Os personagens da Turma da Mônica e o bairro mais famoso das histórias em quadrinhos farão parte da agenda de atrações em Gramado a partir de 12 de outubro. A Vila da Mônica é o novo empreendimento liderado pela porto-alegrense Manoela da Costa Moschem. Moradora de Gramado há quase 20 anos, ela também é sócia-fundadora do Snowland e presidente e sócia-fundadora da Associação de Parques e Atrações da Serra Gaúcha (Apasg) desde 2019. Além de empreender, ela também foi vereadora por dois mandatos, prefeita em exercício e primeira presidente mulher da Câmara de Vereadores de Gramado em 64 anos de emancipação do município da Serra.
Para trazer os personagens de Maurício de Sousa, o investimento chega a R$ 60 milhões, gerando quase 200 empregos diretos entre as fases de construção e operação. O empreendimento terá 11 mil m² e está localizado às margens da RS-235, no bairro Carazal.
Projetada pelo arquiteto gramadense Márcio Ribas, a Vila da Mônica terá cerca de 30 atrações, como a Calçada da Fama, a Cidade dos Carrinhos, o Canteiro de Obras, o Laboratório do Franjinha, as Casas da Mônica, do Cebolinha, da Magali, do Cascão e do Luca, entre outros. A pré-venda dos ingressos iniciou no mês passado no site oficial do parque.
Em entrevista ao Pioneiro, Manoela fala sobre o início do projeto, os desafios de ser construído em plena pandemia e o aprendizado do setor com as restrições.
Pioneiro: Como surgiu o interesse em construir a Vila da Mônica em Gramado?
Manoela da Costa Moschem: Pela necessidade de atrações para crianças. O público família, em Gramado, cresceu muito nos últimos anos. E percebi, pela minha experiência no Snowland, que a cidade não tinha atrações que chamassem a atenção das crianças e também para a família. Desde então, comecei a pensar na concepção de um novo parque, o que ele deveria ter para atender esse público, e estava em busca de um personagem que fosse o símbolo dessa atração. Em novembro de 2018, fui buscar inspiração na Disney e em uma feira, chamada IAAPA (Associação Internacional de Parques e Atrações, na tradução), também em Orlando. Na entrada dessa feira, recebi um informativo e quem está na capa? A Turma da Mônica. Ali comecei uma conexão com o Mauro (Sousa, diretor de espetáculos, parques e eventos da Mauricio de Sousa Produções) e voltei dos Estados Unidos com a Turma da Mônica, que, sem dúvida, são os maiores personagens que temos no Brasil. Quando a marca entrou no negócio, nós tínhamos uma ideia boa de parque, mas, com a participação deles, que exigem o maior esforço que a gente tenha em todos os sentidos, o projeto cresceu muito.
Era também um desejo dos criadores da Turma da Mônica estar em Gramado?
Não estava no planejamento deles. Foi esse encontro nos Estados Unidos que nos uniu. Eu com uma ideia de parque e procurando um personagem e eles encontrando alguém disposto a trazer a Turma da Mônica para um dos destinos turísticos mais famosos do Brasil. Sei que eles queriam abrir novos parques, mas não pensavam em Gramado. Brinco que era realmente pra ser porque foi muita coincidência. Em 2019, o Maurício de Sousa foi homenageado pelo Festival de Cinema de Gramado e fizemos o lançamento da pedra fundamental do parque. A Turma da Mônica tem um parque muito famoso em São Paulo, mas o nosso modelo é diferente. Vamos fazer uma homenagem para a cidade de Gramado e as crianças serão o motor da atividade. Apostamos em tecnologia, interação e muitas brincadeiras. O conceito é baseado na Vila do Limoeiro, onde as histórias acontecem. O Maurício de Sousa sempre disse que a Vila do Limoeiro é a representação de onde cada um mora, como uma espécie de acolhimento.
Qual será o diferencial desse novo parque em relação aos demais na Região das Hortênsias?
É a consciência ambiental. Seremos o primeiro parque da América Latina com as certificações LEED Well e Green Building (ambientais e sustentáveis). Tudo que a gente usa na obra e a concepção arquitetônica passa pelo crivo da certificação. E ela é super exigente. Teremos recolhimento da água da chuva, sistema fotovoltaico e todos os ambientes terão inserção de luz natural. Esse é outro desafio porque também teremos luz cênica. Seria muito mais fácil um pavilhão escuro que a gente iluminasse somente de forma cênica. Mas teremos abertura no teto para que as pessoas percebam a presença da luz natural, se está chovendo ou não. É um projeto muito interessante e extremamente detalhado. Usamos tinta que não agride o meio ambiente, por exemplo. Não tem nenhum parque no Brasil que esteja tão preparado para receber essas certificações ambientais. Entendemos que temos uma tarefa pedagógica nesse parque. Vamos atender as famílias das próximas gerações. É muito importante que a gente coloque a questão ambiental como atração. Vamos mostrar para os visitantes como isso funciona na prática. É uma aula de meio ambiente, onde vamos ensinar para as crianças, que é o que a Turma da Mônica sabe fazer como ninguém.
