Com expectativas contidas e projeções pessimistas, a rede hoteleira começa a expandir a reabertura na Serra. Enquanto municípios da Região Uva e Vinho, como Bento Gonçalves e Garibaldi, já haviam retomado as atividades em meados de abril (Bento no dia 6 de abril e os demais municípios após liberação do comércio, na segunda quinzena), cidades referência em turismo na Região das Hortênsias como Gramado e Canela projetam a reabertura de hotéis e pousadas somente a partir da próxima sexta-feira, dia 8. Juntas, as duas cidades contam com 265 estabelecimentos de hospedagem e totalizam quase 20 mil leitos em sua estrutura.
Nas Hortênsias, São Francisco de Paula foi a primeira a liberar o setor, ainda no dia 17 de abril, mas apenas para serviços e não para turismo. Semana passada, em 1º de maio, foi a vez da prefeitura de Nova Petrópolis autorizar a retomada. Foram ocupadas 30% das vagas disponibilizadas no último final de semana. Ainda assim, nem todos os empresários decidiram abrir imediatamente após o decreto.
— Optamos por abrir em junho. Alguns colegas também devem protelar, outros já abriram e outros decidiram ir gradativamente. Nós decidimos adiar porque entendemos que o mercado precisa de um pouco mais de cautela e assim poderemos trabalhar mais firmes na construção de produtos hoteleiros no pós-crise — afirma o diretor do departamento de turismo da Associação Comercial e Industrial de Nova Petrópolis, Marcelo Becker, também proprietário do Hotel Petrópolis.
A estratégia, segundo o hoteleiro, visa aumentar o potencial de mercado para o segundo semestre para amenizar o prejuízo do ano.
— Paramos em março. A gente já estima que terá queda de até 40% no ano, isso contando com bons resultados a partir do segundo semestre — ressalta.
A tentativa de reaquecer uma economia que depende do trânsito de pessoas de diversas regiões também preocupa. Para a vereadora Katia Zummach (PSDB), há um temor de que a reabertura gere casos de coronavírus na cidade _ ainda não há nenhum confirmado no município. Ela afirma que no final de semana viu o trânsito de carros de Porto Alegre, de Canoas e Lajeado, entre outras cidades onde há disseminação da doença
Mesmo com o retorno da rede dos principais destinos turísticos da região, as expectativas para os próximos meses são baixas.
— A insegurança ainda é grande, as pessoas não querem sair muito ainda. A questão financeira também vai pesar, as pessoas estão inseguras com sua situação financeira. Até o Natal Luz é de ocupação baixa, mas as empresas vão se adaptar à nova realidade — avalia o presidente do Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Parques, Museus e Similares da Região das Hortênsias (SindTur), Mauro Salles.
Entretanto, de acordo com o prefeito de Gramado, João Alfredo Bertolucci (PDT), o Fedoca, o retorno nos próximos dias deve permitir que os empresários tenham tempo para se adaptar à nova realidade e projetem o planejamento para o segundo semestre.
— O que não queríamos era abrir num momento de total escuridão, que era o que havia 20 dias atrás, como alguns municípios arriscaram e se deram mal. Foi prematuro e fez com que ficasse bem ruim o controle sobre as atividades permitidas. Muitas atividades voltaram, mas faltou público _ avalia o prefeito de Gramado, João Alfredo Bertolucci (PDT), o Fedoca.
O impacto já reflete nas baixas ao setor. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores no Comércio Hoteleiro e Similares de Gramado, somente no mês de abril foram demitidas 792 pessoas e mais de 1,2 mil contratos foram suspensos. Os números abrangem desligamentos entre hotéis, pousadas, restaurantes e lancherias do município.
Cambará volta sem atrativos
Outra cidade referência do setor, Cambará do Sul também retomou as atividades da rede hoteleira no último sábado. Do total de 56 estabelecimentos (hotéis e pousadas), apenas 15 empreendedores decidiram retornar. O motivo da baixa adesão é a falta de reabertura dos parques, sendo que os cânions naturais são o principal apelo turístico nesta época do ano. A previsão é de que parques estaduais sejam autorizados a receber público novamente somente a partir do dia 15 de maio. Para parques nacionais, ainda não há perspectiva.
— Sem os nossos principais atrativos, não se têm muitas opções de lazer. Por isso, esses estabelecimentos que decidiram reabrir devem mais acolher quem está em viagem — informa Kelly Fonseca, presidente Associação dos Empreendedores Turísticos de Cambará do Sul (Aeturcs).
Quarentena para os leitos
O regramento para funcionamento dos hotéis e pousadas ainda não foi divulgado em Canela e Gramado, principais municípios turísticos da região. Uma das tendências definidas em conjunto em reunião da Associação dos Municípios da Serra Gaúcha (Amserra) é aderir ao limite de 50% de ocupação da capacidade de cada estabelecimento. Além disso, as prefeituras devem definir medidas próprias para controle e proteção sanitária dos locais.
Uma das propostas, sugeridas pelo prefeito de Gramado, João Alfredo Bertolucci, o Fedoca, é fazer uso escalonado de espaços.
— Como vamos propor 50% de ocupação, a ideia é de que uma ala do hotel seja ocupada numa semana e na seguinte, outra ala seja ocupada. A que foi primeiro ficaria então num limbo e recebe esterilização enquanto ficar vazia — propõe Fedoca.
Além da possibilidade de manter leitos em "quarentena", outras medidas deverão seguir protocolos adotados em outros municípios, como distribuição de itens de higienização sanitária e suspensão de atividades ligadas a saunas, piscinas e lazer de crianças. Além da parte de restaurantes, cujo funcionamento deve se enquadrar no regramento para o setor gastronômico.
Sem ocupação na Região Uva e Vinho
Embora tenham permanecido parte do mês abril em funcionamento, a movimentação nos hotéis dos municípios abrangidos pela Região Uva e Vinho é bastante baixa. Prefeituras e o sindicato da categoria ainda não têm números da ocupação desde a reabertura, mas a constatação é óbvia:
— Está aberto por estar. Mais para quem está passando pela cidade, porque turista não está atraindo nenhum — destaca o secretário de Turismo e Cultura de Garibaldi, Paulo Salvi.
Em Bento, a situação é semelhante. Apesar de o município ser uma das referências da região turística, pouco se pode amenizar dos prejuízos desde a reabertura.
— Estamos abertos desde o dia 6 de abril, mas com pouquíssima ocupação. No feriado agora (de Primeiro de Maio) até percebermos movimentação maior, mas muito incipiente, embora já tenha sido importante para quem abriu. Era feriadão para termos 100% da capacidade ocupada, mas, se tivemos 10 % disso, já dá para comemorar — pontua o secretário municipal de Turismo de Bento, Rodrigo Parisotto.
Em Caxias do Sul, que depende primordialmente do turismo de negócios, a movimentação também foi considerada quase nula. Em razão das projeções de baixas, muitos hotéis de grande porte optaram por não reabrir até o momento nesses municípios.
Já voltaram
Nova Petrópolis
:: Estabelecimentos: 32
:: Leitos: 1734
São Francisco de Paula (voltou com limitações)
:: Estabelecimentos: 33
:: Leitos: 1.070
Cambará do Sul
:: Estabelecimentos: 86
:: Leitos: 2 mil
Bento Gonçalves
:: Estabelecimentos: 44
:: Leitos: 3.825
Caxias do Sul
:: Estabelecimentos: 24
:: Leitos: 3,5 mil
Devem retornar em 8/5
Gramado
:: Estabelecimentos: 193
:: Leitos: 18.258
Canela
:: Estabelecimentos 72
:: Leitos: 6 mil