Marília Cardoso, sócia-fundadora da Palas, consultoria pioneira na implementação da ISO 56.002, de gestão da inovação.
Inovação já está virando assunto de boteco. As rápidas e impressionantes transformações sociais e dos negócios estão preocupando tanta gente que o tema já não é mais algo exclusivo das reuniões corporativas ou bancos acadêmicos. Duas pessoas reunidas onde quer que seja, já são suficientes para que o papo – e todas as dificuldades e mitos que o cercam — entre em pauta.
Mais que uma modinha passageira, a inovação se tornou um conceito impossível de passar despercebido. Por mais que alguns ainda teimem em manter-se deitados eternamente em berços esplêndidos, mais dia, menos dia, a água vai bater no nariz, obrigando a gente a fazer alguma coisa para não morrer afogado.
Inevitavelmente, seremos obrigados a rasgar nossas cartilhas, aquelas recheadas de certezas e verdades absolutas que já não servem mais para quase nada. E fazer isso dói. Dói muito! É como se nos perdêssemos dentro de nossa própria identidade, questionando o até então inquestionável. Entramos num ciclo de desaprender para reaprender, sendo obrigados a jogar velhas crenças na lata do lixo.
Por mais que o homem inove desde sempre – caso contrário não teríamos chegado até aqui — o Século 20 trouxe tantas facilidades que acabamos criando falsas zonas de conforto, acreditando que tudo o que precisamos é de um diploma na parede, um bom emprego, contas pagas e um corpo sarado. Não! A vida não se resume em pagar boletos e tentar emagrecer. É preciso ir além.
Para isso, precisamos nos render ao que o psicólogo Hermann Ebbinghaus definiu em 1885 como curva de aprendizagem. Segundo ele, há uma certa negação no início, uma tendência a acharmos que já sabemos o suficiente. Até que chega um momento inevitável, como já está acontecendo com diversas empresas e segmentos profissionais. A partir desse momento, inicia-se a fase de preparação, onde o indivíduo se prepara para aprender coisas novas.
Logo vem a fase chamada de adoção, que é seguida da curva de aprendizado, que muito se assemelha a um vale sombrio e perigoso, já que desperta a sensação de que tudo o que você sabia então não serve para mais nada. É a hora do desespero, da decepção, da derrota.
Só quando o aprendizado começa a fazer sentido, por meio do chamado aprendizado experiencial, é que a retomada acontece, seguindo uma curva ascendente. Aí, o indivíduo é capaz de encontrar benefícios reais e torna-se melhor do que era antes.
Não por acaso, essa curva é muito semelhante à do luto, definida pela psicóloga Elisabeth Kubler-Ross. No começo, há sempre a negação, a raiva e a barganha. Até que, convencido que a morte é imutável, caímos no vale da depressão. Com o tempo e força de vontade, saímos do limbo para entrarmos na fase de consciência, aceitação e atitude.
Talvez, essa comparação seja a melhor explicação para o fato de inovar ser algo tão difícil e desafiador para a grande maioria dos reles mortais. O processo de aceitar que o que se sabe não é mais suficiente dói tanto quanto a perda de uma pessoa querida. Só que no caso, o que perdemos é um pedaço de nós mesmos. Uma parte que lapidamos com a relevante ajuda dos nossos pais, professores e amigos.
Em suma, quem realmente quiser inovar em sua carreira, sua empresa ou sua vida, precisará encarar de frente a dura realidade de que nada mais será como antes. Será necessário encarar a descida da “desaprendizagem” para que a subida seja, de fato, transformadora. Dói, mas compensa. É melhor chegar ao fundo do poço e subir do que passar a vida inteira fingindo que não tem nada acontecendo.
Se joga! Erre rápido para aprender mais rápido ainda.