Com apenas quatro anos de existência, a cervejaria Alem Bier, de Flores da Cunha, já coleciona premiações. A mais recente consagração foi em março, no Concurso Brasileiro de Cervejas, promovido pela Associação Blumenauense de Turismo, Eventos e Cultura, onde a cerveja Merlot Grape Ale foi eleita a melhor do concurso. A premiada, que sequer foi lançada oficialmente, já foi alçada ao topo da linha das produções da Alem, que funciona junto à Vinícola Monte Reale, em Flores da Cunha, desde 2017.
A Alem recebeu, ao todo, seis medalhas. E a competição não foi pouca: 3.162 rótulos inscritos de 467 cervejarias nacionais.
O +Serra conversou com o sócio proprietário da Alem, mestre cervejeiro e sommelier Carlo Mioranza. Confira:
Como avalia esse desempenho no concurso?
O Concurso Brasileiro de Cervejas é o maior do Brasil, da América Latina e o terceiro do mundo. Ganhamos cinco prêmios: duas (medalhas) de ouro, duas de prata e uma de bronze, e o melhor do concurso, isto é, a melhor cerveja do Brasil. Que foi a Merlot Grape Ale. Ganhou ouro na categoria Wild Beer.
Conta um pouco sobre o diferencial da Merlot Grape Ale.
É uma cerveja de fermentação espontânea. Usamos nossas próprias uvas, selecionados à mão. Moemos e esse suco que saiu do grão e da própria casca é que começa a fermentação. Depois, para proporcionar ainda mais complexidade, jogamos em barrica que tinha vinho fino tinto. A microflora da barrica estava trabalhando junto. Então, tinha tudo de microrganismo dentro e que deu todas essas nuances, uma complexidade. Tem camadas e camadas de aromas e sabores, terroso, floral, frutado... É bem diferente.
Mas ainda não foi lançada no mercado?
Ainda não. Está em barrica desde fevereiro de 2019. Só tirei algumas amostras para mandar para o concurso. A cerveja está em processo. Pretendemos lançar no segundo semestre deste ano, em torno de 700 unidades. A procura está bem grande.
Se inspiraram em algo ou foi criação própria?
É um estilo emergente. Esse estilo nos inspiramos no Italian Grape Ale, que obviamente surgiu na Itália, mas a parte da selvageria, fermentação espontânea, foi tudo ideia nossa. Tem gente que faz isso, mas com a uva, sinceramente, nunca ouvi falar. E no segundo semestre, vamos lançar a linha Alem Bier Italian Grape Ale Series.
E o paladar do brasileiro está preparado para isso?
O público em geral ainda vai longe. A gente fala de um produto de valor agregado bem alto, que nem todos os bolsos são capazes de pagar, infelizmente. São cervejas caras de se fazer, pois, depois que sai do tanque, é tudo feito de forma manual, a matéria-prima é de primeira, os insumos, e dois anos e pouco, três de barrica, é custoso manter lá, sempre tem de ter alguém testando. É um trabalho meticuloso, cansativo, mas revigorante, e a recompensa está voltando. Ganhamos até uma moção honrosa na prefeitura de Flores.
Tem gente com o complexo de vira-lata que critica a cerveja brasileira. Estamos atrás do que é produzido fora?
O Brasil está muito emergente ainda, mas tem muita cerveja brasileira ganhando medalhas de melhores do mundo. Tem cada vez mais gente procurando produtos selecionados, elaborados, e eles querem saber que cervejaria é, onde fica, quem é o cervejeiro, qual método de elaboração... A galera está cada vez mais interessada e estudiosa.
A expertise da vinícola foi essencial para incorporar na produção da cerveja?
Com certeza. Toda ideia parte de que estamos na única cervejaria do Brasil trabalhando dentro de uma vinícola. Então, não teria como ignorar nossas raízes. Vamos fazer cinco décadas, a Monte Reale, meu avô fundou, meu pai e nós tocamos. Pegamos todo o know how e expertise de décadas de conhecimento, e isso viabilizou muito mais fácil as nossas escolhas para método de produção. E também ao livre acesso a mostos (líquido preliminar extraído do processo de fabricação), uvas, barricas.
Qual a estrutura atual?
Somos em dois só no chão da fábrica. Quando vamos fazer trabalho muito mais pesado, é movida parte da equipe (da vinícola) para a cervejaria.
E quanto produzem?
Na pandemia, atualmente é incerto, mas antes, uns 90 mil litros/ ano. Temos quatro (produtos) da linha base e, lançadas na prateleira, mais sete rótulos. Até o fim do ano,vamos lançar mais 17, no próximo ano, mais 15. Tem muito lançamento. Tenho cerveja em barrica desde 2018.
Qual a principal circulação dos produtos?
Temos circulação em festas, casamentos, formaturas. Atendemos bares, mas é bem regional. O que vai para fora do Estado é garrafa, para todo o Brasil, mas chope é 99% na região, pois sofre muito com o transporte.
Pretendem explorar mercado externo? Dá pra pensar em competição mundial?
Sim. Estamos em tratativa para exportar essas garrafas premiadas para os Estados Unidos. Estou mandando para a World Beer Awards. Começa aqui no Brasil a primeira etapa, só passa o ouro de cada categoria. Aí vai para Londres competir para melhor do mundo.
As medalhas da Alem Bier no Concurso Brasileiro de Cervejas 2021
- Merlot Grape Ale – Ouro na Melhor Cerveja (Best of Show) & Ouro no estilo Wild Beer.
- Tripel Brett – Ouro no estilo Wood – and Barrel – Aged Sour Beer.
- Acerolinha – Prata no estilo Experimental Beer.
- Angelina (colaborativa com Balbúrdia Cervejeira) – Prata no estilo Belgian-Style Fruit Beer.
- Muscat Brett Saison – Bronze no estilo Specialty Saison.