A safra do pinhão, que já teve perdas em 2019, será menor ainda neste ano. A estimativa da Emater é de uma quebra entre 20% e 60%, dependendo da cidade, em relação ao ano passado, quando a colheita no Rio Grande do Sul foi de cerca de 480 toneladas. Em 2018 havia sido de 800 toneladas.
Cambará do Sul é um dos municípios que deve ter o maior impacto. Em 2019, colheu 55 toneladas e para este ano a expectativa é de redução de 60%. O motivo para uma baixa tão expressiva na produção é o período de estiagem no momento de formação dos pinhões.
Morador de Cambará, Selvio Macedo de Carvalho, 62 anos, confirma a baixa quantidade de pinhões na cidade. Desde o 15 de abril, quando a extração foi liberada no Estado, até agora, colheu apenas cinco sacos da semente, o equivalente a 250 quilos. No ano passado, havia recolhido 45 sacos, metade da produção de 2018.
— Acho que vamos parar este ano. O trabalho é muito grande e não compensa — diz Selvio, que também cria abelhas e algumas cabeças de gado.
A quebra representa menos receita para cerca de 100 famílias somente em Cambará. A venda do produto representa para elas complemento de renda — no caso de Selvio, ele conta que, em anos de boa safra, o valor com as vendas cobrem os gastos da casa de até quatro meses. A baixa na produção também reflete em preço maior para o consumidor, que parte de R$ 6 o quilo na venda direta e pode chegar a R$ 18 nos mercados.
— Mesmo havendo esta frustração de safra, os pinhões colhidos este ano apresentam boa qualidade — destaca técnico agrícola do escritório municipal da Emater de Cambará do Sul, Neimar Fonseca.
Estabilidade em São Chico
Já em São Francisco de Paula, maior produtor de pinhões do Estado, a expectativa é de que a produção se mantenha estável em relação ao ano passado, com possibilidade de leve alta. Em 2019, foram 60 toneladas da semente e, para esta safra, o número pode chegar a 70 toneladas. A quantidade é ainda bem inferior — mais da metade — a 2018, quando foram colhidas 150 toneladas.
— Este ano, apesar da baixa produtividade, aqui se manteve a mesma, inclusive com pouco de crescimento. Não temos quebra em relação ao ano passado. Mas teve quebra no ano passado em relação aos anteriores — explica Sandra Loreni Almeida de Moraes Silva, extensionista rural social e chefe do escritório municipal da Emater de São Francisco de Paula.
A boa notícia é que, para o ano que vem, as coisas devem melhorar.
— Provavelmente para 2021 a produção vai voltar a crescer. Tenho andado e visto que nós temos muitas pinhas novas nos pinheiros — conta.
Pinhão online
A comercialização do pinhão também mudou por conta da pandemia do coronavírus — não poderia ser diferente. Em São Chico, por exemplo, o escritório municipal da Emater criou uma feira online para a venda da semente e de outros produtos. Por WhatsApp, o consumidor faz o pedido e a Emater organiza a entrega.
Marlei Zambelli, 49, foi uma das produtoras rurais da cidade que aderiu à proposta. E diz estar vendendo mais pinhão assim do que na feira convencional.
— Tem bastante pedido. E é bom, porque assim o pessoal não fica exposto — diz.
O quilo do pinhão custa R$ 10 e Marlei não cobra a entrega. Toda a colheita, que ela estima que não chegue a 1 tonelada neste ano, será vendida in natura. Embora ela tenha uma agroindústria de pinhão para fabricação de itens como farinha e bolos, ela prefere não investir na produção com uma safra abaixo do normal.
SAIBA MAIS
> A colheita do pinhão concentra-se no período que vai de abril a junho, porém, devido à maturação das pinhas se dar em épocas diferentes, é possível encontrar pinhão ainda em agosto e, por vezes, em setembro.
> A liberação da extração e venda ocorre a partir do dia 15 de abril, conforme a Portaria Normativa (DC-20) do Ibama, com o objetivo de permitir a plena maturação das pinhas e a sua debulha natural. Isso ajuda a proteger a reprodução dos pinheiros e garante a alimentação da fauna, que também auxilia na propagação da espécie, semeando as sementes.
> A colheita é feita de forma manual, através da coleta das sementes diretamente no solo ou pela derrubada das pinhas com auxílio de utensílios.