Desde a pandemia de coronavírus, o brasileiro tem sofrido com o alto preço da carne bovina. Nestes mais de dois anos, o frango se tornou uma das principais alternativas. Só que esta opção também está aumentando acima da inflação. Nos últimos 18 meses, o preço da carne de frango aumentou 49,5% nos mercados de Caxias do Sul. Em janeiro de 2021, o frango inteiro era vendida, em média, a R$ 8,04. Em junho deste ano, o valor estava em R$ 12,03. Os dados foram colhidos pelo Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais da Universidade de Caxias do Sul (IPES-UCS).
Os relatos dos empresários do ramo são de que as vendas de frango aumentaram quase na mesma proporção em que o preço da carne bovina subia. A frente da tradicional mercearia Bigarella, na Avenida Júlio de Castilhos, Celso Eduardo de Souza, 68 anos, afirma que até os clientes com mais poder aquisitivo começaram a se assustar com o preço.
— Foi clara uma mudança em razão do alto custo. Começou devagar e foram trocando conforme o preço aumentava. A oferta (de carne vermelha) estava boa, mas no mercado interno ficou cara demais. A clientela passou a optar por outras proteínas mais baratas, principalmente o frango e o ovo — conta o empresário.
Referência em cortes especiais, o Super Bareinha, no bairro Panazollo, também relata a mudança no comportamento do consumidor. O espaço na mesa do consumir foi ocupado por carnes de frango e porco, que aumentaram de 20% a 25% no período.
— As carnes de aves e de suíno se tornaram a opção. Só que vimos os fornecedores irem aumentando o preço também, para acompanhar a carne bovina. Mesmo sem aumento de custos, o preço disparou. No mercado de proteína, é assim que funciona — aponta Bruno Barea, 31, que administra o negócio com o pai Luiz, conhecido como Bareinha.
Conforme o IPES-UCS, o preço carne suína diminuiu em janeiro de 2022, se comparado com o mesmo mês de 2021. No início do ano passado, a costela, por exemplo, era vendida por R$ 23,46 nos mercados caxienses. Em janeiro, a oferta era por R$ 21,80. Então, o produto teve um aumento até maio, quando passou a ser vendido a R$ 25,90. Em junho, contudo, a costela suína teve um preço de médio de R$ 21,21, encerrando o semestre com uma redução de 2%. Na comparação com janeiro de 2021, a queda foi de 9%.
A maior redução foi no lombo suíno, que era vendido, em média, a R$ 23,56 em janeiro de 2021 e começou este ano sendo vendido a R$ 16,20 o quilo. Em junho, o lombo foi encontrado com um preço médio de R$ 15,57 — uma redução de 33% na comparação com o ano passado.
No pernil suíno, a redução foi de 19%. Nos mercados caxienses, o quilo era vendido a R$ 19,65 em janeiro de 2021. No mês passado, o preço médio foi de R$ 15,57, conforme o IPES/UCS.
Para comparação, neste período de janeiro a junho, o valor do frango teve um aumento de 12,5% — de R$ 10,69 para R$ 12,03. A elevação aproxima o preço com o da carne de porco, mas ainda mantém o frango como a opção mais viável no planejamento das refeições diárias.
— O principal é o (produto) congelado, ainda mais na quinta-feira que tem desconto. O consumidor procura estes pacotes congelados, como filé, coxa e sobrecoxa ou peito. É onde conseguimos fazer o melhor preço e, consequentemente, é o que mais tem procura — relata o açougueiro José Inácio Gonçalves, 50,que atua no ramo há 28 anos e atende no Mercado Conveniente, no bairro Panazollo.
Para o consumidor, a decisão de trocar a carne bovina por opções mais baratas é necessária, mas não é satisfatória.
— Temos um costume forte, então não conseguimos ficar sem carne. Lá em casa, o churrasco do final de semana era sagrado, por vezes até dois por final de semana. Mas, ficou muito pesado. Temos que mudar um pouco, inserir mais frango e um porquinho. Também gostamos de peixe, mas é mais difícil encontrar fresco. Aquela picanha tradicional, esquece, está muito complicado fazer churrasco com ela. O problema é que não é só a carne, tudo está aumentando, então é preciso organizar e reduzir — conta Alan Marin, 38, que é gerente em uma empresa de plásticos.
Produtores apontam custos de ração e outros insumos
Na Região Metropolitana, o valor do frango em pedaços cresceu 12,79% nos últimos 12 meses. O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, afirma que o preço da carne de frango segue em alta ainda em razão dos custos de produção. A pressão no valor dos principais componentes da ração na avicultura segue presente no dia a dia dos produtores, segundo o dirigente. O setor também sofre com o processo inflacionário em alguns insumos.
Por outro lado, o presidente da ABPA destaca que a oferta de milho desacelerou a alta nos preços. O valor desse grão vem se estabilizando e a perspectiva de uma boa safrinha, que ganha força na colheita em agosto, influencia no arrefecimento na alta de preço da proteína do frango.
O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, afirma que a pressão nos custos de produção segue respingando no varejo, que tenta negociar valores diferenciados para manter preços estáveis nas prateleiras.
Próximos meses
O presidente da ABPA reforça que o cenário deve ser de estabilidade nos próximos meses na variação do preço do frango. Ou seja, o valor do produto seguirá mais elevado na comparação com períodos anteriores, mas com altas menores.
Já o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), reforça que a tendência é de alta no âmbito das carnes em geral nos próximos meses. O especialista reforça que o inverno reduz pastagens e força aumento dos valores dos grãos, com reflexo no preço das proteínas.