Na propriedade da família Dani, interior de Caxias do Sul, o ritmo já é frenético. O carretão, que até algumas semanas estava estacionado no galpão, voltou a percorrer as trilhas entre a mata e chegar aos parreirais para buscar caixas e mais caixas de uva. É o começo de uma safra que promete movimentar vinícolas, feiras e mercados da Serra, com a colheita de pelo menos 550 mil toneladas da fruta.
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Nas encostas dos morros da localidade de Caravaggio da Terceira Légua, os parreirais começam a ganhar cor. A primeira variedade a apresentar seu aroma e sabor é a Vênus, uma uva de mesa sem sementes, com paladar suave, adocicado e acidez destacada. Na família Dani, a variedade precoce ocupa cerca de meio hectare de área e vai render pelo menos 5 mil quilos. Na Serra, a previsão é colher mais de uma tonelada dessa variedade.
— É o nosso Papai Noel — comemora a matriarca da família, Neusa Dani, 60 anos.
Nessa época, o preço da fruta é valorizado, pois a oferta no mercado ainda é reduzida. Para o dono da propriedade, Serafini Dani, 56, o melhor preço da safra é pago antes do final do ano.
— No forte da colheita, quando há muita oferta, o valor cai — alerta.
Toda a uva colhida vai para a Ceasa de Porto Alegre e ele recebe até R$ 4 o quilo. Nos mercados de Caxias, a Vênus é vendida a R$ 8 o quilo. A próxima a chegar é a Niágara rosada e branca, mais adocicada e com menos acidez. Essa variedade ocupa um hectare de terra nas lavouras da família Dani e a produção deve passar das 10 toneladas. O preço, no entanto, deve cair, pois a Serra pretende colher cerca de 60 toneladas deste tipo de fruta.
Uma vindimeira de mão cheia
Ana Júlia Dani é uma jovem de 18 anos e mora com a família no interior de Caxias. Quando o assunto é negociar e empreender parece ter a experiência de uma mulher de 40. Por trás da beleza e da meiguice de menina, revela uma personalidade forte, decidida e disposta a investir para manter o legado da família.
Ana Júlia herdou dos avós e dos pais o gosto pela terra. É uma forte candidata no combate ao êxodo rural e dos programas de permanência dos jovens no campo. Aluna da Escola Agrícola da Serra Gaúcha (Efaserra), ela divide seu tempo entre as aulas de teoria e prática. Uma semana ela mora na escola e, na outra, vai para casa botar a mão na massa e tentar colocar em prática o que aprendeu.
— Gosto do cheiro da terra, da uva, do pêssego — destaca.
A labuta diária não a assusta. Pega no batente lado ao lado, junto com os pais. Em época de vindima, acorda cedo, vai para debaixo dos parreirais, colhe e carrega as caixas de uva até o carretão. Nas horas De folga, faz sucos, geleias, colhe mel, faz compotas.
— Ela tem muita vontade de manter os negócios da família — orgulha-se o pai.
A mãe, Neusa, um pouco mais reticente alerta:
— É um trabalho pesado. Precisa encontrar alguém (um namorado) que goste deste trabalho e que também queira empreender.
Ana também tem a natureza a seu favor. Localizada em um dos mais belos cenários do interior de Caxias, a propriedade dos Dani tem todos os elementos para se tornar uma forte atração turística na Serra.
SAIBA MAIS
* A safra 2019 deve render 550 mil toneladas de uva no RS. Na safra passada foram 663 mil toneladas.
* A chuva de granizo no final de outubro destruiu cerca de 20% da produção em 14 municípios da região.
* Caxias do Sul é o quarto maior produtor do Estado. A previsão é de colher 500 toneladas. Quem mais produz é Flores da Cunha, com cerca de 100 mil toneladas.
* O Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou o preço mínimo do quilo da uva industrial em R$ 1,03. O valor ainda não foi publicado no Diário Oficial.
* São cultivadas 113 variedades da fruta em 129 municípios gaúchos.