Com o aumento da taxa Selic e uma tendência de continuidade desse movimento, o que significa reversão em relação ao que ocorreu em 2020, o investidor pode se perguntar sobre a melhor opção: renda fixa ou na variável? Bom, essa não é uma resposta tão simples, tampouco uma equação fácil. A composição de uma carteira depende do perfil do investidor.
Certo mesmo é que a taxa básica de juros continua abaixo da inflação, o que significa que os investimentos baseados na Selic ainda não resultam em juros reais.
Mesmo com a sinalização do Comitê de Política Monetária (Copom) aumento continuado da Selic, 2021 deve fechar sem que ocorra a tão sonhada compensação. Para entender melhor, é bom ter alguns dados em mente: na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa básica de juros foi elevada para 3,5% ao ano. Mas o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial no país, está em 6,76% nos últimos 12 meses. Aplicações de renda fixa, atreladas à Selic, têm, portanto, a rentabilidade ainda comprometida.
— No rendimento 100% no CDI (Certificado de Depósito Interbancário), você ganharia, em um ano, uma média de 3,5%. Ainda assim, a inflação penaliza muito os investimentos. Então, a taxa de juros real é negativa — explica Gustavo Bertotti, professor e economista-chefe da Messem Investimentos.
Por outro lado, as de renda variável, como ações na bolsa ou compra de moedas estrangeiras, podem ser mais atrativas do ponto de vista do retorno financeiro. Foi justamente nisso que muitos brasileiros apostaram em 2020. Por isso, o número de investidores em renda variável cresceu 92%, apenas em 2020, conforme dados da B3, bolsa de valores brasileira. Atualmente são 3,2 milhões de investidores dessa modalidade no Brasil.
— Os investimentos em renda variável, principalmente em Bolsa, ainda vão continuar muito atrativos, visto que nosso mercado ainda não se recuperou. Temos uma recuperação hoje no Ibovespa, mas temos muitos ativos na Bolsa que ainda estão muito desvalorizados — explica Bertotti.
No entanto, alerta o economista, ganhar dinheiro dessa forma demanda um perfil agressivo, porque a maior rentabilidade está atrelada a um maior risco: "assim como pode-se ganhar bastante, pode-se perder bastante". É que os ganhos em investimentos de renda variável dependem de uma conjuntura mais volátil, com influência de decisões e movimentações políticas e econômicas tanto a nível nacional quanto internacional. Para quem investe em empresas, as própria conjuntura nacional pode influenciar.
— Aplicações de maior riscos são para investidores qualificados. O investidor tem que declarar que está ciente do risco, tem que demonstrar que tem conhecimento e valores mínimos, justamente para assegurar que essa pessoa tem alguma experiência. Por isso, o recomendável para os investidores é diversificar — sugere Juarez Piccinini, diretor do Banco Randon.
Rentabilidade e risco
A oportunidade de rentabilidade maior costuma estar atrelada ao risco mais iminente. No entanto, isso não significa que a única opção para garantir um crescimento acima da inflação seja investir nos mercados de renda variável.
Existem opções mais seguras e que oferecem maior rentabilidade que as aplicações que remuneram apenas a Selic. Normalmente, elas estão associadas a deixar o dinheiro rendendo por um tempo mais prolongado. Um desses casos Tesouro IPCA+, que repõe a inflação e paga mais uma porcentagem, chamada de prêmio.
Outro ponto chave para os especialistas é a diversificação de investimentos. Isso pode garantir liquidez e segurança ao mesmo tempo que oferece mais rentabilidade. Nesse sentido, o apoio profissional, oferecido por corretoras e agências bancárias é importante. Gustavo Bertotti destaca ainda, que os interessados em diversificar seus investimentos tenham conhecimentos em educação financeira, para garantir o entendimento das movimentações do seu dinheiro.
Qual é o seu perfil de investidor ?
