Saber quanto choveu e qual a temperatura mínima e máxima registrada em cada mês, com dados extraídos direto da propriedade rural onde se vive, tem impactado o dia a dia do agricultor Volmir Kich, 50 anos. Ele é produtor de figo e goiaba. Na entrada da propriedade uma placa identifica: Miniestação Meteorológica nº 06, Família Kich, Linha Temerária, Nova Petrópolis. É lá que fica um dos 50 equipamentos - pluviômetro e termômetro - instalados em municípios da Serra para coletar dados em cada microrregião. O projeto pioneiro, que nasceu no Escritório Regional da Emater, em Caxias do Sul, conta com o apoio da Sicredi e tem dado resultados:
— A plantação de figo eu consigo irrigar, mas para a de goiaba não tem água suficiente. Já tentava anotar a quantidade de chuva, conforme chovia, mas não a temperatura, acabava não marcando. Agora, temos os dados registrados e podemos nos programar para os outros anos sabendo o quanto choveu e as mínimas e as máximas. É uma ferramenta útil e que fazia falta — diz o produtor.
Com os dados em mãos, ele garante que é possível economizar e buscar financiamentos:
— Tem que fazer a leitura dos dados todos os dias e usar até para economizar em produtos. Usamos defensivos agrícolas, que fazem o controle das pragas. Por exemplo: depois que chover 30 milímetros de chuva, tem que aplicar. Antes aplicávamos sem necessidade. Com registro, podemos buscar investimentos porque vamos saber onde chove mais e onde não chove. São vários benefícios.
A opinião é a mesma de Rodrigo Martini. Ele mora no interior de Caxias do Sul. Na entrada da propriedade também consta uma placa: Miniestação Meteorológica nº 13, Família Martini, Comunidade de São Luiz da 9º Légua. Desde novembro, a propriedade também conta com o equipamento. Até a filha dele, Laura, nove anos, ajuda na coleta dos dados.
— Um dos meus principais produtos é o pepino de conserva. Conforme a chuva, tem a necessidade de colocar adubo. Quanto mais chuva, menos adubo. Com esses dados, consigo controlar e reduzir custos. Colocamos os equipamentos perto de casa para monitorar as informações todos os dias.
O termômetro está na parede da casa de Martini, longe do sol, e o pluviômetro no quintal, a poucos metros da entrada da moradia.
— Funciona muito bem, é um equipamento simples e que nos auxilia na necessidade de irrigação, de adubo, e que faz economizar água e produtos. Tem o pluviômetro que mede a quantidade de chuva que cai e, lá na parede, o termômetro que mede a mínima e a máxima de temperatura. Ajuda e muito porque perdemos 10 litros de água por planta por dia. Temos que ter esses dados para projetar as ações dos próximos anos — ressalta o agricultor.
Projeto inovador
A importância da meteorologia para agricultura é ainda mais evidente em momentos de estiagem. Afinal, os dados possibilitam que os produtores rurais trabalhem da melhor forma. Não se trata apenas de saber quando choverá, o produtor precisa estar sempre atento aos boletins meteorológicos e entender como funciona o clima em cada região porque isso influencia a produtividade das culturas.
São os alertas meteorológicos que auxiliam os agricultores a tomar decisões precisas, planejar ações, evitar prejuízos e desperdícios. Isso faz com que eles otimizem recursos e se posicionem no mercado. Pensando nisso, o engenheiro agrônomo Enio Todeschini, extensionista da Emater, teve a ideia de medir os fatores climáticos em propriedades da Serra. Essas miniestações foram colocadas em Picada Café, Caxias do Sul, Nova Petrópolis, Gramado, Canela e São Francisco de Paula.
Os locais escolhidos para a instalação proporcionam uma ampla cobertura dos territórios e das variações microclimáticas. Em Caxias, por exemplo, são 13 miniestações, localizadas em altitudes que variam de 145 metros a 836 metros. Não é uma estação meteorológica tradicional: o termômetro fica longe do pluviômetro porque não pode ficar exposto ao sol e o pluviômetro tem que estar em um espaço aberto para pegar o máximo de chuva.
Todeschini aponta que dos 50 equipamentos instalados na Serra, só os de Nova Petrópolis têm dados completos aferidos e validados. Os demais ainda estão sob observação, por isso não há dados detalhados.
— Em Caxias do Sul, só começou a chover em 26 de janeiro, à noite. O município tem o território amplo. De Nova Palmira até Criúva, dá para ver áreas em que não choveu e outras onde choveu mais. Choveu 20 milímetros em janeiro na cidade
Dos dados registrados em Nova Petrópolis, constata-se que choveu em quatro das cinco semanas de janeiro. A média das seis estações é de 211 milímetros, sendo um volume bastante expressivo e bem distribuído ao longo do mês. Já as temperaturas máximas superaram os 40º em diversas semanas no vale do Rio Caí, estando o termômetro a 42 metros de altitude.
— As altas temperaturas (acima de 32 - 34 graus), associadas com intensa insolação e baixa umidade relativa do ar (normalmente esses fatores estão interligados) interferem fortemente no desenvolvimento das culturas e na perda da umidade do solo e das plantas — explica Todeschini.
Ele ressalta ainda que isso se reflete na produção:
— Tem aumento nos custos de mão de obra e de irrigação; menor e mais lento desenvolvimento dos cultivos e perda de parte das lavouras pela insolação de produtos, que são as queimaduras e o murchamento.
Como funcionam as estações
Os dados são usados para definir estratégias para reservação de água, colheita das culturas, aproveitamento das pastagens e semeadura.
— Estamos na terceira primavera/verão secos seguidos, é esse é o mais extenso e mais intenso. O produtor tem que saber o volume de chuva para saber a necessidade de irrigação das culturas, e a demanda de cada cultura, para complementar com irrigação, conforme a quantidade de chuva — aponta Enio Todeschini.
Os agricultores são responsáveis por fazer a leitura e o registro dos dados. Eles repassam as datas e os volumes das chuvas e temperaturas máximas e mínimas ocorridas em cada semana. Já os escritórios municipais e regionais da Emater recebem e guardam esses dados:
— Temos uma rede, e no começo da semana os agricultores mandam os dados em um grupo de WhatsApp É uma ferramenta indispensável para ajudar na criação de políticas públicas e no enquadramento das propriedades caso precisem acionar os seguros agrícolas devido ao comportamento do tempo. Por exemplo: acima de 33º, o pepineiro ou pessegueiro aborta as flores, e às vezes se perde toda a safra. Tivemos temperaturas acima de 37º e, nesse caso, é enquadrado no seguro agrícola. Ter esses dados sobre os picos de temperaturas são fundamentais para gerenciamento das propriedades rurais e como ferramenta de tomada de decisões.
Miniestações por município
Caxias do Sul: 13
Canela: 5
Gramado: 8
São Francisco de Paula: 15
Nova Petrópolis: 6
Picada Café: 3