Por trás de uma bancada coberta de vegetais miniprocessados, a estudante de fisioterapia Luana Lipreri, 21 anos, atrai os clientes pela simpatia e bom humor. Ela é uma dos mais de 100 comerciantes que vendem seus produtos no Ponto da Safra, que acontece todas as sextas-feiras na Praça Dante Alighieri, em Caxias do Sul. A menos de 10 quadras dali, na Praça das Feiras, a banca de morangos de Juliano Alex Saraiva, 28, é uma das mais concorridas. Ele abre um sorriso de satisfação quando os belos morangos atraem uma pequena multidão, que esvazia as caixas em menos de 15 minutos. Saraiva faz parte do grupo de 160 produtores do município que fazem a Feira do Agricultor, às terças-feiras, na Praça da Feiras.
As duas feiras acontecem simultaneamente em vários bairros de Caxias do Sul e movimentam cerca de R$ 40 milhões por ano, segundo a Secretaria Municipal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Smapa).
Sustento
São a base de sustento de pelos menos 650 famílias caxienses. Pelos pontos de vendas passam cerca de 150 mil consumidores por mês. O diretor técnico e executivo da Smapa, Ramon Sirtoli, aponta um crescimento de 25% no movimento em 2018. Os feirantes concordam. Com a mudança do Ponto da Safra para a Praça Dante, por exemplo, os negócios aumentaram em mais de 30%.
– Melhorou 100% – comemora o feirante Uerli Vicenzi.
Para Sirtoli, o maior ganho está no valor agregado e no comércio sustentável. Frutas, verduras, pães, cucas, queijos e mel chegam ao consumidor diretamente das lavouras. Os próprios produtores comercializam seus produtos, sem atravessadores. Por conta disso, os preços são mais acessíveis e a economia pode chegar a 40%.
– E o dinheiro circula dentro do município – observa Sirtoli.
O diretor da Smapa garante que os comerciantes estão em constante aprendizado. A secretaria oferece cursos de boas práticas, que visam à produção e ao atendimento com mais qualidade.
– Eles precisam ter expertise no negócio. Com isso, ganham os feirantes e os consumidores – aponta Sirtoli.
“O segredo está na variedade”
A família de Fernando Seefeld, 37, também vive das feiras. Participa das duas, nas terças (Feira do Agricultor) e sextas (Ponto da Safra). Segundo ele, o segredo para faturar mais está na variedade de produtos.
– É preciso oferecer várias opções.
E ele deixa um recado:
– Ganham o produtor e o consumidor. Além tudo fresquinho, o preço é 30% menor do que nas fruteiras e supermercados. Vale súper a pena. E dá para ser feliz – avalia, lembrando que as feiras garantem o sustento da família com três pessoas.
Morango custa até R$ 10 menos
O jovem Juliano Alex Saraiva começou a produzir morangos em Fazenda Souza há três anos. Saiu de uma empresa onde atuava na área de TI e ingressou no ramo da agricultura. Não se arrependeu. Cultiva 12 mil pés que produzem, em média, 400 quilos por semana. Bruto, o rendimento chega a R$ 5 mil por semana na Praça das Feiras.
– Além disso, sou meu próprio patrão!
Sem atravessadores, em um quilo de morangos, por exemplo, é possível economizar até R$ 10. Enquanto nos supermercados o valor da caixa com 300 gramas custa, em média, R$ 5, na banca do produtor Saraiva a mesma quantidade sai por R$ 3,60 (uma economia de 38%). Com uma vantagem: o cliente escolhe suas próprias frutas para levar.
A venda a granel, segundo ele, é um atrativo.
No pacote, pronto para consumo
Tem produtores que inovam e agregam valor ao produto. Na banca de Luana Lipreri, na Praça Dante Alighieri, pacotes de legumes miniprocessados prometem facilitar o dia a dia dos consumidores mais apressados. São todos os tipos de legumes cortados e embalados a vácuo em pacotes que variam de 200 a 800 gramas, prontos para o consumo.
– A ideia veio de uma feira em São Paulo. Deu certo, tem uma ótima aceitação – diz a integrante da família Lipreri, que atua no Ponto da Safra há 16 anos.
As vendas em uma edição pode chegar a 1 mil pacotes, que custam R$ 3 cada. A arrecadação pode chegar a R$ 3 mil por feira e garante o sustento de oito pessoas da família Lipreri, que mora em São Gotardo, no interior de Caxias.
Do primeiro time de feirante
O produtor Sérgio Antônio Damin, 64, viu a Feira do Agricultor nascer há quase 40 anos. Ele integra o primeiro grupo de feirantes a vender seus produtos diretamente ao consumidor nos bairros.
– As coisas eram muito diferentes. A balança era com caixas de peso ou com barra de ferro. Os preços eram grampeados nas caixas. As contas eram feitas “de cabeça” – conta.
Agricultor de Santa Lúcia do Piaí, diz que, quando olha para as bancas na Praça das Feiras, vê um filme passando pela sua cabeça.
– É como se tivéssemos os olhos fechados e, de repente, tiramos a venda e entrou a luz. A balança, por exemplo, pesa, calcula... Está tudo mais fácil.
Damin comercializa tudo o que a família produz. Faturando entre R$ 500 e R$ 1 mil por edição, ele garante que dá para sustentar a família.
– Não se ganha muito, mas dá para sobreviver – diz.
O projeto, informa o agricultor, é fazer com que os filhos continuem o trabalho.
– Tá tudo encaminhado. Dá para viver bem na colônia. Basta querer!
1,2 mil sacolas por semana
Na banca de Rafael Scariot, no Ponto da Safra, o verde das verduras fresquinhas e o colorido das frutas tornam o local parada obrigatória. Com a troca de ponto (antes, a feira funcionava na Rua Bento Gonçalves), o negócio melhorou muito.
O agricultor de São Braz diz que toda a família trabalha em função da feira. Produz e vende entre 1,2 mil a 1,5 mil sacolas por semana.
– Dá para viver. Vale a pena – comemora.
Feira do Agricultor
- A Feira do Agricultor tem 160 produtores cadastrados.
- Movimenta cerca de R$ 30 milhões/ano.
- Ocorre em 34 pontos da cidade, cinco dias por semana (terça a sábado).
- Os feriados em que a feira do não ocorre são no Natal, Ano-Novo e na Sexta-feira Santa. Este ano, devido a esses feriados, a feira acontece nas segundas (24 e 31/12).
- São duas categorias de feirantes: os produtores (maioria) e os comerciantes.
- Os produtores oferecem frutas e legumes da região e da época de maior demanda. Já os comerciantes (apenas revendem) oferecem produtos fora da época de safra ou que não estejam sendo produzidos em Caxias, como é o caso da banana.
Ponto de safra
-Integram o Ponto da Safra, 68 associações, que somam cerca de 500 agricultores. Todos são produtores de Caxias, exceto a banca de bananas (não são produzidas em Caxias).
- São vendidas, em média, 35 mil sacolas (R$ 2) por sexta-feira (nos três pontos).
- Movimenta cerca de R$ 10 milhões/ano.
- Os hortifrutigranjeiros são vendidos em porções pré-definidas e a um preço fixo. Cada sacola custa R$ 2, sendo que o peso de cada uma varia toda a semana, de acordo com a cotação de preços divulgada pela Ceasa Serra.
- A feira ocorre às sextas-feiras em três pontos (simultaneamente) da cidade. Outro objetivo é fomentar a produção local, sendo que quase todas as associações de produtores participantes são de Caxias do Sul. A única exceção é dos vendedores de banana, fruta que não têm produção local.