Soluções com novas tecnologias para diferentes setores da economia são apresentadas durante o 4º Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano, realizado em Caxias do Sul. Isso porque o evento abriu espaço para startups apresentarem pitches de cinco minutos, em que contam quais são as propostas em busca de investimento.
No total, são seis startups participantes da iniciativa, que tem o objetivo de criar um ambiente de inovação dentro do fórum. A ideia é criar um espaço de conexão entre empresas, potenciais clientes e startups, por meio de pitches que ocorrem tanto presencialmente quanto online.
— Nós temos muito espaço para a inovação. O biogás está num ciclo de forte crescimento no país. Então para que ele continue crescendo, precisamos de incorporação de inovação dentro desse ambiente — explica Airton Kunz, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, em Concórdia.
Entre as startups, está a Kemia Biogás. A aplicação dessa energia renovável é um dos braços da empresa catarinense, que trabalha principalmente com tratamento de efluentes. A previsão é que, neste ano, chegue ao mercado o biodigestor em polipropileno que possui sistema interno de aquecimento e agitação do material orgânico, que é o diferencial em relação aos demais reatores.
O CEO da Kemia, Rafael Celuppi, diz que o diferencial em relação aos demais reatores é que ele consegue trabalhar com materiais mais sólidos, como gordura, restos de pelo, ração e eventualmente até algum animal morto. Como a energia se concentra mais nos sólidos, a consequência é a maior geração dela, na ordem entre 3% e 20%. Celuppi explica que a ideia de trabalhar com biogás partiu de uma avaliação a partir do que o atual mercado da empresa demonstra:
— O tratamento de efluentes normalmente é visto como um custo pela indústria e todas precisam ter. Mas a gente vê que tem como gerar renda ou outros capitais com o biogás.
Por enquanto, o reator está na fase de protótipo. Mas, está em negociação a instalação até o final do ano em um frigorífico, ou seja, a primeira unidade industrial a utilizar esse reator de tecnologia totalmente nacional, que foi desenvolvido depois que a empresa conheceu uma iniciativa semelhante na Alemanha.
Esgoto pode virar fertilizante, água e gás
O tratamento de esgoto no Brasil é um dos gargalos a serem superados. E a transformação dessa matéria orgânica pode gerar fertilizante, água e biogás. Esse vai ser um dos temas do Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano nesta quarta-feira (13). O professor Carlos Chernicharo, da Universidade Federal de Minas Gerais, vai abordar as perspectivas para universalização de acesso ao tratamento de esgoto e a relação com o aproveitamento de biogás.
O palestrante diz que o principal desafio hoje é a avaliação da viabilidade financeira da instalação de um sistema que gere biogás por parte das empresas de saneamento. O especialista salienta que a necessidade também pode se mostrar diferente de região para região. Por isso, é preciso avaliar quais os tipos e usos de energia são mais factíveis em cada local. O certo é que, pela constituição do esgoto, é possível retirar água, biogás e biofertilizantes dele. Nesse processo, além dos ganhos ambientais, podem ocorrer benefícios sociais ou até financeiros.
Por exemplo, a empresa de saneamento pode criar área de convivência para o uso da comunidade onde o biogás é utilizado como fonte de energia elétrica ou térmica. Já o fertilizante, que sairia do lodo do esgoto, após a secagem térmica, tem redução de volume e, portanto, diminuição de custo de transporte do material. Além disso, esse lodo originaria o biofertilizante, que pode ser distribuído ou vendido a agricultores.
— Se a gente usar todo o lodo do esgoto, ele não vai ser suficiente nem para atender possivelmente 10% da demanda que a agricultura potencialmente tem. Então, potencialmente tem muito mais demanda do que o tratamento de esgoto pode oferecer. Por isso que essa lógica de eventualmente pensar no pequeno agricultor e não no grande agricultor porque você agrega essa questão social da produção de alimentos pelo pequeno produtor. Então, são modelos de negócios diferenciados e que cada região vai ter que olhar qual é o melhor modelo para cada região. Não dá para ter um modelo único para o Brasil com toda essa diversidade que a gente tem.