Entre a virada do ano até agora, é como se todo esse período de mais de 150 dias fosse necessário para que os brasileiros alimentassem o governo com o pagamento de impostos previstos para o ano no país. Para chamar a atenção da alta carga tributária que incide entre produtos e serviços, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Caxias do Sul se engaja em uma campanha nacional e realiza nesta quinta-feira (2) o Dia Livre de Impostos.
Essa será a quarta edição da campanha na cidade, sendo que as duas últimas foram realizadas em formato online. Durante o dia, estabelecimentos estarão comercializando itens com desconto do tributo para que os consumidores percebam o peso do imposto no dia a dia e o quanto ele impacta no preço final dos produtos.
Para ajudar a entender a importância da ação, a reportagem do Pioneiro fez uma pesquisa de preços nesta semana em lojas e supermercados da cidade, alguns participantes da campanha da CDL e outros não, e considerou itens de alimentação, bebidas e artigos de vestuário, para mostrar quanto custariam estes produtos se fossem descontados o percentual destinado ao pagamento de tributos.
Uma garrafa de vinho, por exemplo, ficaria 43% mais barata, saindo de R$ 35,99 para R$ 20,51. O desconto ficaria ainda maior em itens de perfumaria, cujo imposto representa 70% do valor final do item (veja no gráfico abaixo). Os dois produtos escolhidos são apenas um exemplo da carga embutida nos itens, ainda mais com a proximidade do Dia dos Namorados, uma data expressiva para o comércio. Outros percentuais que chamam a atenção são eletrônicos, com 43% de carga tributária, e de itens de vestuário e calçados, com 31% do valor.
De acordo com a diretora da CDL Jovem de Caxias, Shaíze Maldonado Roth, a tributação excessiva atua como um limitador do poder de compra das pessoas e impacta diretamente no crescimento econômico, seja das famílias ou dos próprios empreendedores. A entidade se engajou nos últimos dias para que lojistas e prestadores de serviços aderissem ao Dia Livre de Impostos e oferecessem itens com o valor descontado do tributo — o que, na prática, está sendo arcado pelo próprio empreendedor durante a ação desta quinta-feira.
— O que a gente percebe é que muitas pessoas acham que o empreendedor é o vilão da alta dos preços de produtos e serviços. Mas, na verdade, durante a campanha do Dia Livre de Impostos, quando o lojista seleciona alguns itens para vender sem impostos, a gente consegue mostrar para a população quanto desse valor pago é imposto, que é destinado ao poder público — exemplifica Shaíze.
Além disso, um dos objetivos, segundo a diretora da CDL Jovem, é fixar a campanha no calendário de datas atrativas para os setores do comércio e serviços, sendo assim, representando uma oportunidade de os consumidores aproveitarem os valores diferenciados que foram disponibilizados pelos lojistas como um sinal de protesto. Esse movimento, de acordo com ela, permite que as pessoas estejam mais presentes nos estabelecimentos e possam adquirir produtos além das promoções alusivas à data, ajudando a movimentar a economia.
Neste ano, cerca de 100 empreendimentos estarão participando da campanha (veja quem clicando aqui) e receberam um kit alusivo ao dia, ajudando o consumidor a identificar os locais onde é possível aproveitar os valores mais baixos. O consumidor que quiser aproveitar o Dia Livre de Impostos encontrará diversas opções de produtos e serviços com descontos que vão desde artigos de vestuário, serviços de consultoria, alimentação, entre outros. A maioria dos estabelecimentos fica localizado no shopping Villagio Caxias, onde mais de 52 locais estão participando da campanha da CDL Jovem e oferecem itens com até 50% de desconto.
Shaíze afirma também que, por se tratar de uma campanha nacional, o movimento busca mais do que alertar o consumidor e, também, pressionar o Congresso Nacional para que a população sofra menos com o impacto dos impostos.
— Existe um manifesto no site oficial da campanha que qualquer pessoa pode assinar e que deve fazer isso. Esse documento vai ser entregue na Câmara dos Deputados com o objetivo de demonstrar a insatisfação das pessoas quanto a essa carga tributária e buscar medidas que auxiliem a reduzir o tamanho dessa mordida nos produtos e serviços — explica.
Cobrança por melhor retorno do tributo
Um dos estabelecimentos que aderiram ao Dia Livre de Impostos é uma empresa de purificadores de água de Caxias do Sul. Uma linha de produtos está com até 29% de desconto. Para o diretor da empresa, Humberto Adami, que também integra a CDL Jovem, a campanha não busca ser contra o tributo, e, sim, uma crítica pela alta incidência e falta de transparência em como o imposto é devolvido para a sociedade.
— O problema não são os impostos, mas a forma como são cobrados e o retorno para a população que não se tem. As pessoas não enxergam o peso disso na formação do preço de um produto ou item. Eu, como empresário, se tivesse uma carga tributária menor, poderia estar investindo mais no crescimento e podendo gerar mais empregos, por exemplo — afirma ele.
Quem também está participando da ação é um restaurante localizado na Rua Os Dezoito do Forte. Nesta quinta (2), o prato de nhoque com ragu de costela poderá ser consumido a R$ 30. Em outros dias, a refeição custa R$ 45, exatamente 33% a menos, que é o percentual de imposto que incide na alimentação em restaurantes.
— Acho muito importante participar de uma ação como essa para que todos saibam o quanto é pesado pagar tanto imposto, seja em produtos, serviços e também na alimentação — afirma Guilherme Ferreira, um dos sócios do empreendimento.
Percentual de carga tributária média no Brasil*
Livros - 15%
Estacionamento - 16%
Bebidas sem álcool - 26%
Salão de beleza - 26%
Academia - 27%
Cama, mesa e banho - 28%
Joias/Relógios - 30%
Cinema - 30%
Vestuário - 31%
Sapatos - 31%
Remédios - 31%
Papelaria - 32%
Restaurantes - 32%
Eletrodomésticos - 34%
Brinquedos - 34%
Óculos - 34%
Bijuterias - 34%
Chocolate 34%
Utensílios para o lar - 37%
Celulares - 40%
Bolsas e malas - 40%
Eletrônicos - 43%
Bebida alcoólica e cigarros - 43%
Higiene pessoal - 46%
Maquiagem - 58%
Perfumaria - 70%
*Fonte: Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).