Não é preciso gerir uma empresa para participar do sucesso que ela obtém. Ao menos é isso que comprova o escritor indiano Ram Charan, que, como consultor, colaborou para o impulsionamento de companhias como Bank of America, Ford, Coca-Cola e 3M.
Com 16 livros publicados e mais de 2 milhões de cópias vendidas, Charan é ainda referência para empresários e executivos no mundo todo. Aos 80 anos de idade, sendo 50 dedicados a estudos de gestão e liderança, ele renova a cada dia suas percepções acerca de modelos de gestão e da economia global, até porque, como ele mesmo atesta, “as mudanças estão cada vez mais rápidas”.
Na última semana, Charan esteve em Caxias, onde palestrou para mais de 450 pessoas no auditório do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG). Durante a apresentação, o indiano ressaltou a necessidade de empresas tradicionais se adaptarem a novos conceitos de negócio, os quais, segundo ele, respondem a exigências do consumidor.
– As pessoas procuram cada vez mais serviços convenientes: eu quero o que eu quero, a hora que eu quero e o quanto eu quero isso, pagarei por isso. É essa a liberdade que o consumidor busca – afirma.
Antes de sua apresentação em Caxias, Ram Charan concedeu entrevista exclusiva ao Pioneiro. Confira trechos:
Pioneiro: Qual principal abordagem de suas palestras?
Ram Charan: O principal tópico é tratar da inovação. Se você não inova, você morre. Porque na era da internet, na era digital, a maioria das ideias se tornam commodities. Então, a inovação tem de ser continuada, e não de vez em quando, tem de ter foco no consumidor, e tem de ser ágil. E, o empreendedor tem de fazer diversos experimentos e que não custem tanto.
Há quanto tempo o senhor estuda liderança e gestão?
Há 50 anos.
E como os modelos de gestão mudaram nesse período?
Muitas coisas não mudaram. Líderes estão por aqui há milhares de anos, começando por Jesus Cristo, ele foi um líder. Existem líderes religiosos, militares, políticos e empresariais, e muitas das características são as mesmas. Por exemplo, um líder é um grande comunicador para inspirar as pessoas a fazer o que pensam que não podem fazer. É comum entre líderes a capacidade de criar uma visão para que as pessoas possam entender seu ponto de vista e lhe apoiarem.
Mas algo mudou?
O que mudou foi a velocidade das mudanças, que estão muito rápidas e exigem volatilidade e audácia para que os líderes tomem decisões rápidas e certeiras. Eles têm de projetar retornos em prazos longos, mas pensar em curtos períodos de tempo. Os líderes também precisam achar os talentos certos, que tenham habilidade de lidar com a era da internet.
Então, apesar de lidar com novos modelos de negócios e tecnologias, o perfil em si, não mudou tanto?
Não, em muitas aspectos não.
Deixe cinco dicas de gestão.
Primeiro, todos os gestores devem aprender sobre o consumidor. Muitos não faziam isso uma vez, mas é preciso hoje em dia, temos de observar o comportamento do consumidor, ficar obcecado com isso, e verificar o que podemos fazer para ele. É preciso sair do escritório. Dica dois: sempre buscar a inovação para o cliente. Dica três: decisões precisam ser ágeis e certeiras. Quatro: é preciso testar e falhar nos testes. Cinco: execute.
Falhar então é importante?
Sim, experimentações geram 89% de resultados falhos. Mas é preciso que sejam feitos testes curtos.
Há diferença em perfis de gestão em diferentes regiões e países do mundo?
Seres humanos são seres humanos. Cada sociedade tem seus grandes líderes e cada sociedade tem pessoas que não são bons gestores, mas somos condicionados pelo ambiente de países grandes. Os brasileiros têm aprendido a viver com sistema político totalmente diferente, em termos de ações, de países como Estados Unidos e China, por exemplo.