Gustavo Saltiél, diretor-geral da Unicred Integração
O processo seletivo e de contratação das empresas tornou-se um dos grandes paradigmas do mercado, paradigma esse potencializado com a expansão definitiva da tecnologia e da inovação. Fala-se muito sobre pessoas e talentos, como desenvolvê-los, quando contratá-los. Entre tantos questionamentos, uma certeza é compartilhada, pelo menos no Vale do Silício (Califórnia, EUA), um dos mais importantes berços mundiais da inovação: por mais rico e extenso que seja um currículo, ainda está no "brilho dos olhos" o maior diferencial dos candidatos a uma vaga de emprego.
Quem assegura é Martin Spier, gaúcho de Nova Petrópolis e arquiteto de performance da Netflix. Recentemente, tive a oportunidade de representar a Unicred Integração durante visita ao Vale do Silício organizada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem das Cooperativas (Sescoop). Foi em uma palestra na própria Netflix, maior provedora de filmes e séries de televisão via streaming do mundo, que Spier deixou muito nítido que não se contrata mais um currículo, mas pessoas que estejam engajadas à cultura das empresas. Isso, no discurso, é muito bonito, mas na prática poucos fazem. Mas no Vale do Silício se faz. O processo seletivo entre gigantes como Google, Facebook, HP, Tesla e Microsoft considera do candidato uma boa história dos seus feitos, suas realizações, projetos que consigam impactar a sociedade. Não que o currículo não seja importante, ao contrário, qualificação sempre será indispensável. Mas o principal são pessoas engajadas.
No entanto, volta o paradigma. Como manter o vital “brilho dos olhos” diante de tantos desafios que a inovação nos propõe? Nos sentimos preparados para essas mudanças, para o novo? Cumprir um roteiro de palestras e visitas técnicas ao longo de uma semana no Vale do Silício nos fez perceber que definitivamente não há mais como negligenciar a tecnologia e, mais do que ela, a inovação. Nesse sentido, não se fala mais em tendência, mas em realidade. Não há apenas conceito, mas processos, planejamento, estrutura, conexões, network. Então é hora de quebrar o paradigma: não precisamos ter medo da tecnologia, mas usá-la da melhor maneira possível em nome dos negócios, das pessoas e da nossa vida.
Claro que nos surpreender diante de tanta novidade faz parte do processo, e é inspirador perceber o quanto podemos avançar na criação de novos produtos e serviços. A Plug and Play, por exemplo, uma das principais aceleradoras do Vale do Silício, conecta empresas que tenham determinadas soluções com empresas que tenham determinadas necessidades, faz essas conexões através de estudos de mercado, pesquisa e muito network. Por que não inspirar-se em modelos assim para suprir nossas cooperativas com soluções pertinentes para o negócio de nossos cooperados, quem sabe uma hipotética “unihub”, um hub de produtos, serviços e conexões entre cooperados e mercado?
Uma imersão a esse famoso polo de tecnologia é uma lição muito bem aprendida: muito do que está sendo desenvolvido na Califórnia tem grande aplicabilidade em nossos negócios, basta que nos inspiremos de forma cooperativista. A tecnologia tem interferido, sim, na gestão de pessoas, no mercado financeiro, nos serviços, tudo está passando por transformações muito grandes, e será preciso surfar nessa onda para não morrermos afogados. Mas tenho a certeza de que nenhum esforço será recompensado se não o fizermos de maneira coletiva.
O espírito de colaboração e cooperação no Vale do Silício é muito grande, a ponto de as empresas não se verem como concorrentes, e sim coexistentes, cada qual atuando em nichos de mercados diferentes para que, logo ali, seus produtos e serviços se complementem e gerem uma boa experiência ao
usuário. Há muito da essência do cooperativismo nesse modelo, e disso nós entendemos. Paradigmas a serem quebrados, sem negligenciar as mudanças imediatas e a inovação, porque o medo transforma-se em resistência e confronto. É preciso criar muitas conexões para fazer as coisas juntos, a base do conceito cooperativista.