Como estão as obras de construção do parque?
Começamos a construir na metade de 2020, mesmo em um cenário pandêmico. Foi um desafio enorme. Era uma época que todos nós tínhamos dúvidas se a gente ia um dia voltar ao normal, poder sair de casa, visitar parques, viajar. Apesar disso, passamos a acreditar que, sim, as coisas voltariam ao normal e, mais do que isso, quando isso acontecesse, as pessoas iam necessitar de convivência, diversão e momentos de qualidade com a família. Entendemos que o parque nos ajudaria também a recuperar o tempo perdido. Isso embasou a decisão de fazer a obra em plena pandemia, com todas as restrições. Entre o orçamento inicial e o início da obra, tivemos aumento de 35% em todos os elementos necessários.
Apesar de públicos diferentes, quais as semelhanças entre implementar o Snowland e agora a Vila da Mônica?
Dois desafios bem diferentes. O Snowland foi o primeiro projeto que tive a honra de estar junto desde a concepção até o funcionamento. Fizemos, literalmente, nevar (risos). Cada vez que entrava no Snowland eu pensava ‘meu Deus, como é que conseguimos fazer isso?’. E entendo o parque também como um grande impulsionador do entretenimento em Gramado. Com todo o respeito a todos parques, que temos ótimos e lindos espaços em Gramado e Canela, mas o Snowland foi o grande case que fez Gramado dar um salto e mudou a concepção de parque na cidade. A Vila da Mônica é completamente diferente. Temos o know-how da operação, mas o conteúdo é que vai fazer a diferença
O que o setor de entretenimento aprendeu com a pandemia?
A pandemia foi muito dura para os parques. São estruturas que têm uma quantidade grande de colaboradores, que conseguiram manter muitos deles durante esse período. Foram oito meses fechados. Lutamos com o governo do Estado para reabrir. E, quando voltou, eles foram fundamentais. Sou presidente da APASG e os parques foram elementares na volta da atividade turística com o arrefecimento da pandemia. Em momentos, tínhamos hotéis e restaurantes liberados, com redução de capacidade, mas os parques estavam fechados. Enquanto isso, a cidade estava com pouco movimento. A partir do momento que recebemos liberação para abrir os parques, a movimentação aumentou. Percebo que estamos consolidando um novo momento do turismo em Gramado. Tivemos, lá atrás, o ciclo moveleiro, hoteleiro, gastronômico, chocolateiro, eventos e o que deu a renovação foram os parques. Os empreendimentos de entretenimento fizeram com que a gente voltasse a ter um novo ciclo de crescimento turístico. Reduzimos a sazonalidade. Antigamente, dependia de Natal, Páscoa e eventos. Agora, com programação o ano inteiro, fixas, temos movimento o ano todo.
Além de empreendedora, você tem uma trajetória na política em Gramado. Como fazer para que mais mulheres ocupem espaços de liderança nas empresas e no poder público?
Acredito demais no empreendedorismo. A geração de empregos e oportunidades muda a vida das pessoas. Comecei a trabalhar com 13 anos, com eventos, fazendo bicos aqui e ali e sempre tive o sonho de empreender. Eu sabia que isso iria mudar a minha vida e, de fato, mudou. Fico muito feliz quando vejo que mais pessoas possam crescer financeiramente e intelectualmente. Na política, acho que uma coisa depende da outra. Tem tudo a ver com as mudanças que queremos. Enquanto mulheres, temos que dar a nossa visão em tudo. Temos pouca participação feminina, principalmente no interior. Para as mulheres, é tudo mais difícil. Ela trabalha e tem atividades de cuidado com os filhos e se dedicar a sua família. Os homens têm mais liberdade. A política exige muito, são dezenas de compromissos, não temos horário. Fui a primeira mulher a assumir a presidência da Câmara de Vereadores e a primeira mulher a ser prefeita, mesmo que por dois dias. Nunca havia tido uma mulher candidata a prefeita e nem vice. Sempre que posso, falo e estímulo às mulheres a pensarem nisso. A política é boa se tivermos boas pessoas.