A jornalista Roseli de Oliveira, 55 anos, avaliava a situação vivida na área rural de Caxias do Sul, enquanto fazia compras no Ponto de Safra, na manhã de sexta-feira (11).
— A estiagem massacrou todo mundo.
Tanto produtores rurais quanto consumidores vêm sentindo os reflexos da seca, que já atinge o município e todas as regiões do Rio Grande do Sul desde dezembro do ano passado. A falta de expectativa de novo plantio já está alterando o cenário das tradicionais bancas na Praça Dante Alighieri, que já registram falta de alguns produtos.
A ausência de legumes, verduras e frutas pode impactar no valor da sacola no Ponto de Safra. Atualmente o preço é de R$ 2. No entanto, em uma reunião prevista para a próxima segunda-feira (14), entre outros assuntos relativos às consequências da estiagem, deve ser colocado em pauta o acréscimo de R$ 1 no Ponto de Safra. O encontro deve ocorrer na Casa da Cultura e, segundo o produtor rural Mirmo da Silva, reunirá 275 famílias de agricultores com os representantes da Secretaria Municipal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SMAPA).
Silva tem 60 anos, dos quais, 30 trabalhando na terra. Ele diz que perdeu melancia, melão e pepino com a seca deste ano. Ele está preocupado com a situação e, apesar de entender que os produtos de forma geral estão mais caros, como os materiais escolares, acha insustentável a manutenção de R$ 2 para o preço da sacola no Ponto de Safra.
— É preciso logística, vejo empresários rurais, esse pessoal todo sabe a hora de comprar a semente, que tipo de semente, onde plantar, como vender, as coisas estão mudando, mas ainda precisa que a secretaria (da Agricultura) e o governo municipal vá ao encontro disso _ analisa o produtor.
Ele conta que a alface é um dos produtos que já não se vê mais nas bancas, assim como a beterraba e a cenoura.
— A alface acabou às 7h da manhã, a cenoura às 9h. Eu tenho alface para mudar, mas ela vai ficar lá na estufa, porque eu não tenho água para plantar, o sol esquenta tanto a terra que sem água ela torra o caule — comenta Silva.
Agricultura familiar como estilo de vida
Para tentar salvar o que lhe resta de cultura plantada, o produtor rural já comprou oito caminhões de 15 mil litros, ao valor de R$ 267 cada. Ele diz que a agricultura familiar é mais do que uma paixão, é um estilo de vida. Porém, a atual estiagem vem lhe afetando também emocionalmente.
— Hoje (sexta-feira, dia 11) acordei às 2h da manhã para organizar as coisas para o Ponto de Safra. Sempre que levantei esse horário para essa rotina, ouvia a água caindo de uma cascata que tenho na propriedade, adorava aquele som. Essa madrugada parei para analisar que não escutava, afinal, está seca. Dá vontade de chorar, fico muito triste quando vejo tudo seco. Minhas mudas nas bandejas que irão fora porque não tem como botar no solo —desabafa.
Em relação a um possível aumento no preço da sacola do Ponto de Safra, o colega de banca de Mirmo da Silva, o também produtor rural, Vilmar Vicenza, 54, não concorda com o aumento. O seu medo é que a população, que ora vai objetivamente ao local, ora passa pela praça, deixe de comprar.
— Eu acho que tem que segurar os R$ 2 e diminuir o peso, porque se o preço aumentar, eles vão deixar de comprar. Sou a favor disso por enquanto. Cada dia estamos perdendo mercadoria. Estou só com o que já tinha plantado. O tomate já está adoecendo bastante com esse calor. Tenho pouca água, vou ter que trocar para outro açude, do vizinho que me cedeu para não deixar secar tudo. Nunca tinha vivido um momento assim. É de querer largar a lavoura e nunca mais voltar. Estou pensando seriamente em abandonar para não ver mais todos sofrendo — lamenta Vicenza.
Impacto na mesa e no bolso do consumidor
Se a terra e as culturas estão sofrendo com o calor e a falta de chuva, este sofrimento já está sendo transformado em impacto na mesa e no bolso do consumidor. A jornalista Roseli de Oliveira conta que vai ao Ponto de Safra todas as sextas-feiras. No entanto, ela tem percebido que alguns itens planejados para compra estão faltando nas bancas.
_ Toda semana falta, tem semanas que não tem alface, hoje não tem tomate, não tem repolho e a gente nota também que às vezes tem mas elas são mais miudinhas. As saladas são mais miúdas, as frutas também mais mirradinhas _ comenta Roseli, que nota também a diferença na hora de pagar nos mercados e em outras feiras.
Com dificuldades para encontrar pepino em conserva, a aposentada Perpétua Vargas, 57, diz que, por saber da dificuldade em conseguir o produto, ela só vai caminhando pelas bancas, sem perguntar aos vendedores.
_ Está tudo tão caro, tão caro. No mercado não dá mais para ir com o salário que a gente tem. Todos os legumes tem que ter na mesa, mas está cada vez mais caro e mais difícil de comprar. Está difícil para quem vende e para quem compra _ ressalta Perpétua.