O aumento na fabricação de produtos à base de uvas moscatéis começa, aos poucos, a impactar também a demanda pela matéria-prima. Algumas vinícolas passaram a estimular o plantio destas variedades, pensando na sustentabilidade do mercado a longo prazo. Dentro das empresas, há a convicção de que o crescimento deste nicho deve seguir acelerado nos próximos anos.
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Um dos casos mais emblemáticos neste sentido é o da cooperativa Garibaldi. Em 2013, a empresa tinha 18 associados com plantio de uvas moscatéis. Agora, já são mais de 70 famílias que entregam frutas dessas variedades para a cantina. Em cinco anos, a área plantada foi quintuplicada, passando de 10 para 50 hectares.
- Estamos há dois anos fazendo um trabalho voltado à produção de uvas brancas para espumantes. Nosso plano é continuar crescendo e as uvas moscatéis estão entre as variedades que são incentivadas entre os associados – aponta Oscar Ló, presidente da Garibaldi.
No ano passado, os moscatéis representaram 38% da produção de espumantes da Garibaldi. Foram engarrafados aproximadamente 850 mil litros da bebida e a tendência é de que esse volume aumente nas próximas safras. A venda de rótulos do gênero rendeu R$ 15 milhões à empresa, representando 10% de todo o faturamento da cooperativa em 2018.
A cooperativa São João, de Farroupilha, também tem investido no mercado de moscatéis. E o foco não se restringe ao líquido borbulhante, já que a empresa produz vinhos finos desta variedade. A produção total chegou a 1 milhão de litros em 2018, entre as duas bebidas. A meta é dobrar a produção até 2021, priorizando os espumantes.
- Começamos a produzir espumante moscatel em 2005 com 6 mil garrafas. Agora já estamos em 350 mil garrafas por ano. Temos boas expectativas para o mercado. A uva moscato era mais destinada ao vinho, mas estamos transferindo uma parte para o espumante – diz Ismar Pasini, diretor da São João.
Associado da cooperativa, o produtor Fernando Colussi se preparou para incrementar a produção de moscato branco em sua propriedade na Vila Jansen, no interior de Farroupilha. Hoje, possui 2,5 hectares da variedade, sendo que 1 hectare foi plantado no ano passado e produzirá pela primeira vez nesta safra. Colussi diz que investiu em função da necessidade do mercado, esperando pela valorização da fruta. Ainda assim, o agricultor aponta que este tipo de uva exige cuidados especiais.
- É uma uva que requer mais atenção do que outras variedades. Ela apodrece e pega doenças com facilidade. Mas tendo qualidade é uma uva que tem seu valor no mercado – argumenta.
A família Colussi deve colher aproximadamente 60 toneladas de moscato branco neste ano. Ao todo, a propriedade possui 6,5 hectares e inclui outras variedades para suco e vinho, como carmem, magna e isabel.
Renda maior nas propriedades familiares
Três anos atrás, a falta de sucessores quase colocou fim ao plantio de uva na propriedade da família Borsati localizada na Linha Ely, no interior de Farroupilha. A retirada dos parreirais só não ocorreu porque, na ocasião, Cléber Borsati decidiu deixar seu emprego em um frigorífico para dar continuidade ao cultivo das variedades bordô e moscato branco iniciado por seu sogro, que havia falecido.
Hoje, Cléber comemora a decisão de ter optado pela agricultura, já que a valorização das frutas moscatéis nas últimas temporadas garantiu incremento na renda da família. O preço pago pelas uvas moscatéis oscila entre R$ 1,50 e R$ 2,50 o quilo, dependendo da variedade e da qualidade da fruta.
- A moscato é uma uva com rendimento maior e mais valorizada no preço. Ganhamos 20% a mais no quilo do que com a bordô - destaca.
No momento, a família tem um hectare de moscato branco e deve colher em torno de 20 toneladas nesta safra. A produção poderia chegar a 30 toneladas, caso o granizo não tivesse atingido parte da área em outubro passado. Mesmo assim, Cléber decidiu expandir a área plantada em mais 0,4 hectare. Na safra de 2020, ele pretende aumentar novamente o cultivo da variedade, totalizando cerca de 2 hectares da fruta.
Cléber Borsati justifica o investimento em função da demanda crescente vinda da cooperativa Garibaldi, para a qual entrega a fruta. Ele trabalha ao lado da esposa e da sogra na atividade rural e garante que, enquanto os três conseguirem dar conta da colheita, a área plantada deve seguir aumentando.
- Se mantivermos a qualidade, vamos ir adiante. Até porque o setor dos espumantes deverá seguir bem – analisa.