Estrela do inverno, o pinhão está chegando em menor quantidade na mesa dos gaúchos. A quebra na safra neste ano deve ficar entre 40% e 50% em relação a 2018, quando foram colhidas 800 toneladas da semente no Rio Grande do Sul. Em São Francisco de Paula, maior produtor de pinhão da Serra, devem ser colhidas apenas 60 toneladas, metade da safra do ano passado.
O motivo foi o frio fora de época em 2017 — diferente de outras culturas, a colheita do pinhão é bianual, já que a pinha leva dois anos para ficar pronta. Com o clima daquele ano desfavorável, muitas pinhas sequer se formaram. Houve as que produziram menos pinhões e as que ficaram vazias.
— O excesso de frio na saída do inverno para a primavera, na época da floração, acabou provocando problemas de fecundação e polinização. O pinheiro precisa do frio do inverno. Mas quando se dá a floração, já na primavera, não pode ter geada, por exemplo – explica a engenheira florestal e assistente técnica regional na área de manejo de recursos naturais da Emater Regional de Caxias do Sul, Adelaide Juvena Kegler Ramos.
Apesar da redução na quantidade de pinhões, a qualidade não foi afetada, garante Adelaide. A semente está boa, embora, em alguns casos, com tamanho menor. As pinhas estão com peso variando entre 1,5 e dois quilos. Para se ter ideia, no ano passado, chegavam a três quilos.
Com menos pinhão no mercado, o produto acabou ficando mais caro. O quilo in natura, que era vendido entre R$ 3,50 e R$ 5 pelos extrativistas no ano passado, agora está entre R$ 5 e R$ 9. Nos supermercados e fruteiras da região, subiu da faixa de R$ 5,80 a R$ 9 praticada em 2018 para R$ 8,90 a 14,90 o quilo. O pinhão moído, usado na tradicional paçoca, tem preço médio de R$ 22 o quilo.
O valor elevado já causa reflexos. Alguns estabelecimentos estão deixando de produzir pratos que têm o pinhão como base. Em um restaurante tradicional do centro de São Francisco de Paula, a paçoca e o enroladinho de pinhão, itens consagrados do cardápio, estavam em falta na última semana. Os 75 quilos comprados no início da temporada já saíram.
— Está muito caro. No ano passado, tinha para dar e vender. Agora, tem pouco e muitos estão estragados — conta Jennifer Andreatta, funcionária do restaurante.
Saiba mais:
> Colheita, transporte e venda de pinhão foram liberados em 15 de abril.
> A safra do pinhão vai até junho, porém, devido à maturação das pinhas se dar em épocas diferentes, é possível colher a semente até meados de setembro.
> O peso das pinhas neste ano varia entre 1,5 e dois quilos.
> A queda na produção se deve, em especial, ao excesso de frio na florada da safra, o que afetou a fecundação e a polinização.
> A colheita do pinhão é feita manualmente: através da coleta das sementes diretamente no solo, quando os pinhões caem naturalmente com a maturação das pinhas, ou pela derrubada das pinhas.
> A venda é praticamente toda informal, feita diretamente pelos extrativistas: na beira da estrada, em mercados, restaurantes, de casa em casa.
> A maior parte da produção ainda é comercializada por meio de intermediários, que levam o produto para centros maiores como Ceasa Porto Alegre e Caxias do Sul.
> A maior parte do pinhão é vendida in natura, mas ele também é comercializado cozido na estrada ou processado.
Quanto custa:
> De R$ 5 a R$ 9 o quilo (extrativista/produtor).
> R$ 6,80 o quilo no Ceasa Serra.
> De R$ 8,90 a 14,90 o quilo em supermercados e fruteiras da região.
> R$ 22 o quilo do pinhão moído.