Conservador: prefere deixar o dinheiro em produtos que apresentem nenhum ou baixo risco, mesmo que tenha que abrir mão de certa rentabilidade. Poupança, CDBs, títulos do tesouro nacional e fundos de renda fixa estão entre as opções desse perfil.
Moderado: corre riscos um pouco maiores que os conservadores em busca de uma rentabilidade melhor, mas faz isso procurando também uma certa segurança. Investe tanto em renda fixa, como em opções intermediárias como fundos multimercados, e até em ações.
Agressivo: correm riscos e podem ganhar mais ou até perder parte de o patrimônio. Preferem a renda variável. Precisa ter tranquilidade para lidar com baixas e fontes de renda para lidar com momentos delicados.
Saiba mais
Se você vai investir, algumas palavras provavelmente vão aparecer com frequência. Veja:
Tesouro Direto: quem compra os títulos empresta dinheiro para o governo. Os títulos podem ter taxas de juros pré ou pós-fixada. No primeiro caso, o investidor sabe qual é a taxa de rendimento no momento da aplicação e quanto receberá no vencimento do título. A pós é atrelada a algum índice, como Selic ou IPCA: neste caso, o investidor vai receber o valor emprestado mais os juros de acordo com a variação do índice a que atrelou a aplicação. Alguns títulos pagam juros semestrais.
Caderneta de Poupança: investimento tradicional do brasileiro, rende 70% da Taxa Selic mais a Taxa Referencial ao mês. É bastante segura e de liquidez rápida. Poupança, CDB, LCA e LCI são produtos que têm um Fundo Garantidor de Crédito, ou seja, uma proteção contra a insolvência, de até R$ 250mil por CPF ou instituição.
CDB (Certificados de Depósito Bancário): quem compra empresta dinheiro para os bancos financiarem as atividades de crédito - ou seja, emprestarem para outras pessoas em forma de financiamentos ou cheque especial, por exemplo. Esses ativos também podem vir com juros pré ou pós-fixados.
LCA (Letras de Crédito do Agronegócio) e LCI (Letras de Crédito Imobiliário): o investidor empresta dinheiro ao mercado do agronegócio ou imobiliário. Mais uma vez, existe a possibilidade de taxas pré ou pós-fixadas.
Fundos de Investimentos: formados por grupos de investidores para aplicar em uma mesma carteira de ativos. A gestora vende cotas, que vão ser usadas retornar proporcionalmente a cada investidor. Existem diversos fundos para diferentes perfis: os de renda fixa, os multimercado, os de ações, entre outros.
Bolsa de Valores: de uma forma resumida, na Bolsa de Valores, as empresas vendem as chamadas ações, que são pequenas cotas. Quem compra a ação tem direito aos lucros da empresa. Esses dividendos são proporcionais às ações que o investidor tem.
Debêntures: são títulos de crédito negociados por empresas no mercado de capitais. Quem compra debêntures empresa dinheiro para uma empresa fazer investimentos.
CDI (Certificado de Depósito Interbancário): é nome dos empréstimos que os bancos fazem entre si para fechar o caixa do dia no positivo. É parecido com a Taxa Selic.
IPCA: significa Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. É medido mensalmente pelo IBGE, para avaliar preços de bens e serviços para o consumidor final. É por ele que sabemos como está a inflação e está atrelado a alguns investimentos.
Taxa Selic: representa os juros básicos da economia do país. Influencia outras taxas de juros.
Juros: são a remuneração que você paga ou recebe por tomar dinheiro ou oferecer dinheiro para empréstimo. Podem ser simples, quando o valor aplicado aumenta sempre em cima da aplicação inicial. Por exemplo: em um investimento de R$ 10 mil com uma taxa de 1% ao mês, o valor investido em 12 meses, o valor total será de 11,2 mil. Já se forem compostos, a taxa engloba o valor inicial somado aos juros do anterior. No mesmo exemplo de R$ 10 mil, ao final de 12 meses, o valor total será de R$ 11.268,25.