Desde que os números de contaminação do novo coronavírus no Brasil começaram a surgir, empresas e agentes econômicos passaram a refletir de que forma poderiam adaptar o modelo de trabalho a eventual necessidade de isolamento social. Uma das primeiras medidas consensuadas foi a liberação de funções específicas para trabalhar de casa, o chamado home office (escritório em casa, na tradução literal). Se enquadram na categoria geralmente trabalhadores que não lidam com mão de obra direta ou atendimento presencial ao público.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Anual: Características Adicionais do Mercado de Trabalho 2012-2018, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), anualmente há significativo aumento de pessoas trabalhando em casa nos últimos anos. Somente entre 2016 e 2017, o índice de trabalhadores que realocaram seu "escritório" para o domicílio subiu 16,2% e, entre 2017 e 2018, a expansão foi de 21,1%.Apesar de não ser novidade para algumas áreas, a adoção massiva é inusitada no país.
— Toda técnica de trabalho pressupõe período de adaptação. Sempre quando você tem uma calamidade ou restrição forte, a humanidade acaba tendo de evoluir por força. Até a II Guerra Mundial, por exemplo, as mulheres não dirigiram, a partir daí, não só passaram a dirigir, como a consertar e produzir veículos. Foi uma adaptação. O home office agora, em função do coronavírus, vai massificar em diferentes segmentos, principalmente para os trabalhadores que não dependem de uma linha de produção, que são a própria linha de produção — avalia o economista Mosár Ness.
Após a fase de ajustes, ele acredita que a adesão do modelo pode se consolidar no país e migrar parte das funções tradicionalmente exercidas em empresas para trabalho à distância:
— Diferentes profissionais, a partir desta situação, vão começar a reestruturar as suas linhas. Inclusive no comércio. Alguns serviços podem muito bem passar para essa categoria e ganhar fôlego ali para frente.
A adaptação
Se pelo home office o trabalhador pode exercer sua atividade no conforto do lar, ao mesmo tempo, poderá ter como revés as limitações que não são comuns em ambientes de trabalho.
— Certamente vão surgir algumas barreiras, em termos de tecnologia, precisamos ter rede de internet mais forte para que todos possam se beneficiar. O grande teste vai ser nesta semana, quando vamos precisar experimentar e ver como vai se comportar — pontua Mosár.
Outra incógnita com a mudança serão as ponderações, tanto por parte dos patrões, que não devem exigir mais do empregado devido à ilusão de que trabalham menos por estar em casa, quanto do trabalhador, que não pode abusar do conforto que a moradia lhe proporciona.
— Tem trabalhador de alto rendimento que não precisa ser fiscalizado. E as mutações acontecem dentro do mercado de trabalho, a legislação não acompanha a velocidade da mutação. O brasileiro é um povo inventivo que se adapta numa velocidade maior do que a própria legislação. Ali na frente teremos trabalhadores ganhando em termos de produção. Cada um vai medir a produtividade e remunerar ele por esse caminho — afirma.
Conciliar a rotina doméstica
Proprietária da Sinergia Marketing e Eventos, Caroline Rech, decidiu adotar o sistema home office na última quarta-feira. Delegou ao único funcionário fazer o mesmo. No dia seguinte, seu marido, Guilherme Gonçalves, coordenador de compras de uma multinacional com sede na Itália, também recebeu a determinação de mudar seu escritório para a própria casa.
A rotina de trabalho não necessariamente sofreria alterações drásticas, não fosse a atenção que demanda Vinícius Rech Gonçalves, filho do casal.
— Ainda estamos reorganizando nossas rotinas e ter um filho de um ano e três meses faz com que a gestão seja mais complexa — comenta Caroline.
Desde que assumiram a tarefa de conciliar os cuidados ao filho e o trabalho na rotina doméstica, o casal optou por liberar a babá. Para ser funcional para todos, o sistema é prático, em teoria, diz Caroline:
— Enquanto um precisa atender uma demanda da empresa e precisa de concentração e silêncio, o outro cuida do bebê. Ou, quem termina as atividades antes faz o almoço ou arruma a casa. Estamos tentando dividir as tarefas tanto com bebê quanto às preocupações da casa.
Apesar do contexto extraordinário, ela comenta que a própria experiência em dividir a maternidade com a gestão da empresa já havia proporcionado a experiência para a nova fase:
— Eu, que já tinha um negócio e fui mãe, automaticamente não podia tirar licença-maternidade. Por isso, optei por home office no período da maternidade e isso já me trouxe esse desafio. É claro que quando é uma escolha é diferente. Eu escolhi na época, agora está sendo meio imposto, por isso gera certo desconforto e certa confusão mental. É muita informação e até atrapalha um pouco para quem trabalha com criatividade, que é o meu caso.
9 DICAS PARA MANTER A PRODUTIVIDADE
1. Estabeleça horários
Crie um cronograma diário com hora para iniciar o trabalho, pausa para almoço e horário para finalizar as atividades do dia. Isso ajuda seu corpo a funcionar de forma como se estivesse na empresa.
2. Crie uma rotina
Embora essa palavra não soe positiva, manter a rotina no home office é fundamental. Ao levantar, tire o pijama e se arrume como se estivesse em seu local de trabalho. A prática ajuda a espantar a preguiça.
3. Defina um local de trabalho
Saia da cama e prepare seu ambiente de trabalho. Fique atento a sua postura para não afetar a coluna, e ao espaço que escolherá para desempenhar as atividades, porque o local pode interferir na produtividade.
4. Atenção à qualidade de vida
Em casa, é comum que o colaborador fique imerso nas atividades, sem pausa. Mas é importante reservar momentos ao longo do dia para tomar água, levantar da mesa e caminhar pela casa para manter a saúde e a qualidade de vida.
5. Não se distraia
Desligue a TV para manter a atenção e a utilize apenas em momentos de descanso, como o horário do almoço. Mesmo assim, tenha cuidado para não perder tempo demais em programações que podem tirar o seu foco.
6. Mantenha o calendário de reuniões
Continue realizando as reuniões agendadas na semana. Neste momento, as conferências e aplicativos como Skype e Hangout são ferramentas bastante úteis.
7. Foque no trabalho em equipe
Combine reuniões ou conversas sobre o andamento do trabalho entre os integrantes da equipe, seja com um colega que te auxilia ou com seu gestor. Isso permitirá que as atividades permaneçam alinhadas.
8. Faça uma lista de tarefas
Outra prática que pode ajudar neste momento é listar as tarefas do dia. Isso manterá sua determinação e foco em cumprir cada um dos itens.
9. Peça a colaboração das pessoas que moram com você
Para quem mora junto dos pais, amigos ou filhos, é importante falar sobre este período. É comum que algumas pessoas não entendam como o home office funciona, por isso é fundamental que converse sobre isso com as pessoas de casa para que evitem pedir favores ou simplesmente conversar em momentos indevidos.
Fonte: Plataforma Connekt