícil entender a necessidade do cliente final e mais difícil ainda auxiliar a indústria ou o lojista. Nosso setor foi muito beneficiado pela pandemia porque as pessoas mudaram o seu olhar para a casa, o seu casulo e santuário. Com as flexibilizações, o mercado recolheu, mas ainda entendo que o posicionamento que a casa ganhou durante a pandemia é difícil de não voltar a ser — explica.
Outros destaques
Marca de brinquedos infantil mira lojistas
Além de móveis, decoração e máquinas, o público que acompanhou a programação da Movelsul e Fimma 2022 se deparou com um estande de produtos de rodados e pedal voltados ao público infantil.
A presença da marca Calesita Brinquedos, de Santa Catarina, foi estratégica, segundo a supervisora comercial da empresa, Sandra Mara da Silveira. O grupo também é formado pela marca Tateti, voltado para o 'faz de conta'. As duas marcas fazem a sua estreia nos dois eventos.
— A Movelsul atrai um nicho de mercado que é interessante para a nossa marca, que é o dono da loja de móveis. E fortalecer a nossa marca junto ao ramo moveleiro é muito importante. Percebemos que é vantajoso sair da nossa bolha e atrair outros mercados, podendo contribuir com os lojistas a aumentar o portfólio das lojas — afirma.
Adega iluminada faz sucesso
A marca Perlare, empresa de Bento Gonçalves especializada em soluções para superfícies e acabamentos em alumínio e vidro, montou um dos estandes mais elogiados pelo público.
Em vez de apenas expor seus produtos, a empresa montou um pequeno circuito para proporcionar novas experiências. Uma adega iluminada no final do percurso, acompanhada de som de pássaros e pedras no chão, foi um dos locais mais fotografados pelos visitantes.
—Queremos proporcionar novas experiências, mostrar que é possível inovar e mostrar para o público novas aplicações dos produtos — afirma o diretor da marca, Cassiano De Paris.