Reduto dos moradores da Serra durante o verão, as praias de Arroio do Sal e Torres começam a ficar mais movimentadas para a temporada de férias e fim de ano. Em busca de um lugar ao sol, ou melhor, um espaço para fixar moradia temporária no Litoral Norte durante a estação mais quente do ano, os veranistas que planejaram o passeio encontraram mais opções de imóveis e até parcelamento estendido para administrar a despesa com a estadia fora de hotéis e pousadas. Entretanto, quem procura por última hora, encontra raras opções. O mesmo vale para quem pesquisa por meio de aplicativos que facilitam hospedagens.
Enquanto a reportagem aguardava na recepção de uma imobiliária, o corretor de imóveis Filipe Gonçalves de Oliveira recusou pelo telefone duas oportunidades de interessados em alugar de última hora um imóvel em Arroio do Sal para a semana do Ano-Novo. Com a expectativa de uma temporada em alta, com movimento parecido aos anos anteriores da pandemia, quem deixou para última hora tem encontrado dificuldade em achar uma casa no litoral nesta época do ano.
Dos 50 espaços que Oliveira administra na cidade, todos estão ocupados, sendo a maioria deles com previsão de disponibilidade apenas para março de 2022. As reservas na imobiliária, instalada há 15 anos na Avenida Assis Brasil, começaram em junho deste ano.
— Em 2020, tivemos 20% menos locações do que no verão passado, que, para nós, tinha sido o melhor em muito tempo. Agora, nesse ano, se não for o melhor, vai chegar muito próximo disso. A pandemia impactou, mas o veranista não deixou de vir pra praia. E quem não veio agora, quer vir porque se sente mais seguro e porque ficou sem viajar na temporada passada.
Em média, Oliveira disponibiliza casas com diária entre R$ 300 e R$ 400 com uma estrutura pequena, de apenas um quarto. É a mesma faixa de preços da temporada passada, que não foram reajustados mesmo com aumento de 10% do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), anunciado pela prefeitura de Arroio do Sal. Além desse perfil de imóvel, também há apartamentos em condomínios fechados, com três quartos, piscina e outros atrativos que beiram a faixa dos R$ 2 mil a diária.
Para esse veraneio, Oliveira observa mudanças no comportamento do veranista. Se em temporadas passadas cerca de 90% dos aluguéis eram firmados para moradores da Serra, agora essa preferência por Arroio do Sal também encontra coro entre os gaúchos vindos da Região Metropolitana de Porto Alegre. Segundo ele, isso pode se explicar pelos preços mais altos dos aluguéis em praias próximas da capital, como Capão da Canoa e Tramandaí.
Outro ponto observado é o tempo de permanência no litoral gaúcho.
— No último verão, o pessoal vinha e ficava três, quatro, cinco dias no máximo. Nesse ano, o tempo aumentou. Acabei de fechar um aluguel de 17 dias. Tenho sentido que o pessoal quer ficar mais tempo na praia e recuperar o tempo perdido — explica.
Ainda há opções de aluguel em balneários mais distantes do centro de Arroio do Sal
Há duas décadas no ramo, Gilvani Pereira de Medeiros, proprietário de uma casa especializada em locações de imóveis em Arroio do Sal, também estima um verão promissor para a temporada. Essa previsão é baseada na alta procura por casas e apartamentos para aluguel.
Para quem procura por locações nesta reta final do ano, as opções que restaram são para imóveis menores em balneários mais distantes, como São Jorge, Camboim e São Pedro, por exemplo. Até o momento, principalmente para essas regiões, são 15 casas aguardando veranistas na temporada. As locações na orla central estão todas reservadas até o primeiro trimestre de 2022.
— Já foi um dezembro melhor que do último ano e por isso estamos na expectativa de que a chegada do verão aumente ainda mais o interesse do veranista em estar aqui em Arroio do Sal. O movimento começou mais cedo, não somente nos finais de semana e feriados, mas em dias da semana, às sextas-feiras — avalia.
Nos imóveis que Medeiros gerencia, o preço dos aluguéis aumentou 10% em relação ao verão passado. Em média, as casas ou apartamentos custam R$ 600 a diária, mas é possível conseguir imóveis menores, com um quarto, por R$ 250 ou R$ 280. Para contratar, é necessário dar uma entrada no momento da locação e o restante é pago no momento da estadia. É possível parcelar o aluguel em até 12 vezes, mas, segundo o proprietário, essa possibilidade não é muito utilizada pelos veranistas.
