Felipe Maas tem apenas três anos no ramo, mas demonstra ser um estrategista para manter o crescimento da empresa. Nesse pouco tempo, ele saiu de uma pequena sala onde atendia sozinho, no loteamento Charqueadas, para uma sala mais ampla na área central do bairro Desvio Rizzo. Um processo em curto espaço de tempo.
— A parte administrativa é onde foi meu ponto mais forte. Eu consegui crescer pela gestão financeira, adequar os gastos, ter como investir e conseguir ir aumentando o tamanho da barbearia — conta.
Maas tem uma característica bem clara na sua fala, ser estratégico. Ele atuou por seis anos na empresa de transporte urbano de Caxias, onde viu que tinha habilidade de trabalhar diretamente com o público. Entre as possibilidades de criar a própria empresa, ele viu na barbearia um nicho que estava crescendo e apostou naquilo. Fez um curso de quatro meses numa escola de Caxias e alugou uma pequena sala no Charqueadas, onde investiu R$ 9 mil. Nos primeiros 18 meses, dividia-se entre a empresa das 5h às 14h e a barbearia, das 15h às 22h. Conquistada a clientela, decidiu se dedicar exclusivamente à profissão de barbeiro.
A partir desse momento, veio a chance de trabalhar um local mais amplo e movimentado, no bairro Desvio Rizzo, onde reside. O novo local (na foto) exigiu um custo de R$ 39 mil e, seis meses depois, surgiu a oportunidade de dar um passo maior. Ele alugou uma sala comercial vizinha à barbearia mais ampla, aumentou a equipe e colocou um adicional que vem chamando atenção dos clientes: uma mesa de sinuca. Esse novo passo já ampliou os investimentos para R$ 57 mil.
— A expansão do negócio é para atender mais clientes e proporcionar um ambiente maior, moderno e com mais variedade de serviço. Aqui a gente consegue agregar mais e no valor da nossa barbearia no mercado — explica Maas, que ressalta outra alternativa para chamar mais atenção:
— A ideia foi de trazer para um ambiente que nos deixa mais à mostra para rua. O pessoal pode enxergar o que está acontecendo, por isso optei por não adesivar a fachada e deixar as pessoas observar de fora como é o nosso trabalho.
Além da mesa de sinuca, Maas vê o trato com o cliente como o grande diferencial que possui. Além dos penteados da estação, em que oferece a possibilidade das famosas luzes e cabelos descoloridos, a aposta é no relacionamento.
— A gente precisa estar sempre atualizado no mercado e buscando novas oportunidades. Analisando o ramo da beleza, e eu acredito que a nossa agenda está cheia pela forma que trabalhamos com o cliente, isso é um diferencial. Uma resenha, a humildade, independente de quem seja. Isso tem ajudado — analisa.
O próximo foco é abrir a primeira turma de barbeiros em abril. Mais um passo para se diferenciar no ramo, Maas e sua equipe buscam criar uma metodologia própria para formar barbeiros dentro do próprio estabelecimento. O curso ainda está em criação, não tem um valor determinado. Questionado sobre formar mais concorrentes, ele acredita que isso é ainda mais positivo:
— Quanto maior a concorrência, mais precisamos estudar para estar à frente. Sem isso, a gente pode se acomodar. Ainda faltam barbeiros para a quantidade de cliente, tem público para todos — encerra.
Um sonho levou a ser referência no mercado
Barba, Cabelo e Amigos. Essa é a frase da fachada na Barbearia Ary Rocha, no loteamento Charqueadas. Isso também resume como o empresário Ary Rocha quer ser lembrado nesse mercado, afinal, o contato com os clientes é o grande diferencial que ele entendeu nos últimos como a forma de fidelizar a clientela. Hoje uma referência no mercado, ele ingressou de forma curiosa. Um sonho com o pai, num momento difícil, o levou às tesouras e navalhas.
Ary ficou sem emprego, após a empresa metalúrgica em que trabalhava falir, em Farroupilha. No mesmo dia, ele sonhou com o pai lhe mostrando que Ary cortava cabelos, algo que poderia ter acontecido antes.
— Quando tinha 13 ou 14 anos, meu pai queria pagar um curso de cabeleireiro, que na época não existiam as barbearias. Isso eu falo lá de 1997. Eu não dei bola, mas, 20 anos depois, ele mostrou que era essa a profissão para seguir — lembra.
Na primeira investida, ele admite não ter gostado da profissão. Só que, incentivado pelo irmão, Ary foi atrás de um curso prático e decidiu: a barbearia seria sua vida. Ele começou em Farroupilha, trabalhando em um estabelecimento até resolver investir na carreira solo. Em 2017, transferiu-se para Caxias do Sul e abriu o seu empreendimento em uma garagem alugada no loteamento Charqueadas, mais pela proximidade com o shopping. A primeira barbearia já tinha ar condicionado e uma máquina de café, um diferencial que ajudou a encher a agenda. Foi preciso chamar mais um barbeiro, mas o movimento não dava conta. Num só dia, Ary chegou a realizar 77 atendimentos, trabalhando 20 horas seguidas.
