Depois da crise do coronavírus derrubar negócios e espalhar prejuízos em diferentes setores, a economia de Caxias do Sul segue dando sinais de retomada . No acumulado dos últimos 12 meses, a atividade econômica caxiense avançou 6,6% — o melhor resultado desde o início da pandemia e em crescimento pelo nono mês seguido.
O dado positivo se deve à indústria, que avançou 18,9% e segue como a protagonista da recuperação econômica no maior município da Serra. Na contramão, comércio e serviços tiveram quedas, mas nos menores patamares observados nos últimos 12 meses e com tendência de reversão na curva ao longo deste ano. Esses e outros indicadores foram apresentados nesta terça-feira (5) a partir do relatório Desempenho da Economia de Caxias do Sul, elaborado pela Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CIC Caxias) e pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL Caxias).
Responsável por 53,4% da economia caxiense, a indústria segue em crescimento desde fevereiro de 2021, quando avançou 0,9% em relação ao mesmo período de 2020. Alcançou o maior patamar em outubro, quando cresceu 22,2% no acumulado dos últimos 12 meses. Entretanto, vem reduzindo o desempenho a cada mês, atingindo 18,9% em fevereiro — o mesmo patamar de agosto do ano passado. Para os economistas, a recuperação da indústria caxiense atingiu um teto e agora deve se estabilizar nos próximos meses.
— A indústria saiu antes da pandemia, cresceu bastante e puxou muito a economia de Caxias nos últimos anos. Foi o principal diretor da economia local. Agora, depois de crescer tanto, ela segue em evolução, mas em um ritmo mais moderado do que nos períodos anteriores. Não é que ela venha decrescendo, apenas tem uma velocidade um pouco menor, característico de quem chegou e conseguiu cumprir com a sua recuperação dos períodos perdidos em razão da pandemia — analisa o diretor de Planejamento, Economia e Estatística da CIC Caxias, Tarciano Mello Cardoso.
O expressivo resultado da indústria foi possível porque a produção (que corresponde ao nível de capacidade da produção do parque industrial, horas trabalhadas pelos funcionários e volume de compras no setor), o faturamento (vendas) e a massa salarial (soma de todos os salários pagos aos trabalhadores durante o ano) cresceram significativamente nos últimos 12 meses. Cardoso destaca que o volume de compras das indústrias locais apresentou crescimento de 52% entre fevereiro de 2021 e 2022, seguido do número de vendas, com acréscimo de 12,9% no mesmo período.
— Compras industriais é o principal indicador do desempenho da indústria. Quando ele cresce, o que isso nos remete? A uma indústria comprando, produzindo, empregando e gerando riqueza para o setor onde ela atua — observa o especialista.
Comércio e serviços seguem retraídos, mas em patamares menores
Na contramão da indústria, os setores do comércio e de serviços ainda não se recuperaram dos prejuízos acumulados com a pandemia. O levantamento da CIC e CDL aponta que o comércio caxiense caiu 5,4% nos últimos 12 meses. Já o setor de serviços retraiu 8,8% entre fevereiro de 2021 e de 2022.
A economista Maria Carolina Gullo, diretora de Planejamento, Economia e Estatística da CIC aponta que, apesar de negativos, apresentam recuperação a cada mês — outro fator que contribuiu para o saldo positivo nos últimos 12 meses. Em fevereiro de 2021, por exemplo, a queda do comércio foi de 19,6% em relação ao mesmo período de 2020 e alcançou retração de 20,4% no mês seguinte. Naquele período, o comércio ensaiava uma retomada após o início da vacinação contra o coronavírus.
— São números negativos que vem sendo melhorados, ainda que devagar, mas que vem continuamente melhorando o seu número. Apesar do tropeço de fevereiro em relação a janeiro (leia mais abaixo), os números do ano e do acumulado de 12 meses seguem mostrando tendência de melhora — afirma.
Mesmo assim, os especialistas reconhecem que o cenário é de otimismo para 2022, mas que esse sentimento precisa ser acompanhado com cautela. Na avaliação de Maria Carolina, a falta de previsibilidade do cenário eleitoral em ano de pleito presidencial, os reflexos da estiagem e uma possível interferência do conflito entre Rússia e Ucrânia na economia local fazem com que o desempenho dos próximos meses seja analisado com atenção.
Para o também diretor da CIC, Alexander Messias, a tendência é que 2022 represente reversão nos piores indicadores, mas que se confirmará caso não haja fatores externos. Ele defendeu ainda que o país avance nas reformas tributária e administrativa para que a economia avance além do previsto.
—Temos uma visão de otimismo cauteloso, seja na economia de Caxias do Sul e na brasileira. Há uma expectativa de melhora nos indicadores, principalmente de serviços, que vem se animando. Observamos mês a mês uma melhora e isso deve persistir, ou seja, espera-se para esse ano uma reversão total desses números negativos. Em economia muitas variáveis impactam, mas se não houver mudanças significativas, esse é o comportamento que observamos para os próximos meses — destaca.
Ano inicia com segundo mês seguido em queda
Observar os indicadores da economia caxiense é também uma questão de perspectiva. Enquanto o acumulado dos últimos 12 meses apresenta alta, o levantamento com base entre janeiro e fevereiro deste ano registrou encolhimento de 5,3%. Em janeiro, a queda havia sido de 2,1% em comparação com dezembro de 2021. Todos os setores fecharam fevereiro no vermelho se comparado com janeiro, com destaque para serviços (-9,6%), seguido pelo comércio (-4,4%) e indústria (-3,3%).
A explicação dos especialistas é que fevereiro é considerado um período de férias, com redução na capacidade das empresas, menos pessoas circulando e impactando em redução nas vendas e contratações. Além disso, outro fator apontado é que fevereiro é um mês com menos dias em relação aos demais. Para o comércio, o fato do feriado de Carnaval ter ocorrido no último final de semana do mês contribuiu para a queda nas vendas.
O que evitou um tombo ainda maior no varejo foi o aumento na venda de material escolar com o retorno das aulas presenciais, representando um incremento de 23% no segmento de livrarias, papelaria e brinquedos.
Outro sinal comemorado durante o mês de fevereiro foi o aumento de 30% em relação ao mês de 2021 no número de consultas dos lojistas ao sistema do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), indicando maior procura dos consumidores em ter crédito. Para os próximos meses, a Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Namorados e a chegada do frio prometem aquecer o segmento e recuperar o prejuízo acumulado.
Fevereiro registra duas mil novas vagas de trabalho
Em relação aos postos de trabalho, o estudo mostra que o mercado formal apresentou aumento de 2.003 novas vagas em fevereiro, um crescimento de 1,3% no mês. O maior número de empregos ocorreu na indústria. Foram 1.283 vagas criadas em fevereiro.
O dado é descolado dos demais segmentos, já que o segundo setor que mais criou postos de trabalho foram os serviços, com 475 vagas. Em Caxias do Sul, o estoque de empregos formais está na marca dos 155.372, o maior número desde 2018.
— Quando se tem geração de empregos, a massa salarial será logo ali na frente sentida no comércio e nos serviços, permitindo a recuperação desses dois setores da economia — aponta o diretor Tarciano Mello Cardoso.
Exportações
No acumulado dos últimos 12 meses, as exportações caxienses cresceram 16,2%. As importações, no mesmo período, cresceram 56,4%. Apesar isso, o saldo da balança comercial caxiense segue negativo em 37,8%, no apanhado dos últimos 12 meses.