Das propriedades de 30 famílias de agricultores do interior de Caxias do Sul saíram as frutas que adoçarão o paladar dos milhares de visitantes que passarem pela Festa Nacional da Uva entre 22 de fevereiro e 10 de março. Ao longo do evento, serão distribuídas aos turistas 150 toneladas das variedades niágara branca, niágara rosa e isabel. Cada pessoa receberá na entrada da festa um cacho para degustar enquanto percorre as atrações no Parque Mário Bernardino Ramos.
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Os produtores que entregaram as uvas para a organização da Festa da Uva receberão valores semelhantes aos praticados no mercado. Para as variedades de niágara, serão desembolsados R$ 2 pelo quilo. Enquanto na isabel, o valor do quilo é de R$ 1,70. No total, os fruticultores receberão quase R$ 300 mil pelas frutas. Entretanto, o agricultor Ademir Zanrosso destaca que o principal motivo que o leva a vender parte da safra para o evento não é financeiro.
– A gente trabalha o ano todo voltado à produção. Então, é uma alegria que o turista que vem a Caxias saboreie a nossa uva. É muito gratificante – aponta.
Na semana anterior ao início da festividade, Zanrosso dedicou alguns dias exclusivamente para colher a uva. Para isso, contou com o auxílio de safristas, da esposa e da mãe. Aos 82 anos, Aurora Zanrosso, a matriarca da família, trabalha diariamente debaixo das parreiras. E não pensa em aposentadoria.
– Trabalho na colônia desde sempre. E gosto muito de fazer a colheita – argumenta Aurora.
Com cultivo em sete hectares na comunidade Linha 40, Ademir Zanrosso entregou aproximadamente 10 toneladas, entre niágara branca e niágara rosa, para esta edição da festa. Ao todo, sua safra deve chegar a 150 toneladas. O aumento no número de visitantes em Caxias nos próximos dias deve também alavancar as vendas da família. Isso porque os Zanrosso colocaram bancas nas praças Dante Alighieri e da Bandeira para comercializar a fruta in natura direto ao consumidor.
O agricultor José Laurindo Scotel, proprietário de 11 hectares no distrito de Vila Seca, é outro fornecedor habitual da festa. Nesta ocasião, entregou seis toneladas de niágara rosa e deve fornecer outras duas toneladas de isabel já durante o evento.
– Já fazem seis edições que entrego a uva para a festa. Para nós, produtores, é muito interessante vender para a organização. O evento é muito importante para nós – diz.
Ao todo, Scotel vai colher 300 toneladas, sendo a maioria bordô e isabel. O agricultor negocia a fruta in natura para mercados e também para vinícolas da Serra e de Santa Catarina.
Menos produtores neste ano
A seleção dos fornecedores para o evento foi realizada no final de janeiro, através de uma chamada pública. Todos os que manifestaram interesse em comercializar para a Festa da Uva foram contemplados.
– Nem todos tinham as três variedades de uva. Cada produtor vai fornecer, pelo menos, três toneladas – calcula José Taiarol, engenheiro agrônomo da Secretaria da Agricultura de Caxias e um dos responsáveis por coordenar a compra de uvas.
Ainda assim, o número de agricultores que cederão as uvas para o evento é menor do que o verificado na última edição, realizada em 2016. Naquela ocasião, mais de 40 agricultores participaram. Uma justificativa para a queda na oferta de frutas é o excesso de umidade e a falta de sol ocorrida durante um período de janeiro, o que prejudicou a colheita em pontos como Vila Cristina e Quarta Légua.
Tradição que passa por gerações
Muitas das famílias que vão disponibilizar cachos de uvas neste ano já são fornecedoras de longa data da festa. No caso dos Tonietto, produtores em São Luiz da Terceira Légua, a tradição de vender a fruta para a organização está na segunda geração. Começou com Gladimir e Rose Tonietto, há duas décadas, e hoje segue com o filho Lucas Tonietto, que negociou 10 toneladas de niágara branca e niágara rosada nesta edição.
– Começamos a vender para a Festa da Uva para ter uma renda extra – lembra Gladimir.
– E também para colaborar com a nossa festa – reforça Rose.
A fruta destinada ao evento recebe uma série de cuidados especiais até chegar ao parque. Os mínimos cuidados no manejo são importantes para que ela que aguce o paladar e esteja bela aos olhos dos visitantes.
– O ideal para a festa é um cacho de porte médio, sadio e sem grãos estragados ou rachados. Por isso, tem de ter cuidado ao manusear a uva na colheita. Ela ainda tem de ser colhida em dias de sol. Se for retirada depois de uma chuva, quando chegar à câmara fria poderá estragar – explica Lucas.
A produção para o evento representa menos de 10% do total a ser colhido nesta safra, que chegará a 150 toneladas. Além da venda da fruta para mercados e para a produção de sucos, a família também atua no turismo rural. Os Tonietto possuem uma cantina e realizam roteiro que conta a história da colonização italiana na Serra, incluindo almoço e visita aos parreirais. A atividade paralela agrega em pelo menos 50% a renda mensal dos produtores.
Durante a Festa da Uva, os Tonietto receberão mais de 40 ônibus de excursões vindas de lugares como Minas Gerais, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. Ao todo, devem passar 2,5 mil pessoas pela propriedade durante a Festa da Uva, quase o dobro do volume de visitantes na edição anterior do evento. Em 2016, cerca de 1,5 mil turistas estiveram no local.