A mudança de Caxias do Sul para a região turística das Hortênsias é uma decisão irreversível de acordo com a Secretaria Municipal do Turismo. Apesar de enfrentar resistência de grande número de entidades representativas desde que foi anunciada, no final de junho, a solicitação não deve estar sujeita a reconsiderações pela prefeitura, mesmo após intensa repercussão. A escolha implica também a saída do município da Região da Uva e do Vinho.
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Em nota, a secretária interina do Turismo de Caxias, Patrícia Ferreira, atestou como "consolidado" o posicionamento da pasta e alegou que movimentos contrários são motivados por "questões políticas":
"A iniciativa com as partes, a construção e o diálogo com a Região das Hortênsias já foi feito há muitos meses e se consolidou neste importante passo que foi o encaminhamento da solicitação ao Ministério do Turismo. Essa é uma decisão amadurecida e consolidada. Entendemos que certos movimentos acontecem muito mais por questões políticas e eleitorais do que pelo que é, de fato, melhor para a cidade e para a região", afirma a nota da Secretaria de Turismo.
A articulação para a mudança foi comunicada no dia 21 de junho. Na ocasião, a prefeitura informou que reunião ocorrida no dia 19 do mesmo mês definiu encaminhamento à Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado (a Sedetur) do pedido da inclusão de Caxias na Região das Hortênsias, atualmente composta por cinco municípios: Nova Petrópolis, Gramado, Canela, São Francisco de Paula e Picada Café. A reunião ocorreu com representantes desses cinco municípios. Apenas Gramado foi contra.
Desde então, 11 entidades, entre elas a Agência de Desenvolvimento da Região das Hortênsias (Visão), a Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias e até a prefeitura de Gramado contestaram o encaminhamento. Ontem, a Câmara de Vereadores de Caxias também se posicionou contra (leia texto abaixo) a decisão.
Na nota encaminhada ao Pioneiro, a secretária interina ressaltou apoio aos secretários apoiadores da ideia (excluindo, portanto, o secretário do Turismo de Gramado, José Carlos Ramos de Almeida, que se posicionou contrário) e alegou serem naturais resistências com relação às mudanças. Ainda assim, classificou como preconceituosos os discursos contrários à iniciativa:
"Turismo se faz com recursos e infraestrutura para os empreendedores, e não com discursos inflamados e o apego a preconceitos, justamente quando se pede do poder público que os muros e limites municipais sejam derrubados em prol do desenvolvimento econômico integrado e pleno da Serra Gaúcha. Não há dúvida da vocação turística de Caxias podendo-se tornar no futuro o grande centro regional desse segmento", acrescenta a nota.
Justificativas reiteradas
Na nota, a secretária interina do Turismo, Patrícia Ferreira, voltou a ressaltar os motivos elencados pela titular da pasta, Renata Carraro, para o encaminhamento da mudança da Região da Uva e do Vinho para a Região das Hortênsias. Confira trechos:
"Uma abordagem técnica e clara sobre o assunto nos permite enxergar diversas vantagens na inserção de Caxias do Sul na Região das Hortênsias.
O Mapa do Turismo Brasileiro é a forma de organização do Ministério do Turismo (MTur) para garantir que os recursos cheguem aos municípios que são impactados pelo turismo.
Ele agrupa os municípios por regiões e reúne os que estão mais próximos e que tenham características similares ou complementares.
Atendendo aos critérios do MTur quanto à constituição das regiões turísticas, Caxias do Sul faz limite com quatro dos cinco municípios da Região das Hortênsias. Se compararmos com a Uva e Vinho, Caxias faz limite apenas com três dos 29 municípios integrantes daquela região.
Além da relação geográfica, a similaridade entre os municípios vem desde a formação dos territórios, ligado ao passado tropeiro; posteriormente, pela colonização por imigrantes italianos e alemães; e, na atualidade, pela cultura do empreendedorismo e da hospitalidade.
Não há dúvida da vocação turística de Caxias podendo-se tornar no futuro o grande centro regional desse segmento.
É importante ressaltar que em momento algum se falou em acabar com as iniciativas já existentes relacionadas à uva e ao vinho. Pelo contrário, o ideal é unir esforços e somar àquelas iniciativas ainda pouco exploradas na região.
A iniciativa com as partes, a construção e o diálogo com a Região das Hortênsias já foi feito há muitos meses e se consolidou neste importante passo que foi o encaminhamento da solicitação ao Ministério do Turismo. Essa é uma decisão amadurecida e consolidada."
Falta só o Ministério do Turismo
Embora o processo de inclusão dos municípios a regiões turísticas preveja também trâmite na Sedetur e conclusão no Ministério do Turismo, a principal articulação se dá entre os municípios e as governanças das regiões turísticas, segundo informa o diretor da Sedetur, Marcelo Borella:
— As instâncias de governança são entidades privadas e têm autonomia total para atuar da forma que entenderem melhor. O Estado não tem gerência nenhuma sobre escolha ou decisão. A instância de governança das Hortênsias, dando ok, e o município tendo solicitado, isso é feito.
Borella confirmou o recebimento da solicitação do município pela inclusão na Região das Hortênsias. Ele explica que a pasta estadual apenas intermedia o recebimento da documentação e encaminha para análise do governo federal, que se atém à avaliação técnica da solicitação.
— A concordância não precisa ser de secretarias, mas das entidades representativas que integram a governança (da região turística), basta a cidade estar nos parâmetros (definidos pelo Ministério) e ter concordância da governança. O ministério analisa tecnicamente o pedido, nada de mérito — ressalta.
O Pioneiro encaminhou perguntas ao Ministério do Turismo, mas a pasta não havia respondido os questionamentos até o final da tarde desta terça-feira (9). No entanto, a assessoria de comunicação confirmou que cabe ao governo federal conceder o aval para inclusão e que a validade técnica já é conferida na mera sequência do Governo do Estado ao Ministério do Turismo.