— Para janeiro e fevereiro, o que determina o preço é o mercado. É o nível de procura que vai determinar se o preço vai subir ou não. Para Natal e Ano-Novo, subiu. E o pessoal está aceitando esse valor. O proprietário precisa repor esse custo porque a manutenção precisa ser feito — explica.
Os imóveis mais caros ainda são preferência do público por oferecerem internet, piscina e um espaço maior para abrigar mais pessoas. Conforme ele, o público que procura por imóveis é, na maioria, da Serra gaúcha. Para evitar incomodações com vizinhos, a locação para grupos de jovens é sempre analisada com cautela.
Em Torres, diárias podem ser encontradas por R$ 350
Em Torres, uma das principais praias do Rio Grande do Sul, a demanda por aluguel de imóveis, principalmente em apartamentos, também surpreende quem trabalha no ramo. Assim como em Arroio do Sal, a imobiliária do corretor de imóveis Kaiser Jacques tem disponível apenas imóveis com dois quartos, mais simples, para quem procura um lugar para dormir e passar o dia circulando pela cidade. Outras opções que restam com poucas datas disponíveis são apartamentos de cinco quartos, na beira mar de Torres, que podem abrigar grandes grupos.
As locações são feitas por, no mínimo, 10 dias, evitando alta rotatividade nos imóveis e, por consequência, o desgaste das acomodações também. Segundo Jacques, a maioria dos proprietários optou por não reajustar o preço dos aluguéis em relação ao verão passado para buscar manter os espaços locados na maior parte do tempo nesta temporada.
Em média, em Torres, é possível encontrar um apartamento com um quarto por R$ 350 ao dia. Caso seja para uma família maior, que precise de dois quartos, esse valor sobe para R$ 500. Espaços maiores com três dormitórios custam, por dia, cerca de R$ 750. Neste verão, a imobiliária de Jacques oferece um apartamento de esquina, na beira mar, que custa R$ 2,8 mil por dia. Tem cinco quartos, piscina e outros atrativos.
— Torres é muito calmo e isso chama a atenção do veranista. Quem procura por festa, muvuca, vai para Capão (da Canoa). Aqui é muito seguro, o poder público tem feito melhorias na infraestrutura, permitindo melhores condições para o veranista e que impacta para quem trabalha com aluguel e depende do turismo para manter o negócio em dia — destaca.
Além do pagamento de metade do valor no momento da reserva, a imobiliária de Jacques também oferece o parcelamento em até seis vezes, iniciando em junho e permitindo chegar em dezembro com o aluguel do imóvel quitado. Quem quiser reservar em outubro, por exemplo, pode dividir a conta em até três vezes para que a despesa não entre no ano seguinte.
Por isso, segundo ele, grande parte das reservas foram feitas ainda no início do segundo semestre deste ano, demonstrando um maior planejamento das famílias em busca de um lugar ao sol.
—Tenho explicado para quem liga agora em dezembro. Se programem, entrem em contato mais cedo, é possível encontrar mais opções do gosto da família e também com mais opções de pagamento. Quem se planeja aproveita melhor — ensina.
Em aplicativo, preço de aluguéis são semelhantes, mas com permanência estendida
Se quem anda nas ruas do Litoral Norte pode observar placas indicando quais imóveis podem ser alugados por temporada, o mesmo vale para quem abre um aplicativo de hospedagens temporária e encontra opções de locações.
Em Arroio do Sal, apartamentos com um ou dois quartos podem ser encontrados entre R$ 218 e R$ 367. Nesses casos, a maioria dos anfitriões exige permanência mínima de sete dias. Quando alguém procura por estadia inferior a esse prazo, é orientado a procurar os hotéis e pousadas da região. Além disso, no aplicativo, também é cobrado uma taxa de limpeza, que acresce, em média, mais R$ 100 na tarifa. Ainda há uma taxa de serviço, paga para a plataforma, que varia conforme o número de dias reservados.
O corretor Geremias Pereira possui quatro imóveis para alugar em Arroio do Sal. Um deles, um apartamento com vista para o mar, com dois pavimentos, churrasqueira e distante duas quadras de um supermercado, ainda está disponível para alugar. Interessados não faltam, apenas não é o perfil desejado para fechar o contrato virtual.
—Estou segurando este imóvel porque quero alugar, no mínimo, sete diárias para a virada. Vale mais a pena do que alugar por poucos dias — explica.
Por meio de aplicativos, a orientação para não cair em ciladas é observar atentamente as avaliações de outros veranistas que alugaram o espaço. A plataforma Airbnb, mais conhecida no ramo de aluguéis por temporada, permite espaço para comentários e classificar a qualidade do serviço oferecido.