Com o negócio consolidado, ele entrou na zona de conforto. No entanto, em 2018, precisou devolver a garagem que alugava e tinha a barbearia. Com a esposa grávida e sem lugar para trabalhar, Ary deu um passo ousado e alugou uma sala comercial no mesmo bairro. Começava ali uma nova fase.
— A necessidade me fez criar um conceito novo e consegui montar a melhor barbearia da cidade num bairro. O que é uma quebra de paradigma, afinal o que é bom está no Centro. Montei essa estrutura de 157 metros quadrados, saindo de uma garagem com 12 metros quadrados. Aquela barbearia tinha investimento de R$ 22 mil e acabou aqui tendo mais de R$ 405 mil. Eu vendi moto, carro, peguei financiamento, passei cheques, peguei dinheiro emprestados com amigos, mas nunca fiquei devendo — recorda.
“NUNCA ME VI EMPRESÁRIO”
Hoje a barbearia, num mês bom, chega a realizar 1,7 mil atendimentos. Com uma equipe com 10 barbeiros, uma supervisora, dois recepcionistas e um gerente, tendo também uma unidade em Farroupilha, inaugurada este ano. A projeção agora é ampliar os negócios e abrir a segunda filial, desta vez em Caxias.
— Eu nunca me vi empresário. Trabalhava em metalúrgica, mas me identifiquei muito com a profissão de barbeiro. Quando eu comecei na profissão, sozinho, eu era a empresa. Tudo que eu ganhava, dividia 40% pra mim e 60% para empresa. Eu tinha noção de que a empresa precisava do caixa dela, sempre fiz essa divisão. Acabei juntando uma grana bacana que me fez crescer com saúde financeira legal — explica ele.
Hoje, segundo Ary, ele tira 7% da empresa para si, o resto fica para novos investimentos e ideias não faltam. Além de repensar o modelo da matriz, Ary também investe em cursos e workshops para outros profissionais ou quem deseja ingressar nessa área.
— A gente acaba contando a mesma história, as pessoas se identificam e perguntavam se não dava curso. Nessa procura, eu vi a oportunidade de monetizar. Hoje, tenho uma empresa que só dá aula, no último domingo (27 de março), tinham 35 pessoas aqui. Já formamos muitos alunos. No Charqueadas, tem cerca de 18 barbearias e metade foi formada aqui — recorda.
Salões da Resistência
No meio desse boom das novas barbearias, aquelas clássicas ainda sobrevivem e mostrando que existe público para todo mundo. Desde 2002, seu Francisco Valdemir Pereira dos Santos trabalha num dos pontos mais tradicionais de Caxias do Sul, o Salão Central. O estabelecimento está na galeria do Comércio há 54 anos – antes era localizado na em frente à Praça Dante Alighieri, onde hoje é a Farmácia Central –, e o movimento continua bom. Mesmo com o advento das concorrências, ele afirma que não pode reclamar.
— Aqui caiu uma boa parte, digamos que uns 40%. Mas temos clientes muito antigos e há três anos que a gente mantém o mesmo preço do cabelo e da barba em R$ 60, se subir já dificulta para os nossos clientes. Vamos controlando e, como dizem os gringos, dando para comer a polenta e o radicci, está bom. Estamos levando, e não tem do que se queixar — diz ele.
Seu Francisco é de Soledade e trabalhou boa parte da vida no setor de construção, principalmente para empresa Andrade Gutierrez. Assim, cruzou todo o sul do Brasil, mas, na década de 1980, decidiu deixar o antigo posto e foi para o mercado do corte de cabelo. Ele morava em Foz do Iguaçu (PR) quando entrou para esse ramo, e já são 30 anos lidando como barbeiro e vendo o mercado de profissionais disparar.
— Cresceu muito, inclusive com a pandemia muita gente veio para esse lado do corte de cabelo. Eles acham que é fácil montar um salão, colocar uma cadeira e sair a cortar cabelo. Só que não é por aí. O barbeiro e o cabelereiro têm técnicas, então precisa ter consciência de que não é para qualquer um, tem segredos nessa profissão — relata.
Para seu Francisco, o conceito das novas barbearias é perigoso, principalmente em relação ao comércio de bebidas alcoólicas e à distração que esses ambientes com sala de jogos proporciona. Outro ponto que o experiente barbeiro vê problema são nos preços cobrados, às vezes próximos dos R$ 100.
— O negócio aqui é trabalhar, esses barber shops têm que cobrar muito caro (o serviço). Para a região, que é sempre focada no trabalho, os clientes querem gastar pouco e sair razoavelmente contentes. Não é um luxo, mas querem sair decentes — opina.
Se por um lado os métodos são antigos, o que não se pode falar é que falta trabalho. Sempre tem um cliente no Salão Central buscando atendimento.