O crescimento de Caxias do Sul foi marcado por pessoas com vontade de trabalhar, que buscavam uma oportunidade. Esta cultura segue viva na segunda maior cidade gaúcha. Um exemplo aconteceu no Feirão de Empregos da Marcopolo, em abril, quando mais de 1,3 mil pessoas se cadastraram. O interesse foi grande, mas a multinacional não encontrou a mão de obra qualificada que procurava. Por isso, disponibilizou cursos profissionalizantes que agora, quatro meses depois, resultaram em 200 contratações.
Os cursos gratuitos foram de Lid (Leitura e interpretação de desenho técnico) e Metrologia, Solda e Elétrica. A contratação não era garantida, mas as aulas já oportunizaram a qualificação para futuras colocações, caso o aluno não fosse contratado. Os encontros proporcionaram histórias como a de Rosani de Fátima Melo Ribeiro, 51 anos, que estava obstinada a trabalhar no setor metalúrgico.
— Fui a primeira da fila no dia do Feirão. Uma amiga ia comigo, mas desistiu na última hora. Eu estava decidida e fui sozinha mesmo, cheguei era 4h30min, estava vazio e frio. Peguei minha manta e café e sentei lá. Me inscrevi e depois surgiu a chance do curso. Nunca tinha trabalhado com solda, mas decidi, me interessei e hoje estou muito grata — exalta a moradora do bairro Santa Fé.
Rosani é natural de São Nicolau e, em 2004, subiu a Serra em busca de emprego. Por 16 anos, trabalhou numa empresa de plástico. Com a pandemia, ficou desempregada. Nos últimos dois anos, conseguiu alguns trabalhos para se sustentar, mas o desejo sempre foi voltar para a indústria.
— Me identifico nesta área, acho que é a minha aptidão. Estou feliz por ter escolhido esse caminho. O Feirão e o curso me deram esta oportunidade. Fiquei receosa em alguns momentos, mas foi (um processo de contratação) diferente. Sabia que o curso abriria muitas portas. Eu queria (ser contratada) aqui, mas sabia que com a qualificação poderia buscar uma chance em muitas outras empresas — aponta Rosani.
A formatura aconteceu na semana passada. Agora soldadora, Rosani está trabalhando no quinto turno, das 2h15min às 7h30min. E nem o frio característico das madrugadas caxienses conseguiu diminuir a animação dela.
— Estou amando esse horário. Sempre trabalhei de dia, mas estou gostando. Não tem problema nenhum esses dias frios. A maioria que fez curso comigo foi contratada e está feliz. E eu sou muito grata.
"Formar novos profissionais é fundamental"
A proposta dos cursos surgiu após a realização do Feirão de Empregos. O diretor de Gestão de Pessoas da Marcopolo, Alessandro Ferreira, conta que o evento foi positivo para conhecer o perfil profissional da comunidade. A falta de formação técnica dos candidatos não possibilitou suprir as vagas abertas, mas o número de 1,3 mil interessados evidenciou a oportunidade.
— Identificamos que era possível preparar esses profissionais para atuar na Marcopolo ou em outras indústrias da região. Apostamos nos cursos profissionalizantes, que já faziam parte da nossa realidade. Os cursos são contínuos e fazem parte do dia a dia da Marcopolo —aponta o diretor, fazendo referência ao espaço Universidade Marcopolo, que foi criado em 2019 para treinamentos internos e ampliação de conhecimentos dos colaboradores.
No pós-Feirão, 400 pessoas foram convidadas para participar dos cursos e 250 já se formaram. Até o momento, Ferreira afirma que mais de 200 contratações foram confirmadas por meio da iniciativa. O projeto deve ser repetido no futuro, pois é visto como uma oportunidade tanto para os trabalhadores quanto para a empresa.
— Formar novos profissionais é fundamental para que a Marcopolo se mantenha no patamar de líder da produção brasileira de carrocerias para ônibus, fornecimento de novos modais e criadores de ações voltadas para a inovação e tecnologia para o futuro da mobilidade. Queremos seguir oferecendo oportunidades para população da nossa região, isso está alinhado ao propósito da companhia — conclui o diretor.