Além disso, a orientação é desconfiar de ofertas que chegam por redes sociais. É mais seguro alugar por meio de imobiliárias e, em segundo lugar, por sites conhecidos como Booking e Airbnb, levando em conta sempre a avaliação e os comentários de outros consumidores.
Antes de acertar o aluguel, é válido ir até o local e falar diretamente com o proprietário. Isso evita o risco de pagar pelo aluguel de um imóvel que, na realidade, nunca esteve no mercado. Se o suposto proprietário desconversar quando você der a ideia de ir pessoalmente ao local antes de fazer o acordo, pode ser sinal de que algo vai errado.
Além disso, também desconfie quando o valor desses imóveis costuma ser muito mais baixo do que a média do mercado.
"Alugar uma casa fica mais em conta", diz moradora de Caxias que passou férias em Arroio do Sal
Moradores do bairro Bela Vista, em Caxias do Sul, a família da analista de departamento pessoal Andréia Boschetti, 28 anos, encontrou uma casa para alugar há poucos metros da beira da praia de Arroio do Sal.
A residência, instalada em uma espécie de condomínio fechado com outras casas disponíveis para aluguel por temporada, possui dois quartos e diária de R$ 200. Para os seis dias em que ela, o esposo Amauri, o filho dos casal, Davi, de dois anos, e os sogros Volnei e Inês estarão hospedados, serão desembolsados R$ 1,2 mil.
— Vale muito a pena passar as férias, nem que seja uma semana, na praia. Todos os anos ficamos nessa casa, que é ótima e nos dá o espaço necessário para a nossa família. Como é família grande, alugar uma casa fica mais em conta — explica ela, que preferiu passar o Natal e o Ano-Novo com a família em Caxias.
Segundo ela, não foi observado valores diferentes para a compra de alimentos durante o veraneio na cidade.
— Está tudo um pouco caro, mas pra mim, são os mesmos preços que pagamos em Caxias, então não faz diferença trazer ou comprar aqui.
Em Torres, outro reduto dos moradores da Serra, um casal de Porto Alegre vai abandonar o aluguel por temporada para ter a sua própria casa no litoral. A aposentada Viviane Ferreira e o marido Eraldo, ambos de 60 anos, estão construindo uma residência próximo da casa onde se hospedam há pelo menos 10 anos.
Eles planejam a mudança de endereço para fevereiro de 2022. Depois de mais de cinco décadas na capital gaúcha, querem morar na praia e viver uma vida mais tranquila.
— É um investimento em qualidade de vida. Ficamos nessa casa em Torres há uns 10 anos, sempre muito bem acomodados, mas queremos o nosso espaço e planejamos muito essa mudança porque os filhos ficam em Porto Alegre — resume ela.
Quanto custa se alimentar na praia?
Em temporadas de férias, parece que é só colocar o pé para fora de casa que as despesas aumentam. Para ajudar quem for ao litoral a se programar, a reportagem fez uma pesquisa de preços de itens tradicionais para a ceia de Natal e Ano-Novo e também para o churrasco na praia.
A pesquisa foi feita entre os dias 21 e 22 de dezembro em três supermercados de Arroio do Sal e Torres. O critério foi o valor mais baixo encontrado, independente da marca do produto. Em alguns estabelecimentos, o preço mais baixo é possível por meio do aplicativo da rede de supermercado.
Produto/preços observados:
- Cerveja (lata): R$ 2,58, R$ 2,99 e R$ 3,39
- Refrigerante (2litros): R$ 5,49, R$ 5,99 e R$ 6,19
- Espumante (660ml): R$ 7,99, R$ 9,90 e R$ 13,90
- Panetone: R$ 9,90, R$9,99 e R$ 9,99
- Costela bovina (kg): R$ 27,98, R$ 37,89 e R$ 39,90
- Picanha (kg): R$ 49,98, R$ 67,89 e R$ 109,89
- Paleta suína (kg): R$ 12,98, R$ 14,29 e R$ 14,99
- Salsichão (pacote): R$ 18,29, R$ 19,98 e R$ 20,99
- Carvão (4kg): R$ 13,68, R$ 14,79 e R$ 15,99
- Gasolina: Na RS-386, entre Arroio do Sal e Torres, a reportagem constatou que o o preço litro da gasolina comum varia entre R$ 6,75 e R$ 6,99. Os valores mais baixos correspondem a estabelecimentos que utilizam aplicativos próprios.